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Atualidades XXIV (2017) – Questões africanas

(TEXTO 1 – SITE DO G1, 21 DE FEVEREIRO DE 2017)

Sudão do Sul: como o país mais novo do mundo mergulhou num caos de guerra e fome

País declarou situação de fome em algumas áreas esta semana; Unicef estima que haja 270 mil crianças desnutridas. Independência foi conseguida em 2011 e, desde 2013, há uma guerra civil em curso.

 

O alerta, nesta segunda-feira (21), do governo local e de órgãos da ONU de que em partes do Sudão do Sul há milhares de pessoas pessoas passando fome, e que essa situação pode se estender a quase metade da população do país até julho, mais uma vez joga os holofotes da comunidade internacional sobre a nação mais jovem do mundo.

Independente desde 2011, com uma guerra civil iniciada em 2013, o país de 12,5 milhões de habitantes tem uma das piores situações humanitárias do mundo.

Situação humanitária desastrosa

Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram do país em busca de proteção desde que começou o conflito armado.

O Sudão do Sul se transformou “na maior crise de refugiados da África” e “na terceira do mundo” após as de Síria e Afeganistão, segundo a Acnur, que lembrou que, adicionalmente, 2,1 milhões de pessoas estão deslocadas dentro do país.

O Unicef, por sua vez, calcula que 270 mil crianças sul-sudanesas estão gravemente desnutridas.

Atrocidades 

Um informe confidencial da ONU vazado este mês dá conta de que a guerra alcançou “proporções catastróficas para os civis” e que as milícias podem se tornar incontroláveis e alimentar os combates por vários anos.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, escreve nesse informe que os civis fogem das cidades e aldeias “em um número recorde” e que o risco de que se cometam atrocidades em massa “é real”.

“Nossas visitas ao Sudão do Sul sugerem que está sendo levado a cabo no país um processo de limpeza étnica em várias regiões por meio do uso da fome, dos estupros coletivos e de incêndios”, disse, no fim do ano passado, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da ONU para o país, Yasmin Sooka.

Atrocidades como o assassinato de crianças, castrações, estupros e degolas são alguns exemplos do que ocorre na região.

[….]

Independência recente 

O Sudão do Sul conquistou sua independência em relação ao Sudão em julho de 2011, depois que um referendo realizado em janeiro daquele ano aprovou a separação com 98,83% dos votos a favor. O referendo estava previsto em um acordo de paz de 2005 que encerrou décadas de guerra civil.

As diferenças étnicas e religiosas do que então era apenas um país foram o principal ponto de conflito entre os dois lados. A população do sul (hoje o Sudão do Sul), formada por diversos grupos étnicos de maioria cristã ou animista, se sentia discriminada pelo governo centralizado em Cartum (no Sudão), de maioria muçulmana, e que tentava impor a lei islâmica na região.

O governo de Cartum foi o primeiro a reconhecer a nova nação, num sinal de secessão tranquila.

Confronto de facções 

Mas a aparente tranquilidade não durou. A guerra interna no Sudão do Sul começou em dezembro de 2013, com combates entre duas facções do exército, dividido pela rivalidade entre o presidente Salva Kiir e seu ex-vice Riek Machar. Diferentes milícias se uniram a cada um dos lados, com confrontos marcados por massacres de caráter étnico.

O confronto teve início quando Kiir destituiu Machar, acusando-o de tramar um golpe de Estado. Os dois políticos pertenciam ao mesmo partido — o Exército de Libertação do Povo Sudanês.

[….]

A disputa política somou-se à tensão étnica. O grupo dos dinka, ao qual pertence Salva Kiir, e que representa cerca de 15% da população do país, se opôs ao grupo dos nuer, do qual faz parte Machar e que equivale a cerca de 10% dos habitantes.

Economia em frangalhos 

O fator econômico também é importante para entender o caos no país africano. Há uma inflação anual de 800%. Há um ano, US$ 1 valia cerca de 3 libras sudanesas. Atualmente, a proporção é de 1 para cerca de 120.

A economia no país piorou muito desde 2012, quando o governo decidiu fechar a produção de petróleo — até então a commodity correspondia a 98% da receita pública do país — após discordâncias com o Sudão, que tinha toda a infraestrutura para a sua comercialização, como oleodutos, refinarias e portos do Mar Vermelho. A maior parte do país vive em uma economia de subsistência.

Em 2015, as facções fizeram um acordo de paz que previa a volta de Machar ao governo, como vice de Kiir. Três meses depois, contudo, Machar foi novamente expulso do governo e o conflito foi retomado, em julho de 2016.

 

Questão 1

Levando em consideração as informações e análises da reportagem acima (texto1), é INCORRETO afirmar:

a) O Sudão do Sul vive uma situação humanitária desastrosa por conta da “limpeza étnica” instrumentalizada por meio dos estupros, da fome e dos incêndios coletivos.

b) Caso emblemático de nacionalismo separatista do século XXI, o Sudão do Sul torna-se independente do Sudão em 2011 por conta de um referendo no qual mais de 98% da população meridional votaram a favor da separação.

c) Confirmando a situação humanitária desastrosa, a guerra civil no Sudão do Sul já obrigou 1,5 milhão de pessoas a deixarem o país, deslocou internamente cerca de 2,1 milhões de pessoas e deixou cerca de 270 mil crianças desnutridas.

d) A catástrofe humanitária no jovem país também se deve a razões econômicas. Isso porque, no Sudão do Sul, a inflação chega a 800% ao ano e a exploração do petróleo (principal produto da nação) vem sendo cortada por conta do boicote promovido pelo país do norte (detentor da infraestrutura necessária para o refinamento, escoamento e comercialização da commodity).

e) Não obstante uma secessão pacífica, o Sudão do Sul logo enfrentou uma instabilidade política na qual o presidente – de etnia nuer – acusou o vice – de etnia dinka – de promover um golpe de Estado. As rivalidades políticas resvalaram em um conflito étnico que até agora não se resolveu.

 

 

(TEXTO 2 – FOLHA DE SAO PAULO, 10 DE OUTUBRO DE 2017)

Liberianos votam para escolher sucessor de Ellen Johnson Sirleaf 

Mais de dois milhões de liberianos comparecem às urnas nesta terça-feira (10) para escolher o sucessor de Ellen Johnson Sirleaf, primeira mulher eleita chefe de Estado na África, em uma eleição que deve consolidar a democracia em um país ainda atormentado pela guerra civil.

Além do novo presidente –o primeiro em 70 anos que sucederá pacificamente outro também eleito–, os liberianos também votam para renovar a Câmara dos Representantes.

Os locais de votação permanecerão abertos das 5h às 15h no horário de Brasília e os primeiros resultados devem ser divulgados em um prazo de 48 horas, segundo a Comissão Eleitoral.

Se um candidato não conquistar a maioria absoluta dos votos no primeiro turno, os dois primeiros colocados disputarão o segundo turno presidencial.

[…]

Vinte candidatos disputam a presidência.

Após dois mandatos consecutivos, Sirleaf, de 78 anos e premiada com o Nobel da Paz em 2011, não pode disputar a presidência novamente.

Em um discurso na segunda-feira, Sirleaf citou “um dia histórico para nossa nação e a consolidação da jovem democracia liberiana”.

 

Ela pediu aos compatriotas que observem o “caminho percorrido”, que permitiu passar de uma “sociedade destruída pela guerra a uma das democracias mais vivas da África ocidental”, em referência às violentas guerras civis que abalaram o país entre 1989 e 2003, com um balanço de 250.000 mortos.

Independente do vencedor, as eleições representam um “teste crucial para o processo democrático na Libéria”, afirmou Maria Arena, líder da missão de observadores da União Europeia.

“Uma transição pacífica de um presidente eleito para outro não é importante apenas para a Libéria, mas também um exemplo para a região”, disse.

 

(TIRA DE LAERTE, 15 DE ABRIL DE 2003)

Questão 2

Relacione as informações do texto 2 com o conteúdo da tira de Laerte e assinale a alternativa correta.

a) As eleições da Libéria corroboram a presunção do branco ocidental da tira, uma vez que, assim como em outros países da África, na Libéria, a guerra civil é um empecilho intransponível no caminho para a democracia.

b) Assim como o texto, a tira também se refere aos conflitos étnicos que grassam em todo o continente africano.

c) Assim como a tira, o texto sugere a ideia segundo a qual os povos da África são capazes de assimilar e colocar em prática os princípios democráticos predominantes em outras partes do mundo.

d) A tira faz alusão a um processo tipicamente democrático, enquanto que o texto se refere à perpetuação autoritária de um mesmo líder no poder.

e) O conteúdo crítico da tira tem como objetivo disseminar o sentimento etnocêntrico ocidental; o texto, por sua vez, reforça a ideia segundo a qual a democracia é viável no continente africano.

 

 

(TEXTO 3 – REPORTAGEM DA FOLHA DE SAO PAULO, DIA 15 DE OUTUBRO DE 2017)

Atentado duplo com caminhão-bomba mata mais de 230 na Somália

Pelo menos 231 pessoas morreram após a explosão de dois caminhões-bomba, no sábado (14), em uma área movimentada de Mogadício, capital da Somália.

Os ataques, separados por um intervalo de algumas horas, deixaram também ao menos 300 feridos e destruíram dezenas de prédios e de veículos.

[…]

O governo chamou o episódio de “desastre nacional”.

Nenhum grupo reivindicou o ataque, mas o governo somali apontou como culpados os rebeldes do Al-Shabaab, ligado à Al-Qaeda.

 

 

(TEXTO 4 – ANALISE PUBLICADA NA FOLHA DE SAO PAULO, DIA 15 DE OUTUBRO DE 2017)

Ataque mostra que estabilidade na Somália era ilusória

 

Quando o presidente Mohamed Abdullahi Mohamed foi eleito em fevereiro deste ano, parecia que finalmente a Somália poderia deixar de ser um “Estado fracassado”.

O país passara 20 anos sem um governo funcional e grande parte do território estava em guerra. Mohamed —conhecido pelo apelido Farmaajo, derivado da palavra queijo em italiano, formaggio— era um candidato popular e aparentemente menos corrupto.

Diferentemente do que ocorreu em outras eleições, em fevereiro não houve nenhuma grande manifestação —ou atentado— da facção terrorista Al Shabaab em represália ao pleito.

Esperançosos, muitos exilados somalis começaram a voltar para o país.

O governo do Quênia se aproveitou da onda de otimismo para acelerar a repatriação de refugiados somalis vivendo em Dadaab, um dos maiores campos de refugiados do mundo, com 240 mil pessoas.

Segundo o governo queniano, a Somália estava se tornando um país estável e podia agora receber de volta seus cidadãos – apesar da seca que mais uma vez ameaçava espalhar a fome no país e dos protestos do alto comissariado da ONU para refugiados.

Por causa da seca, 700 mil pessoas tiveram de fugir de suas casas em busca de água e alimentos em 2017 (em 2011, 250 mil morreram de fome).

O atentado do sábado (14) —atribuído à Al Shabaab, embora a milícia ainda não tenha reivindicado a autoria— mostra que a estabilidade na Somália é ilusória.

Desde 2011, tropas da União Africana travam uma batalha contra os extremistas do Al Shabaab, com ajuda de ataques aéreos e de drones americanos.

O Al Shabaab surgiu como um braço jovem do governo da União dos Tribunais Islâmicos, que controlava a capital Mogadício em 2006, antes de ser derrubado por tropas etíopes. O grupo passou a ser uma milícia independente e combater o governo somali e as tropas da União Africana.

Os extremistas também fazem atentados no Quênia —em 2015, na universidade de Garissa, deixaram 148 mortos.

Os extremistas vivem de cobrança de propinas de contrabando em caminhões.

Adeptos do wahhabismo, versão fundamentalista do Islã disseminada pelos sauditas, impõem a sharia, a lei radical islâmica, onde estão presentes. Mulheres adúlteras eram apedrejadas e acusados de roubo podiam ter as mãos cortadas. Originalmente, a maioria dos somalis seguia a vertente sufista do islamismo, mais liberal.

As tropas africanas, com apoio dos americanos, haviam conseguido enfraquecer a Al Shabaab no últimos anos. Em 2011, os extremistas controlavam 55% do território do país, e no final de 2016, estavam restritos a cerca de 10% do país. As milícias recuaram das grandes cidades e estavam confinadas na zona rural do país.

Mas, nos últimos meses, a facção voltou a ganhar terreno e conquistou várias cidades nos subúrbios de Mogadício, além de manter sua presença no sul e leste do país. O ataque de sábado, maior da história da Somália, demonstra que a Al Shabaab está longe de ser derrotada.

 

Questão 3

Do excerto de reportagem (texto 3) e da análise acima (texto 4), podemos concluir que:

a) Ao contrário de outros países africanos, a Somália vem vivendo, nas últimas décadas, uma situação de relativa estabilidade política e social. Isso porque, no país, nenhuma guerra civil provocou infortúnios à população entre os séculos XX e XXI.

b) O atentado do último dia 14 teve como causa principal a seca que, no país, fez com que 250 mil pessoas morressem e outras 700 mil tentassem fugir de suas comunidades.

c) Ao que tudo indica, o atentado do dia 14 foi perpetrado pelo grupo terrorista Al Shabaab, braço da Al-Qaeda e defensor da implantação da sharia, lei islâmica que, pelo menos em parte, é seguida em países como a Arábia Saudita.

d) As forças militares da União Africana e a eleição do início deste ano deram à Somália uma sensação de relativa paz e estabilidade. No entanto, os atentados do dia 14 mostraram a fragilidade do governo e das instituições somalis.

e) Letras c e d conjugadas.

 

 

 

 

 

 

 

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