(texto 1 –site Mundo Educação; http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/martin-luther-king.htm)
Martin Luther King e a luta pela igualdade
Principal liderança do movimento negro não violento, Martin Luther King foi a pessoa mais jovem a receber um prêmio Nobel da Paz, em razão da luta pela igualdade racial.
“Eu tenho um sonho: o de que, um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos senhores de escravos poderão se sentar juntos à mesa da fraternidade.”
Com esse famoso discurso, conhecido como I have a dream (Eu tenho um sonho), proferido na cidade de Washington D.C., Martin Luther King (1929-1968) marcou um dos principais momentos da luta contra a opressão racial nos EUA. Filho de um pastor batista, King seguiu os passos do pai, também se transformando em pastor – chegando ainda a se doutorar em teologia na Universidade de Boston, em 1955.
Em 1964, aos 35 anos de idade, tornou-se o mais jovem ganhador do prêmio Nobel da Paz em razão de sua luta contra a segregação e a opressão racial nos EUA. A forma de luta pregada por Martin Luther King era pacifista, inspirada nas ações de Gandhi: a desobediência civil.
Essa forma de luta social consiste no não cumprimento (realizado de forma pacífica) de leis e normas impostas à sociedade. No caso do movimento negro e de Luther King nos EUA, essa luta ocorreu principalmente com o boicote à segregação racial que existia nos ônibus do transporte coletivo no Alabama, na década de 1950. Brancos e negros não podiam usar os mesmos assentos dentro dos ônibus.
A pioneira na luta foi Rosa Parks, que passou a não aceitar essa segregação. Logo em seguida, Luther King aderiu ao movimento. O boicote no transporte coletivo durou 382 dias, período em que Luther King ficou preso, tendo sua casa como alvo de bombas e sendo submetido a abusos pessoais. O resultado foi a decisão da Suprema Corte dos EUA, em 1956, de que a segregação racial em locais públicos nos EUA era ilegal. Era uma vitória do movimento negro na conquista de direitos civis.
Essa proposta de ação, pautada na não-violência e na desobediência civil, contrastava com a de outros grupos da luta contra a opressão racial nos EUA, como os Panteras Negras e os muçulmanos negros liderados por Malcom X, que eram adeptos de ações de confrontos violentos contra o Estado.
Após o boicote de 382 dias, Martin Luther King tornou-se uma liderança nacional no movimento negro dos EUA. Em 1957, foi eleito presidente da Conferência dos Líderes Cristãos do Sul. Luther King aliava em sua prática política ideais cristãos de igualdade com a tática da desobediência civil e da não-violência de Gandhi.
Apoiou inúmeras greves e lutas estudantis entre 1957 e 1968. Chegou, nesse período, a rodar cerca de 6 milhões de milhas, proferindo inúmeros discursos. Foi preso mais de 20 vezes. Escreveu cinco livros e inúmeros artigos. As ações lideradas por Luther King resultaram ainda no direito de voto aos negros no Alabama. Protestos
massivos foram realizados no Alabama e em Washington, onde cerca de 250 mil pessoas se manifestaram pacificamente, quando Luther King proferiu seu famoso discurso.
Toda essa ação política possibilitou a divulgação dos negros por direitos civis nos EUA para todo o mundo, inspirando movimentos similares em outros países. Porém, Martin Luther King angariou inúmeros inimigos ao longo de sua vida, exemplo de como o racismo estava (e ainda está) enraizado na sociedade estadunidense.
Em 1968, durante o apoio a uma greve dos trabalhadores da limpeza pública na cidade de Memphis, no Tennessee, Martin Luther foi assassinado quando estava na sacada de um hotel. Apesar das vitórias alcançadas, o assassinato de Luther King demonstrou que havia ainda muito caminho a trilhar na luta pela igualdade social entre brancos e negros nos EUA e no mundo.
Questão 1
Leia com atenção as afirmações abaixo.
I- O movimento negro nos Estados Unidos caracterizou-se pela unanimidade em aceitar como única forma de ação a luta pacifista e não violenta pregada por Martin Luther King.
II- O movimento pela luta em favor dos direitos civis nos EUA teve como um de seus mais importantes expoentes a negra Rosa Parks, que se recusava a aceitar a segregação racial nos transportes públicos.
III- Manifestando uma posição ideológica exclusivamente identitária, Luther King se recusava a apoiar os movimentos sociais provenientes da classe trabalhadora e que não expressassem um discurso eminentemente racial.
IV- Seguindo o exemplo de Rosa Parks, Luther King liderou um movimento em favor dos direitos civis e, em sua mobilização, conseguiu acabar com a segregação racial em espaços públicos; depois, conquistou o direito de voto para os negros no estado do Alabama.
V- Utilizando a tática da desobediência civil, Luther King erradicou as desigualdades raciais nos Estados Unidos e, por causa disso, conquistou o Nobel da Paz em 1964.
VI- As táticas de luta encampadas por Luther King baseavam-se na noção de ação direta dos anarquistas e se aproximavam das propostas extremistas de grupos como os Panteras Negras e de seguidores de Malcom-X.
VII- Como o racismo continua intenso nos Estados Unidos, podemos afirmar que as lutas por direitos civis lideradas por Luther King foram inequivocamente um fracasso.
Assinale a alternativa que possui apenas afirmações corretas.
a) II e IV.
b) I, II e V.
c) II, IV e VII.
d) Todas.
e) IV, VI e VII.
(Texto 2 – Le monde diplomatique, abril de 2018)
O último combate de Martin Luther King
[…]
Os direitos civis jamais foram o horizonte dos negros norte-americanos, tampouco de King. O pastor queria que a igualdade fosse também social, que as riquezas fossem redistribuídas, que os negros não fossem mais cidadãos de segunda ordem, condenados ao desemprego, ao gueto, à perseguição policial, aos salários indignos, às escolas decadentes e – estas palavras não o amedrontavam – à exploração e ao imperialismo. Assim, sua ética de emancipação jamais se limitou à questão da igualdade racial. Embora os negros fossem os deserdados absolutos, os oprimidos por excelência e a vanguarda da revolução em marcha, todos os vulneráveis deveriam se libertar: brancos pobres, mulheres que dependiam da assistência social, índios espoliados, latino-americanos. Sua capacidade de participar da deliberação democrática, de conquistar o poder, permitiria estimar o valor do país.
Seu último combate foi, assim, uma “campanha dos pobres” que, na primavera de 1968, levou miseráveis de todos os estados e de todas as cores de pele para a capital com o objetivo de tentar conseguir uma revolução constitucional: a adoção de uma lei de direitos econômicos para os “desfavorecidos”, sua inscrição na lei de garantia do salário mínimo, a participação de comitês de pobres no processo legislativo, uma redistribuição maciça das riquezas e um plano sem precedentes de criação de empregos públicos e habitações sociais. […]
Em uma dialética sutil, ele propôs superar a oposição entre uma leitura estritamente “classista” da opressão (o postulado de que esta última desapareceria sob todas as suas formas com o fim do capitalismo) e uma abordagem identitária em que os grupos discriminados teriam cada um sua própria luta, pois exploração e discriminação não derivariam da mesma lógica. Para os participantes da “campanha dos pobres”, a super-representação dos negros e dos latinos nas armadilhas da exploração era patente e testemunhava um sistema de dominação que fazia muitas outras vítimas.
Nessa campanha da primavera de 1968, o papel primordial das mulheres – muitas vezes negras – da associação de defesa do direito à assistência social sugeria a imbricação das opressões de classe, gênero e raça. Por serem entrelaçadas, mais do que hierarquizadas, para King elas exigiam solidariedade; ele fala de “fraternidade”. Ao New York Times, que o entrevistou sobre essa cruzada dos pobres, confiou com franqueza que estava engajado em uma forma de “luta de classes”. Foi assassinado um mês antes do início da campanha.
[…]
King lembrou que a economia política da dominação não se traduzia somente pela negação do direito de voto ou pela segregação. Tratava-se da organização premeditada de uma subordinação econômica: a concentração dos pobres em guetos e nos barrios, o desemprego e os salários indecentes, a culturalização da pobreza e a consciência tranquila paternalista dos reformistas. Entre estes encontram-se em boa posição os democratas e os progressistas urbanos, defensores da igualdade racial até o momento em que os negros quiserem se instalar em seus bairros nobres.
As estratégias de rememorar King escamotearam suas críticas à democracia norte-americana e sua denúncia de um regime de desigualdade enraizado na própria estrutura do país. Da mesma forma que o líder da Nação do Islã, Malcolm X,
ele afirmava que o racismo era uma tara congênita da América branca e que a identidade nacional tinha nela os flagelos entrelaçados do capitalismo, do imperialismo e do racismo. Mas, para ele, a resistência à igualdade continuaria invencível, a menos que os deserdados e os dissidentes reinventassem o espírito da democracia pela desobediência civil e pela convergência revolucionária.
[…]
Durante muito tempo, os Estados Unidos imaginaram ser uma nação sem classes, um país com uma mobilidade social incomparável. Eles abandonaram muito pouco dessa ilusão. Continuam convencidos de que o racismo é um vestígio do passado e que a época dos direitos civis acabou com as desigualdades entre negros e brancos. Martin Luther King refutava essas duas fábulas.
Questão 2
Relacione as informações do texto 1 com as do texto 2 e assinale a alternativa ERRADA.
a) O texto 1 enfatiza a luta de Luther King em favor dos direitos civis e da igualdade racial; já o texto 2 afirma que o discurso de Luther King ia além das questões raciais – preocupando-se também com os direitos dos pobres, das mulheres, dos índios e dos latino-americanos.
b) O texto 1 demonstra que as lutas de Luther King em favor dos direitos civis renderam-lhe inúmeras prisões; o texto 2, por sua vez, mostra que o discurso em favor dos pobres em geral não só levaram à perseguição do líder negro como também à sua execução.
c) O texto 1 enfatiza as lutas pela igualdade social. O texto 2, por sua vez, mostra que as lutas de Luther King iam além da falsa dicotomia entre exploração e discriminação, atribuindo ao pensamento do líder negro a capacidade de perceber que os dois fenômenos são consequências de uma mesma lógica de dominação.
d) Podemos afirmar que o movimento liderado por Luther King tinha como único objetivo a conquista de direitos civis para os negros estadunidenses e nada tinha a ver com as questões econômicas e sociais que o texto 1 faz questão de ignorar.
e) O texto 1 não se refere à estratégia de cooptação exercida pela cultura hegemônica sobre as lutas de Luther King; o texto 2, pelo contrário, afirma que a mesma estratégia cumpre com o papel de esconder as lutas do líder negro em favor da igualdade social e contra a democracia deficiente dos Estados Unidos.
(texto 3 – folha de são Paulo, 4 de abril de 2018)
Legado de Martin Luther King resiste, mas não dissipa racismo
Movimentos como Black Lives Matter carregam bandeira de líder civil assassinado há 50 anos
No jardim do museu dedicado à memória de Martin Luther King, alto-falantes tocam sem parar a gravação do último discurso do líder negro. “Eu vi a terra prometida. Talvez não chegue até lá com vocês, mas quero que saibam que nós, como um povo, chegaremos à terra prometida.”
King disse essas palavras um dia antes de seu assassinato. Em 4 de abril de 1968, ele foi baleado na sacada de um hotel em Memphis, uma das muitas cidades então segregadas no sul dos EUA.
Um único disparo calou para sempre o líder do levante dos negros contra o ódio racial num pedaço do país que relutava —e, muitos dizem, ainda reluta— em superar suas raízes escravocratas.
Mas suas palavras ainda ecoam meio fantasmagóricas por seu mausoléu em Atlanta, no estado sulista da Geórgia, onde nasceu, e na igreja onde ele pregava bem ao lado, que recebem hordas de visitantes com o áudio pedregoso de seus velhos sermões.
[…]
[No entanto], a aura [de Luther King] não envelheceu bem. Enquanto turistas fazem selfies diante de estátuas de líderes do movimento pelos direitos civis, ativistas mais velhos e jovens que se juntaram à luta se queixam de que a situação dos negros só se deteriorou.
“O que havia na época era a segregação legalizada. Hoje, vivemos a segregação dissimulada”, diz Gerald Durley, um pastor aposentado que ainda ostenta no peito a medalha dourada dos que marcharam com o líder. “Vivemos num momento assustador.”
Ele se lembra do dia em que viu pela TV a notícia da morte de King e conta que outros líderes do movimento na época ficaram sem rumo, como os apóstolos sem Cristo.
Mas o erro na luta pelos direitos civis, na visão dele, foi ter posto King num pedestal e ter perdido o fôlego depois das primeiras conquistas, como a garantia do direito ao voto para cidadãos negros e o fim da segregação racial nos lugares públicos.
“Ficamos acomodados, satisfeitos com os louros de vitórias passadas”, concorda Charles Steele, o atual presidente da Conferência de Lideranças Cristãs do Sul, grupo ativista fundado por King.
“Nada avançou em 50 anos, é uma vergonha. E o que mudou foi só cosmético. Diria que estamos até numa situação pior agora do que no dia do assassinato do doutor King. Estamos regredindo.”
Em seu escritório no centro de Atlanta, a quadras da igreja de King, Steele listou ainda uma série de indicadores sociais de negros em relação a brancos, tentando provar que muito pouco mudou.
“Tudo mudou para ficar igual”, diz Vicki Crawford, uma estudiosa de Martin Luther King que dá aulas na Morehouse, universidade onde ele estudou. “Os paralelos entre agora e a época dele são assustadores. São assuntos não resolvidos desde então.”
Essa situação, segundo Crawford e outros analistas, foi se agravando desde a eleição de Barack Obama, há dez anos. A ascensão do primeiro presidente negro à Casa Branca teria detonado uma onda de ódio racial que se acirrou com Donald Trump.
NEGROS MORTOS
O recrudescimento desse levante racista se tornou inquestionável diante do assassinato de uma série de jovens negros alvejados por policiais brancos nos últimos anos —o último deles foi Stephon Clark, morto com oito tiros, a maioria nas costas, há duas semanas na Califórnia.
“Matar rapazes e homens negros, na cabeça dos supremacistas, é como atirar em Obama”, compara Anthony Motley, ativista em Atlanta. “É a reação ao surgimento de uma América marrom.”
E esse país cada vez menos branco —e mais violento— parece estar se tornando indigesto para uma parcela da população que se esforça em manter seus privilégios ainda associados à cor da pele.
[…]
“A nova Ku Klux Klan* veste farda azul”, comparava Dre Propst. “Estão nos matando no meio da rua. Tenho medo sempre que eu saio de casa.”
* Ku Klux Klan: organização racista secreta que nasceu no final do século 19 nos Estados Unidos. Ela foi fundada em 1866, no Tennessee, como um clube social que reunia veteranos confederados, ou seja, soldados que haviam lutado pelos estados do Sul, o lado derrotado, na Guerra Civil Americana (1861-1865). Na defesa da manutenção da supremacia branca no país, o grupo promovia atos de violência e intimidação contra os negros libertados.
Questão 3
Da leitura do texto acima (texto 3) depreende-se que:
a) A luta pelos direitos civis solucionou a questão racial nos Estados Unidos.
b) A vitória de Barack Obama nas eleições de 2008 contribuiu para a diminuição da perseguição contra os negros nos Estados Unidos.
c) Se antes a discriminação contra negros era assumida, agora ela apresenta formas dissimuladas.
d) A eleição de Trump em nada contribuiu para o recrudescimento do racismo nos Estados Unidos.
e) Com o desmantelamento da Ku Klux Klan, a perseguição violenta contra os negros nos Estados Unidos praticamente desapareceu.
Questão 4
O primeiro vídeo é de um discurso proferido por Luther King em 1963 – logo após a conquista de importantes direitos civis em favor dos negros norte-americanos. O segundo vídeo, por sua vez, é de um discurso que o mesmo líder negro realizou um dia antes de ser assassinado. Compare os conteúdos de ambos os discursos e, em seguida, analise as afirmações abaixo.
(Discurso 1 – 1963)
(discurso 2 – 1968)
I- No segundo discurso, assim como no primeiro, percebemos claramente a utilização da simbologia religiosa como instrumento de linguagem para convencer o público da importância das lutas pela igualdade.
II- Ambos os discursos enfatizam a igualdade, mas nada dizem a respeito da liberdade.
III- Deixando claro sua oposição à luta em favor das causas sociais, nos dois discursos Luther King coloca-se contra o modelo de governo socialista que existia em países como a China e a União Soviética.
IV – No discurso 1, Luther King prega a igualdade e exige que ela seja valorizada em toda a nação estadunidense.
V- No discurso 2, Luther King faz uma contraposição ao mundo comunista como forma de exigir do governo norte-americano as promessas de igualdade e liberdade que ele não cumpre.
VI – Enfatizando um discurso meramente identitário, tanto no vídeo 1 quanto no 2 Luther King faz questão de desprezar os demais segmentos oprimidos da sociedade (pobres, imigrantes, mulheres e índios).
VII- O discurso I é bem mais radical do que o discurso II e manifesta uma indisfarçável tendência ao enfrentamento – tendência que, com o passar do tempo, foi se esmorecendo nas lutas travadas por Luther King.
Escolha a alternativa que apresente apenas as afirmações corretas.
a) I, IV e V.
b) Todas.
c) I, III e VI.
d) II, IV e VII.
e) III, V, VI e VII.
Autor: Eduardo Gramani Hipolide
Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.
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