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Atualidades XXII (2018) – Pixo e Grafite – Intervenções, Contestações ou Vandalismo

 (texto 1 – BBC Brasil; 28 janeiro 2017 – http://www.bbc.com/portuguese/internacional-38766202)

De crime a arte: a história do grafite nas ruas de São Paulo 

 

No início da década de 1980, desenhos enormes de frangos assados, telefones e botas de salto fino começaram a aparecer em muros de São Paulo.

Eram alguns dos primeiros grafites em espaço público da capital paulista, feitos pelo artista etíope radicado no Brasil Alex Vallauri.

Naquela época, com a liberdade de expressão caçada pela ditadura militar, o grafite era considerado crime pela legislação brasileira. “A própria ocupação da rua já era vista como um ato político”, diz o sociólogo e curador de arte urbana Sérgio Miguel Franco.

E nas obras de Alex Vallauri era possível entender o lado político do grafite paulistano: um dos seus primeiros desenhos foi o “Boca com Alfinete” (1973), uma referência à censura.

Nos anos seguintes, ele encheu os muros da capital de araras e frangos que pediam Diretas Já, o slogan do movimento por eleições diretas no final da ditadura.

Vallauri influenciou outros artistas a ocuparem as ruas da capital paulista e a data de sua morte – 27 de março de 1987 – é lembrada como o Dia do Grafite no Brasil.

O aniversário de 30 anos da data, em 2017, criou nos artistas a expectativa de que este seria um ano de valorização do trabalho que fazem na cidade.

No entanto, em 14 de janeiro, o novo prefeito da capital paulista, João Doria Jr. (PSDB), anunciou que seriam apagados os painéis da avenida 23 de Maio, como parte do programa “São Paulo Cidade Linda”.

A decisão provocou críticas dos artistas e dividiu opiniões entre especialistas em arte urbana.

 

Grafitódromo 

Com a polêmica gerada após a ação, a Secretaria da Cultura de São Paulo afirmou que pretende cria uma área para grafiteiros e muralistas no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo, chamada de grafitódromo. [….]

“Mas nesse caso, não seria mais grafite, já que a alma do grafite é interagir com a cidade livremente”, afirma Jaime Prades, artista plástico que pertence à primeira geração de grafiteiro de São Paulo.

[…]

 

Grafite x pichação 

A discussão sobre o grafite como arte ou como vandalismo, segundo Rui Amaral, reflete o modo como cada gestão pública entende essas intervenções urbanas.

A autorização para fazer intervenções na avenida 23 de Maio, por exemplo, era pedida pelos artistas desde a gestão de Jânio Quadros (1986 a 1989), mas foi autorizada somente no fim da gestão de Fernando Haddad (PT), em 2016.

“A avenida 23 de Maio foi o ápice do movimento artístico urbano paulistano”, relembra Amaral, que é responsável pelas gravuras do buraco da av. Paulista, desenhados pela primeira vez, de forma ilegal, em 1989 e legalizados em 1991 pela gestão de Luiza Erundina (PT).

Até 2011, o grafite em edifícios públicos era considerado crime ambiental e vandalismo em São Paulo. A partir daquele ano, somente a pichação continuou sendo crime.

De um modo geral, a pichação – que costuma trazer frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou de gangues – é considerada uma intervenção agressiva e que degrada a paisagem da cidade. O grafite, por sua vez, é considerado arte urbana.

Para o sociólogo Alexandre Barbosa Pereira, pesquisador de Antropologia Urbana da Unifesp, a dissociação entre grafite e pichação contribuiu para que o grafite começasse a ser aceito, mas apenas como forma de combate ao picho.

O pesquisador lembra que uma das justificativas da gestão Doria para apagar os painéis da 23 de Maio era a presença de pichação sobre eles.

“O grafite, mais associado à arte, é mais facilmente entendido como forma de ação do Estado e mesmo do mercado, já a pichação, execrada pela maioria da população, é uma máquina de guerra, nômade e difícil de ser capturada. Assim, fica mais fácil criminalizar esta e mesmo criar certo pânico moral em torno dela como forma de marketing político e publicidade pessoal.”

Outro efeito da decisão de legalizar somente o grafite, segundo Rui Amaral, é a confusão entre os conceitos de grafite, pichação e muralismo.

De acordo com o artista, foi o que aconteceu na decisão do atual prefeito de apagar os painéis da avenida 23 de Maio. “O que havia na 23 de Maio eram murais, e não grafite. Os murais são painéis autorizados e encomendados”, afirma.

“(A artista plástica japonesa naturalizada brasileira) Tomie Ohtake também tem painéis em espaços públicos e duvido que a gestão pública mexeria na obra dela sem consultar os responsáveis.”

A artista plástica Bárbara Goys, autora de um dos painéis apagados da 23 de Maio, diz que ação contra as obras é “um tiro no pé”. “Por trás de um grafite existe uma história que não pode ser ignorada”, diz.

“A própria capital criou um guia mapeando os grafites na cidade. Não sei como será agora, talvez tenham que refazer este guia. E, infelizmente, agora a avenida 23 de Maio perde o título de maior mural a céu aberto da América Latina.”

 

Do erudito ao popular 

Qual é exatamente a origem do grafite em São Paulo? Para acadêmicos, ele é fruto dos jovens do movimento hip hop que nasceu na periferia da capital. Mas para alguns dos pioneiros da arte de rua na cidade, o grafite paulistano nasceu de movimentos artísticos consagrados, que foram trazidos para um contexto público e urbano.

Segundo o sociólogo Sérgio Miguel Franco, os primeiros desenhos que apareceram na capital eram influenciados pelas culturas negra e latina e traziam consigo um traço marginal. “O grafite foi um espelho próspero para a cultura desenvolvida pelos jovens de origem periférica da cidade.”

Para o artista Prades, os 20 anos de censura e isolamento cultural imposto pela ditadura militar fizeram com que os grafiteiros que passaram a ocupar as ruas na década de 1980 se inspirassem na obra dos artistas plásticos da geração dos anos 1960.

“O pensamento que alimentava as ações de arte nas ruas era fruto da nossa tradição modernista, da anarquia antropofágica, da poética neoconcretista, da irreverência inspiradora de Flavio de Carvalho, Waldemar Cordeiro, Lygia Pape, Lygia

Clark, Hélio Oiticica, Artur Barrio, Nelson Leirner, Mira Schendel e muitos outros”, conta.

Prades era membro do Tupinãodá, um dos primeiros grupos de artistas grafiteiros do Brasil. O coletivo, responsável pela ocupação do Beco do Batman, na Vila Madalena, escolhia lugares públicos considerando sua relevância para a cidade de São Paulo.

“Evitamos sair por aí pintando nas paredes das casas das pessoas, não fazia sentido. Quando decidíamos pintar, escolhemos espaços públicos de grande impacto urbano”, afirma.

“Era uma catarse, um grito de jovens artistas de uma geração esmagada pela brutalidade insana e truculenta da ditadura. Artistas que não trilharam o caminho da formalidade e que, ao perceberem a dificuldade de encaixar-se no sistema da arte, procuraram encontrar o seu próprio espaço.”

 

Questão 1 

Com relação às informações e análises presentes no texto acima, é ERRADO afirmar:

a) O grafite é um fenômeno urbano que, no Brasil, começou a se desenvolver na época da ditadura militar e possuía um caráter claro de contestação política.

b) Segundo Jaime Prades, querer construir um “grafitódromo” seria um contrassenso, uma vez que tal medida negaria o próprio caráter de intervenção urbana que o grafite possui.

c) Para além da possível confusão entre grafite e “pixo”, Rui Amaral aponta também para uma diferença entre grafites e murais (painéis autorizados e encomendados).

d) Alguns analistas apontam para a origem popular e “periférica” do grafite; outros afirmam que a mesma expressão cultural, desde o início, estabelece diálogo com a arte consagrada.

e) De maneira geral, os analistas citados no texto estão de acordo em afirmar a necessidade de ações repressoras das autoridades públicas no combate à pichação e ao grafite.

 

 

(Texto 2; 19 de janeiro de 2017)

A PIXAÇÃO NÃO É ARTE…E NÃO É PARA SER 

Andy Jankowski

 

Tem se levantado uma polêmica ultimamente em relação às atuais atividades politiqueiras do atual prefeito da cidade de São Paulo, João Dória, e seu programa “Cidade Limpa” que visa deixar a capital paulista mais… esteticamente aceita pela maior parte da classe média e elite paulistana. Não é de se admirar o desprezo de Dória pela expressão periférica, uma vez que é acostumado à galerias de arte particulares, criado rodeado por Portinaris e Picassos e cujo único contato pessoal com os reles mortais da periferia são provavelmente seus serviçais. Dória apresenta uma visão simplista e cega do que é o pixo, mostrando que não consegue compreender a subjetividade das identidades periféricas da cidade que administra.

Contudo, é interessante explicitar que, por mais que boa parte da população (paulista e brasileira) não esteja de acordo com muitas visões e atitudes do prefeito, grande parte se aparelha a ele ao também não considerar pixo como arte e ceder apoio aos apagamentos dos muros pixados que “poderiam ser trocados por grafitis”. Importante compreender que apenas no Brasil e alguns países da América latina se faz essa distinção entre pixação e grafiti. Na Europa, por exemplo, tudo é considerado parte do mesmo corpo, o grafiti, mas quando nos focamos especificamente no cenário urbano paulistano e nessa dicotomia arte/não-arte do pixo, caímos numa discussão muito mais complexa que apenas estética.

Associada diretamente ao crime e ao vandalismo, o pixo é visto com maus olhos por aqueles que não vivem a realidade periférica. O pixo, mais que uma expressão, tece uma rede de sociabilidade, apropriação dos espaços urbanos e reconhecimento que eles estabelecem de suas próprias identidades. O pixo é composto em sua massiva maioria por homens, jovens entre 13 e 25 anos, pobres e moradores de bairros periféricos de São Paulo. O pixo estabelece relações entre pixadores, seja de competição, demarcação de territórios, desbravamento dos espaços urbanos ou de feitos (quanto mais alta a pixação, maior o reconhecimento do pixador no seu meio).

O pixo não é Arte. A Arte é sublime, pertence ao Olimpo social cuja população periférica não possui ticket de entrada. O pixo é uma contraarte, contra-estética, contra-cosmética social, não é feito para ser agradável. A assinatura do pixador no ponto mais alto da cidade demarca uma subjetividade, uma identidade a quem está acostumado a ser número, mera estatística. O pixo invade, se impõe, ele não é feito para ser estético ou bem quisto, se o for perde o propósito. A pixação é um grito de resistência, de existência. É uma luta pessoal do pixador e de seu grupo contra o apagamento social cotidiano de sua classe, de sua cor.

Por se dizer que a pixação seja uma expressão, é possível que digam que se trata de uma imposição do ego do pixador, mero agrado narcísico. Pois bem, e a Arte da alta cultura também não o é? Grande parte dos grandes artistas da História não dedicaram suas vidas ao autorretrato, a uma eternização da própria existência, de uma estetização da própria face? A que se dedicou Rembrandt, Frida Khalo, Van Gogh? O pixador, porém, diferente desses, não é convidado à Galeria, sua obra, seu nome, sua grafia não interessa à alta cultura de olhos refinados por leituras de páginas e páginas de livros de História da Arte. A pixação é um rasgo na fina seda dessa sebocidade hipócrita que são as normas sociais elevadas, é uma incômoda mancha de vinho barato na camiseta branca Giorgio Armani de João Dória e amigos. A “feiura” do pixo denuncia o abandono de toda uma casta marginalizada que enfrenta todo santo dia o apagamento com tinta branca dos dirigentes engravatados, eles pintam de preto os espaços de um Estado que os pinta de vermelho todos os dias. Neste cenário, quanto tempo dura o muro para inglês ver, que é pura aparência sórdida de uma realidade dura, feia, cinza e incômoda… como o pixo? O pixo não é arte e não é para ser, é um reflexo de uma sistema desigual e não importa o quanto de tinta se gaste, vai continuar existindo independente de nossas opiniões. “A gente pixa, você pinta. Vamos ver quem tem mais tinta?”

 

Questão 2 

De acordo com o texto acima (texto 2) é correto afirmar:

a) Jankowski afirma que a ação de combate à pichação tem como objetivo atender à demanda da população das periferias de São Paulo, que se coloca contra o “pixo” e luta por uma cidade limpa.

b) Em seu discurso, o autor do texto acima defende abertamente a criminalização do “pixo” e acredita que a ação da Prefeitura de São Paulo será producente.

c) Jankowski defende abertamente a tese segundo a qual o “pixo” não é arte e nem deve ser. Para o autor, a arte é sublime, enquanto o “pixo” é uma manifestação de resistência das periferias e nada tem a ver com fruição estética.

d) O autor manifesta uma evidente inclinação elitista ao valorizar apenas os padrões estéticos hegemônicos da alta cultura e ao defender a exclusão dos pichadores dos museus e da própria cidade.

e) Para Jankowski, a expressão dos “pichadores” nada tem a ver com a desigualdade social e se resume a um comportamento irracional de disputa por territórios e de competição entre grupos rivais.

 

 

(Texto 3 – Críticas ao texto 2. Autor: Eduardo Gramani Hipólide) 

Acabei de ler um texto publicado por Andy Jankowski intitulado “A pixação não é arte. E não é para ser”. Bonitinho, não fossem os inúmeros preconceitos e incoerências que ele (o texto) carrega consigo. Primeiro, o autor começa se referindo ao programa de Dória como “Cidade Limpa”. É preciso lembrar que o nome do programa atual é “Cidade Linda” – o “Cidade Limpa” era do Kassab, atualmente preocupado com outros conchavos políticos espúrios…

Ainda no primeiro parágrafo, Jankowski afirma que o “Dória apresenta uma visão simplista e cega do que é o pixo, mostrando que não consegue compreender a subjetividade das identidades periféricas da cidade que administra”. Começa muito bem nosso amigo escrevinhador! O problema é que, conforme o texto se desenrola, Jankowski mostra-se ainda mais cego do que o melancólico prefeito. Isso porque, tentando desconstruir o suposto “elitismo” por trás das críticas ao “pixo”, o autor afirma que só no Brasil e na América Latina o “pixo” é diferenciado do grafite. “Na Europa, por exemplo”, afirma o autor, “tudo é considerado parte do mesmo corpo”. Conheço pouco sobre as identidades entre os grupos de grafiteiros e “pixadores”. Mas, já ouvi dizer – e foi pessoa séria quem falou! – que, entre os dois grupos, essa diferenciação é bem nítida! Aliás, sei mesmo que alguns “pixadores” encaram o “grafite” como uma suposta afetação esnobe – semelhante à que o autor aparentemente pretende desconstruir. Portanto, os sistemas classificatórios que usamos no Brasil parecem ter respaldo na realidade concreta da constituição de identidades entre os grupos de “pixadores” e de grafiteiros (NO BRASIL, NÃO NA EUROPA!). Não se trata de uma classificação externa – ou feita a priori. Tal classificação, de fato, existe entre os grupos que realizam intervenções na paisagem urbana. Será que o autor do texto está querendo impor um sistema classificatório proveniente da Europa? Sinto aqui um cheirinho indisfarçável de “elitismo” e autoritarismo. Mas, sigamos adiante….

No terceiro parágrafo, Jankowski afirma: “Associada [sic] diretamente ao crime e ao vandalismo, o pixo é visto com maus olhos por aqueles que não vivem a realidade periférica”. Ora, desculpem, mas conheço muita gente da periferia que também não gosta do “pixo”. Ao sugerir que apenas os que vivem fora da periferia reprovam o “pixo”, o autor parece que quer impor à periferia seu próprio modelo de aceitação.

Ainda no terceiro parágrafo, o autor afirma algo que eu considero a pura verdade: “O pixo estabelece relações entre pixadores, seja de competição, demarcação de territórios, desbravamento dos espaços urbanos ou de feitos (quanto mais alta a pixação, maior o reconhecimento do pixador no seu meio)”. De fato, o “pixo” não passa disso: um conjunto de práticas que pretende dizer respeito única e exclusivamente aos próprios grupos de “pixadores”. É lógico que o “pixo” se insere na paisagem urbana, dando a ela uma nova configuração. Mas – o próprio autor reconhece -, o que os “pixadores” querem mesmo é a chancela exclusiva de seus pares. Não existe, no “pixo”, preocupação nenhuma conosco, simples mortais que não conseguem escalar paredes! [Afinal, não temos pretensão nenhuma de sermos homens-aranhas! Ou temos?] Não vejo nessas práticas nenhum esforço maior de tentar estabelecer interlocuções com outros grupos da sociedade. São sempre os mesmos sujeitos dialogando com eles mesmos. Que pena…. Muito melhor seria que os “pixadores” tentassem se comunicar conosco, vocês não acham? Mas, como o próprio autor reconhece, não é isso o que acontece. E o mais interessante é que eu não vi nada no texto do Jankowski que pareça se opor a essa inclinação exclusivista. Pelo contrário, o autor parece concordar o tempo todo com essa “masturbação identitária”!

Continuemos o festival de incoerências, preconceitos e autoritarismos… No início do quarto parágrafo, o autor afirma algo com o qual eu também concordo, mas que, para muitos, seria controverso: “O pixo não é Arte”. Até aí, tudo bem: é o ponto de vista dele. Mas, logo na sequência, Jankowski (que nome mais europeu!!!!) afirma: “A Arte é sublime, pertence ao Olimpo social cuja população periférica não possui ticket de entrada. O pixo é uma contraarte, contra-estética, contra-cosmética social, não é feito para ser agradável”. Peraí… A que “Arte” o autor se refere? Acho, sim, que existem muitos artistas esnobes que tentam referendar seus trabalhos por meio de sistemas de chancelas e de aceitações extremamente elitistas. No entanto, jamais podemos dizer que toda “Arte” é elitista. A não ser que o autor do texto não reconheça valor artístico nenhum àquilo que vem das camadas populares. Não me admira, vindo de alguém tão autoritário! E o que dizemos do samba, da “art naif”, da literatura de cordel, do repente, do hip hop… Tudo isso não é também arte – só porque vem do “povo”? De onde o autor tirou a ideia de que a arte é coisa do “Olimpo social”? E, quando o autor afirma que “a população periférica não possui ticket de entrada” para a arte, o que exatamente ele quer dizer? Será que Jankovski quer provar que a gente do “povo” não é capaz de assimilar uma obra de arte? Será que ele diz que o “povo” não é dotado de inteligência e sensibilidade? Já ouvi muito esse discurso por aí… Acho que fica claro que Jankowski trabalha com essa noção preconceituosa que vejo muita gente da suposta “esquerda” de hoje reproduzir. Fazer o quê? Além do mais, o escrevinhador deveria saber que, na Bienal de 2010, alguns “pixadores” foram convidados a participar da Mostra – com direito a coquetel em avant première e tudo!!!! Será que havia caviar nesse coquetel? É bem provável que sim!

Com tudo isso, quero dizer apenas o seguinte: os padrões hegemônicos de estética são menos impermeáveis a assimilações do que imagina o escrevinhador!

Continuando o festival de incoerências…. Ainda no mesmo quarto parágrafo, o autor afirma que o “pixo” se contrapõe à arte porque ele “não é feito para ser agradável”. Ora, será que, com isso, Jankowski quer dizer que a arte tem de ser, necessariamente, “agradável”? De onde ele tirou essa ideia? Aliás, por conta da celeuma toda em torno da arte supostamente “pedófila”, tenho justamente visto que a direita defende exatamente isto: que a Arte tem de ser “agradável”. Como são idênticos direitistas e “esquerdistas” pós-modernos!

Aí, no quinto parágrafo, Jankovski afirma: “Por se dizer que a pixação seja uma expressão, é possível que digam que se trata de uma imposição do ego do pixador, mero agrado narcísico. Pois bem, e a Arte da alta cultura também não o é? Grande parte dos grandes artistas da História não dedicaram suas vidas ao autorretrato, a uma eternização da própria existência, de uma estetização da própria face? A que se dedicou Rembrandt, Frida Khalo, Van Gogh?”. Aquilo que, no início, era simples “Arte”, agora transmuta-se em “Arte da alta cultura”. Concordo que exista uma segmentação no campo das artes. Mas, será que é tão difícil perceber que a cultura é circular e híbrida? Quanto da cultura hegemônica não é apropriado e reconfigurado ao ser assimilado pelas classes populares? Portanto, essa “cidadela periférica” é menos inexpugnável do que o autor imagina! E o que dizer a respeito das várias apropriações que as classes altas e médias realizam cotidianamente? Não sei em que mundo vive o autor; mas, no meu mundo, “funk” e “pixo” não são privilégios da periferia – tais expressões são frequentemente assimiladas pela elite. Só não vê quem não quer! Depois, sugerir que Frida, Van Gogh e Rembrandt sejam “alta Arte” é de uma cegueira enorme!!! Se o autor não é capaz de entender as obras desses artistas, o problema não é meu nem seu – e muito menos da periferia. É miopia dele!

Quanto à comparação que o autor faz entre o suposto narcisismo de “pixadores” e de artistas, acho que ela é, no mínimo, esdrúxula! Sim, porque, se o “pixo” não é Arte (e nem pretende ser), por que Jankowski faz questão de comparar os “pixadores” com Rembrandt, Van Gogh e Frida Khalo? Se o “pixo” é diferente, que os critérios de julgamento do autor sejam também distintos! Caso contrário, estaremos lidando com uma análise desfocada.

Quanto aos autorretratos de Van Gogh ou Frida Khalo, eles causam algum tipo de sentimento ou de reflexão. E, se dizem pouco, podem ao menos suscitar algum tipo de fruição estética. E reflexões, sentimentos e fruições estéticas só são privilégios de uma elite na cabeça de pessoas elitistas e autoritárias como Jankowski!

Terminando o festival de incoerências, Jankowski diz: “O pixo não é arte e não é para ser, é um REFLEXO de um sistema desigual e não importa o quanto de tinta se gaste, vai continuar existindo independente de nossas opiniões”. Ok! Concordo que continuará existindo. Mas, ao dizer que o “pixo” é um simples “reflexo” do sistema, Jankovski destitui os “pixadores” de seu caráter de sujeitos históricos e ativos. Sim, porque, apesar de não quererem conversar conosco, eles se inserem sim na paisagem urbana. E fazem isso de forma ativa, não como simples “reflexos”. O “pixo” não é espelho! Ele é parte constituinte da realidade em que vivemos – mesmo que os “pixadores” não queiram nada conosco, reles mortais. Ao transformar os “pixadores” em seres passivos (meros “reflexos”), Jankowski manifesta a mesma cegueira que, no

início, ele atribui ao Dória. Parece-me evidente que o autor reproduz a mesma ideologia – ideologia que ele supostamente combate.

Que as manifestações voltem a ter um caráter crítico e reflexivo! Que o “pixo” assuma um papel TRANSFORMADOR! Que sinta a necessidade de dialogar com outros grupos da sociedade! Caso contrário, serei obrigado a dizer que a “sublimação” não está na Arte, mas nas manifestações “masturbatórias” desses pequenos grupos que teimam em conversar apenas consigo mesmos! Afinal de contas, o que diferencia a prática dos “pixadores” daquela que se manifesta em torno da “Arte pela Arte”. Assim como os “artistas esnobes”, os “pixadores” não parecem nada preocupados em dialogar com o resto da sociedade. Quanta sublimação! Tenho dito.

 

Questão 3 

De acordo com o texto acima (texto 3), é ERRADO afirmar:

a) O autor do texto acima questiona os argumentos de Jankowski afirmando que a cultura é circular e híbrida e que, portanto, o fenômeno do “pixo” não é exclusivo da periferia e já foi até reconhecido por alguns setores da cultura hegemônica como forma de expressão artística.

b) No texto acima, o autor se coloca contra o fato de que os grupos de pichadores preocupam-se fundamentalmente com suas disputas particulares e pouco se importam em dialogar com o resto da sociedade.

c) Hipólide questiona a ideia de que o “pixo” é um mero reflexo das desigualdades e defende que essa manifestação cultural assuma um papel transformador no interior da sociedade.

d) Hipólide defende abertamente a criminalização do “pixo” e concorda com o caráter producente das ações da Prefeitura de São Paulo no combate ao “pixo”.

e) O autor do texto acima questiona a ideia segundo a qual a arte seja elitista, enfatizando o valor artístico de inúmeras manifestações populares como o samba, o hip hop, a art naif e o repente. Concluindo, Hipólide identifica, na constituição atual do “pixo”, uma tendência à “sublimação” e ao isolamento típico de uma a arte sem compromissos.

 

Questão 4 

O vídeo cujo link vem abaixo é de uma entrevista da Globo News na qual, de um lado, está André Sturm (Secretário Municipal da Cultura da Prefeitura de São Paulo – gestão Doria); de outro lado, debatendo com André, está o arquiteto e urbanista Martin Corullon. Preste muita atenção nos argumentos dos dois e, em seguida, analise as afirmações abaixo.

I- Martin desconsidera a dinâmica social que constitui os fenômenos do “pixo” e do grafite e defende as ações do então prefeito João Doria.

II- Para Martin, apagar as pichações e os grafites é uma maneira contraproducente de mascarar a realidade excludente da sociedade e pode recrudescer os conflitos em torno daquelas manifestações.

III- Para André, a fronteira entre “pixo” e grafite é tênue; para Martin, tal fronteira é clara e o grafite deve ser valorizado, sendo que o “pixo” é nitidamente um vandalismo.

IV- Para Martin, uma ação mais assertiva no sentido de diminuir as pichações passa por políticas inclusivas de utilização do espaço público.

V- Concordando com André, Martin afirma que o caráter “recreativo” da pichação exclui uma possível inclinação política e/ou contestatória.

VI- Para sustentar sua posição, André enfatiza a ideia de que a cidadania envolve não só direitos, mas também deveres.

VII- Rebatendo os argumentos de André, Martin questiona o próprio valor das leis e defende a tese segundo a qual uma lei injusta deve ser desrespeitada.

VIII- Numa de suas últimas perguntas, a entrevistadora manifesta uma tendência em encarar o “pixo” como uma possível privatização do espaço público. Para Martin, pelo contrário, a ação dos pichadores seria uma reação a essa mesma privatização dos espaços públicos.

IX- No final da entrevista, André aponta para a necessidade de os grupos particulares e específicos respeitarem o espaço dos outros indivíduos e/ou grupos.

São corretas as afirmações:

a) Todas.

b) II, IV, VI, VIII e IX.

c) I, II, IV, VII e VIII.

d) II, III, V, e IX.

e) III, IV, VII e IX.


Autor: Eduardo Gramani Hipolide

Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.

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