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Atualidades VI (2018) – Manifestações na Tunísia e Primavera Árabe

 (Texto 1 – site uol vestibular/atualidades, 28 de janeiro 2011)

Crise na Tunísia: levantes ameaçam regimes árabes 

Os protestos que começaram em Dezembro de 2010 nas ruas da Tunísia, contra o alto desemprego, corrupção, disseminação da pobreza, e alta nos preços dos alimentos se agravaram em Janeiro de 2011, culminando em confrontos que resultaram em centenas de mortos e renúncia do presidente em 14/01/2011.

Pela primeira vez na história, um líder árabe foi deposto por força de movimentos populares. Isso aconteceu na Tunísia, país mulçumano localizado ao norte da África. O presidente Zine Al-Abdine Bem Ali renunciou em 14 de janeiro após um mês de violentos protestos contra o governo. Ele estava há 23 anos no poder.

Há décadas que governos árabes resistem a reformas democráticas. Agora, analistas acreditam que a revolta na Tunísia pode se espalhar por países do Oriente Médio e ao norte da África. O Egito foi o primeiro a enfrentar manifestações inspiradas pela “revolução do jasmim” (flor nacional da Tunísia).

O novo ativismo no mundo árabe é explicado pela instabilidade econômica e pelo surgimento de uma juventude bem educada e insatisfeita com as restrições à liberdade.

Na Tunísia, os protestos começaram depois da morte de um desempregado em 17 de dezembro do ano passado. Mohamed Bouazizi, 26 anos, ateou fogo ao próprio corpo na cidade de Sidi Bouzid. Ele se autoimolou depois que a polícia o impediu de vender frutas e vegetais em uma barraca de rua.

O incidente motivou passeatas na região, uma das mais pobres da Tunísia, contra a inflação e o desemprego. A partir daí, o movimento se espalhou pelo país e passou a reivindicar também mudanças políticas.

 

(TEXTO 2 – FOLHA DE SÃO PAULO, 28 DE JANEIRO DE 2016)

Lição da Primavera Árabe foi trazer protagonismo à população 

ANÁLISE: FERNANDO BRANCOLI

É difícil apontar quando uma revolução começa. Para muitos, a Primavera Árabe teria iniciado em dezembro de 2010, quando um jovem tunisiano, Mohamed Bouazizi, colocou fogo no próprio corpo, desesperado com o desemprego e a violência policial em seu país.

Por mais simbólica que seja tal ação, os protestos nos países árabes efetivamente começaram um pouco adiante, em 25 de janeiro de 2011.

Protestos no Egito em Julho de 2013

Há cinco anos, completos essa semana, multidões iniciaram protestos maciços no Egito, marcando a gênese das movimentações políticas que iriam, meses depois, derrubar o ditador Hosni Mubarak.

Apesar da dianteira da Tunísia, foi no Egito que os protestos ganharam ampla escala transnacional. A cidade do Cairo —então a capital política, econômica e cultural do etéreo ‘mundo árabe’— gerou imagens, estratégias e ideias poderosas que se espalharam rapidamente, modificando todo o norte da África e o Oriente Médio.

A despeito dos protestos nos distintos países possuírem dinâmicas bastante diferentes —muitos não clamavam por democracia, por exemplo— as manifestações no Egito são emblemáticas pelos seus resultados.

Após o sucesso em depor Mubarak, há décadas acampado no poder, o país teve um pequeno período de governo democraticamente eleito.

Passados pouco mais de seis meses, o presidente recém-eleito, Mohammed Mursi, foi derrubado pelas Forças Armadas. A ditadura vivida hoje no país é, em diversos aspectos, ainda mais brutal que a anterior.

Observando a região, as consequências das revoltas não parecem ter trazido melhorias: a Líbia, após intervenção autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU, se encontra dividida por diversos grupos armados, dentre eles o Estado Islâmico.

O Bahrein teve seus manifestantes massacrados com ajuda militar da Arábia Saudita. A Síria, que tardiamente registrou protestos, é palco de uma das maiores crises humanitárias da história, com centenas de milhares de mortos e milhões de refugiados e deslocados internos.

Esse trágico cenário pode gerar um falso dilema: tais países não estariam prontos para a democracia e apenas governos ditatoriais conseguiriam manter a ordem na região.

A afirmação, pobre intelectualmente, ignora as múltiplas variáveis sociais e políticas que há décadas assolavam tais países.

Falta de liberdade política, crise econômica, perseguição de minorias e opressão em diversos graus, galvanizados por tais governos autoritários, foram justamente os principais catalisadores para as manifestações.

Os protestos, além disso, não ocorreram em um vácuo internacional. Países europeus e os Estados Unidos atuaram de maneira expressiva em todos os casos.

Na Líbia, como citado, uma intervenção militar derrubou o governo apenas para se retirar posteriormente, deixando o país sem instituições sólidas que garantissem sua estabilidade.

A Síria é ainda mais emblemática: o país se tornou o campo em que a Rússia tenta sustentar antigas áreas de influência, enquanto Washington articula o apoio contra Bashar Al-Assad sem se comprometer com o envio de tropas.

Muitos criticam o termo ‘Primavera Árabe’ para descrever as manifestações. Apontam que foi cunhado por acadêmicos ocidentais, o que denotaria um sequestro do que seria o real significado dos protestos. Essas críticas esquecem que ativistas árabes abraçaram o conceito, apontando novas valorações e sentidos.

Modificações profundas no tecido social de sociedades não são feitas em pouco tempo. Não será diferente com o caso desta região. Talvez esteja aí a lição da inacabada e ainda em curso primavera: que a população árabe deva ser vista como protagonista do seu futuro e não replicadora passiva de ideias externas.

FERNANDO BRANCOLI é professor de segurança internacional no curso de defesa e gestão estratégica internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Questão 1

Relacione as informações do texto 1 com as do texto 2 e assinale a alternativa correta.

a) O fenômeno da Primavera Árabe se restringe à Tunísia e ao Egito, únicos países árabes onde os governos eram nitidamente ditatoriais.

b) A Primavera Árabe começou na Tunísia, mas não obteve resultados concretos naquele país, uma vez que, apesar dos protestos, o governo autoritário conseguiu se manter no poder.

c) As manifestações que ocorreram na Tunísia na passagem de 2010 para 2011 foram motivadas pela falta de liberdade – que incomodava sobretudo a juventude – e por problemas econômicos como a inflação e o desemprego.

d) Conhecidas como “revolução do jasmim”, as manifestações da Tunísia influenciaram protestos em países do Oriente Médio, mas não estabelecem relação alguma com os acontecimentos que marcaram a vida das pessoas no norte da África.

e) Assim como o autor do texto 1, o do texto 2 também enfatiza os acontecimentos da Tunísia em sua análise sobre a Primavera Árabe, ressaltando que foi naquele país que, de fato, os protestos no mundo árabe tiveram seu maior expoente.

 

Questão 2

O mapa temático abaixo apresenta os países que passaram por manifestações que fazem parte da Primavera Árabe. Relacione as informações do mapa com as do texto 2 e assinale a alternativa ERRADA.

a) Segundo o autor do texto, o grande desencadeador da Primavera Árabe foram as manifestações no Egito, que derrubaram o ditador Hosni Mubarak e são consideradas de “grande impacto” pelo mapa temático.

b) As manifestações na Líbia são consideradas pelo mapa como de “grande impacto” porque, naquele país, uma intervenção militar estrangeira derrubou o governo ditatorial, muito

embora tenha gerado uma difícil situação de instabilidade e fragmentação de forças que combatem entre si.

c) Diante de toda a instabilidade apontada pelo mapa, o autor do texto tece o diagnóstico segundo o qual as populações árabes não são capazes de viver sob regimes democráticos; ele também defende a necessidade premente da comunidade internacional interferir diretamente nos destinos de governos em países muçulmanos.

d) As manifestações que surgiram na Síria são consideradas pelo mapa como de “grande impacto” porque geraram uma guerra civil de grandes proporções que já levou à morte de milhares de pessoas e até hoje não acabou.

e) As manifestações no Bahrein, consideradas pelo mapa como de “médio porte”, foram sufocadas com o auxílio da Arábia Saudita; já as manifestações consideradas de “pequeno porte” pelo mapa não são citadas particularmente pelo autor do texto.

 

(Texto 3 – Folha de são Paulo, 12 de janeiro de 2018)

Forças estatais prendem 330 pessoas no 4º dia de protestos na Tunísia 

Mais de 300 pessoas foram presas na noite de quarta-feira (10) e na madrugada desta quinta (11) na Tunísia, no que foi a terceira noite de manifestações violentas contra o aumento de tarifas públicas, impostos e o desemprego.

As medidas fazem parte de um pacote de austeridade do qual as autoridades dizem não abrir mão. Os protestos, porém, também coincidem com o aniversário de sete anos da queda do ditador Zine El Abidine Ben Ali, que desatou a Primavera Árabe.

Os confrontos entre manifestantes e a polícia começaram na segunda em bairros pobres da capital, Túnis, e de outras cidades. Houve ataques a bases policiais e patrimônio público, como trens, ônibus e prédios estatais.

Mais de 200 manifestantes haviam sido presos nos dois primeiros dias. Diante da violência, as autoridades enviaram policiais de choque e tropas às áreas mais conflituosas, o que também levou ao aumento das detenções.

O porta-voz do Ministério do Interior tunisiano, Khelifa Chibani, disse que 330 pessoas foram capturadas, elevando para mais de 600 o número de encarcerados, a maioria acusado de roubo, dano ao patrimônio e saques.

“O que está ocorrendo é crime, não manifestação. Eles roubam, intimidam as pessoas e ameaçam o patrimônio público e privado.”

Apesar da pressão social, o governo tunisiano manteve nesta quinta a intenção de não ceder em relação aos aumentos do imposto ao valor agregado (IVA), que incide sobre alimentos e bens de consumo, dos combustíveis e das tarifas públicas.

“Nós não vamos revisar nosso Orçamento ou qualquer um de seus artigos por causa de alguns baderneiros que foram às ruas”, afirma o ministro do Investimento, Zied Ladhari.

O primeiro-ministro, Youssef Chaged, acusou adversários políticos de fomentarem a rebelião. “Eu quero acalmar os tunisianos. O Estado está de pé e vai

resistir”, disse, prometendo manter o direito ao protesto pacífico e investigar os atos violentos.

Negando essa intenção, o principal partido opositor, a Frente Popular, convocou manifestações para próximo domingo (14), dia do aniversário da queda da ditadura.

 

VIOLÊNCIA 

[…]

Os protestos começaram nos bairros da periferia de Túnis, com grupos de jovens, alguns mascarados, atacando bases da polícia e sendo contidos com gás lacrimogêneo.

A Tunísia, único país que sobreviveu à Primavera Árabe, até o momento conseguiu avançar em sua transição democrática, apesar da estagnação econômica e social.

A inflação ultrapassou 6% no final de 2017, enquanto a dívida pública e o déficit na balança comercial atingiram níveis preocupantes.

Embora seja o único sucesso de democracia entre os países inseridos na Primavera Árabe, teve nove governos em sete anos, e nenhum deles foi capaz de resolver os problemas econômicos originários dessa situação.

 

Questão 3

O texto 1 se refere às manifestações que ocorreram na Tunísia entre 2010 e 2011 e inauguraram a Primavera Árabe. Já o texto 3 tem a ver com as manifestações tunisianas deste ano. Relacione as informações de ambos os textos e assinale a alternativa ERRADA.

a) As manifestações do início deste ano na Tunísia coincidem com a data de aniversário de sete anos dos protestos que inauguraram a Primavera Árabe e derrubaram o ditador daquele país, Zine El Abidine Ben Ali.

b) Não obstante o governo tunisiano atual seja considerado democrático, suas forças militares trataram os protestos deste começo de ano de maneira muito dura, levando à prisão de mais de 600 pessoas ao longo dos dias de protestos.

c) Enquanto os protestos que desencadearam a Primavera Árabe ocorreram por conta da falta de liberdade e da instabilidade econômica, os que ocorreram no início deste ano têm a ver, principalmente, com o aumento do desemprego, das tarifas públicas e dos impostos na Tunísia.

d) Os protestos na Tunísia que inauguraram a Primavera Árabe instauraram uma democracia que, além de não resolver alguns problemas econômicos preocupantes, caracteriza-se por uma certa instabilidade governamental.

e) Não podemos estabelecer relações entre os protestos que desencadearam a Primavera Árabe e os que ocorreram neste ano. Isso porque estes últimos ocorreram especificamente por razões políticas, enquanto que aqueles se fundaram em problemas exclusivamente econômicos.

 

Autor: Eduardo Gramani Hipolide

Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.

 

 

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