(Reportagem – folha de são Paulo, 21 de janeiro de 2018)
(excerto1)
Automação vai mudar a carreira de 16 milhões de brasileiros até 2030
A elite política e econômica global está preocupada com o futuro do trabalho.
Além das já conhecidas ameaças geopolíticas e ambientais, as transformações do mercado de trabalho também ganharam lugar de destaque na agenda do Fórum Econômico Mundial, que começa nesta terça-feira (23) em Davos, na Suíça.
Só no Brasil, 15,7 milhões de trabalhadores serão afetados pela automação* até 2030, segundo estimativa da consultoria McKinsey.
Uma amostra recente foi o corte de 60 mil cargos públicos anunciado pelo governo Michel Temer este mês, boa parte em razão da obsolescência, como no caso de datilógrafos e digitadores.
No mundo, no período entre 2015 e 2020, o Fórum Econômico Mundial prevê a perda de 7,1 milhões de empregos, principalmente aqueles relacionados a funções administrativas e industriais.
A avaliação de especialistas da área é que o mercado de trabalho passa por uma grande reestruturação, semelhante à revolução industrial. A diferença é que agora tudo acontece muito mais rápido: desde 2010, o número de robôs industriais cresce a uma taxa de 9% ao ano, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
No Brasil, cerca de 11.900 robôs industriais serão comercializados entre 2015 e 2020, segundo a Federação Internacional de Robótica.
A Roboris, que tem entre seus clientes a Embraer, é uma das fornecedoras que atuam no país. Segundo o presidente da empresa, Guilherme Souza, 30, o interesse da indústria brasileira pela automação vem crescendo.
“Acredito que os custos falam por si só, são um fator bem convincente. Mas, mais do que os custos, as empresas perceberam que se não aderissem a essa tecnologia, elas não seriam mais competitivas”, afirma.
No mundo, entre 400 milhões e 800 milhões serão afetados pela automação até 2030, a depender do ritmo de avanço tecnológico, segundo a McKinsey. Isso equivale a algo entre 11% e 23% da população economicamente ativa global, calculada pela OIT em 3,5 bilhões de pessoas.
Isso não significa que todos perderão o emprego, mas que serão impactados em algum grau, que vai de desemprego a ter um “cobot” (colega de trabalho robô com quem divide as funções).
‘DE HUMANOS’
A mudança é positiva na medida em que libera profissionais de tarefas monótonas, que por sua vez podem ser feitas com maior rapidez e eficiência quando automatizadas.
“A boa notícia é que fica claro que os trabalhos para humanos terão que envolver qualidades humanas, como criatividade”, afirma José Manuel Salazar-Xirinachs, diretor regional da OIT para a América Latina e Caribe. “Isso soa muito legal, mas a questão é: quantos trabalhos para pessoas criativas serão gerados?”, questiona.
O Fórum Econômico Mundial, por exemplo, projeta um aumento na demanda nas áreas de arquitetura, engenharia, computação e matemática, entre outras.
Esse incremento de vagas, contudo, não será suficiente para absorver quem perdeu o trabalho em outros setores, além de exigirem alta qualificação, avalia a organização.
*Automação: sistema em que os processos operacionais em fábricas, estabelecimentos comerciais, hospitais, telecomunicações etc. são controlados e executados por meio de dispositivos mecânicos ou eletrônicos (incluindo robôs), substituindo o trabalho humano; automatização.
Questão 1
Relacione os dados do excerto da reportagem acima (excerto 1) com os do infográfico que vem na sequência e assinale a alternativa ERRADA.
a) Ambos estão de acordo no que diz respeito aos tipos de emprego que serão reduzidos (sobretudo, empregos nas áreas administrativa e industrial) e fomentados (sobretudo nas áreas de arquitetura, engenharia, computação e matemática).
b) No que diz respeito ao caso brasileiro, os dados numéricos de ambos não correspondem. Isso porque o excerto projeta as mudanças que ocorrerão até 2030 e o infográfico se refere apenas ao período que vai de 2015 a 2020.
c) O excerto faz menção também às projeções relativas ao cenário mundial, enquanto que o infográfico se refere apenas à situação do Brasil.
d) O excerto afirma que, até 2030, cerca de 16 milhões de brasileiros serão afetados no emprego por conta dos avanços tecnológicos e da automação; já o infográfico sugere que, de 2015 a 2020, cerca de 7 milhões de trabalhadores brasileiros serão afetados pelos mesmos fenômenos.
e) Os dados do Fórum Econômico Mundial com os quais o excerto trabalha estão de acordo com os do infográfico. Isso porque ambos afirmam que, até 2020, cerca de 7 milhões de brasileiros perderão o emprego.
[continuação da reportagem – excerto 2]
DESIGUALDADE
Nesse cenário de extinção grande de trabalhos que exigem pouca qualificação e criação de um número menor que exige muita, a tendência é de aumento da desigualdade, alerta a OIT.
O fim de funções hoje exercidas pela população de baixa e média renda vai gerar desemprego e pressionar para baixo o salário das que restarem, diante da massa de pessoas buscando trabalho.
[…]
Um sintoma já perceptível desse processo é a queda ou estagnação da renda fruto de salários e capital em dois terços dos lares das economias avançadas entre 2005 e 2014, maior retrocesso desde os anos 1970, diz a consultoria.
Um caminho para contornar o problema é treinar a força de trabalho para que aqueles de menor qualificação profissional não fiquem para trás, diz o diretor da OIT.
“Os novos empregos que estão sendo criados demandam habilidades matemáticas, analíticas e digitais. Isso significa que é preciso treino vocacional”, afirma. […]
Estudo na Unicef divulgado em dezembro alerta para o risco da tecnologia digital transformar-se em um novo motor de desigualdade. Embora 1 em cada 3 usuários da internet seja uma criança, há ainda 346 milhões de jovens sem acesso ao mundo digital.
“Há uma forte preocupação com os trabalhadores de menor qualificação, em termos do impacto da tecnologia. Essas pessoas não são realmente alfabetizadas digitais, e não terão oportunidade para aprender habilidades específicas. Eles serão deixados para trás e terão uma empregabilidade muito pequena”, diz Salazar, da OIT.
[…]
A automação não é o único motivo de preocupação. A emergência de novas relações profissionais fora do contrato tradicional é outro fator desestabilizador. Um novo grupo de pessoas cresce à margem dos direitos trabalhistas, classificados ora como “trabalhadores independentes”, ora como “invisíveis” ou simplesmente “informais”.
Questão 2
Do excerto acima (excerto 2) depreende-se que:
a) As projeções pessimistas não encontram respaldo nas análises dos especialistas citados porque, de forma clara, a tendência é que quase todos os trabalhadores que perderão seus empregos por conta do avanço da automação serão facilmente readaptados ao mercado de trabalho.
b) Segundo os estudos mencionados no excerto acima (2), a tendência dos salários em geral será de aumento, uma vez que os trabalhadores reinseridos no mercado de
trabalho serão mais qualificados e, portanto, exigirão melhores condições de empregabilidade.
c) Devido à falta de universalização de acesso ao mundo digital e a baixa qualificação de parte expressiva da população economicamente ativa, a tendência para os próximos anos é de um aumento significativo do desemprego e, consequentemente, da desigualdade como um todo.
d) O excerto despreza as questões trabalhistas e as novas relações do trabalhador com o mercado de trabalho, atribuindo a futura precarização laboral exclusivamente aos aspectos tecnológicos.
e) A “solução” proposta pelo excerto acima seria qualificar os trabalhadores por meio de treinamentos que valorizem as habilidades e competências relativas ao espírito crítico e aos conteúdos típicos das áreas de humanidades.
Questão 3
Com relação às informações do infográfico acima, é ERRADO afirmar:
a) Os trabalhadores brasileiros já sentem os efeitos dos avanços tecnológicos e da automatização das atividades laborais.
b) O gráfico mostra que os prejuízos sofridos pelos trabalhadores menos qualificados serão um fenômeno perceptível apenas no futuro – uma vez que, até hoje, as atividades por eles realizadas não passaram por mudanças em razão do avanço tecnológico.
c) Desde o início deste milênio, a tendência verificada na distribuição do emprego no Brasil é de ascensão das funções mais qualificadas e de queda naquelas cuja qualificação é considerada baixa.
d) De acordo com o infográfico, as funções consideradas mais “qualificadas” são aquelas que exigem um tempo maior de estudos prévios; já as “não qualificadas” são principalmente as funções consideradas “manuais”
e) O fenômeno da precarização do trabalho é exclusivamente nacional, uma vez que os dados acima mostram que a população economicamente ativa no resto do mundo não será afetada pela automação
[continuação da reportagem – excerto 3]
FLEXIBILIDADE
Segundo pesquisa feita pelo Fórum Econômico Mundial com diretores das áreas de recursos humanos em empresas de 15 países, 44% deles acreditam que o maior impacto no mercado hoje vem das mudanças no ambiente de trabalho, como home office**, e nos arranjos flexíveis, como contratação de pessoas físicas para trabalhar por projeto (a chamada “pejotização”***). O percentual é semelhante entre os brasileiros (42%).
Outra forma emergente de trabalho são os relacionados à “gig economy”****, como plataformas online e aplicativos –programadores freelance e motoristas de Uber entram nessa categoria.
A tendência é de que as empresas reduzam ao máximo o número de empregados fixos dentro do contrato tradicional […].
Assim, embora a tecnologia gere uma demanda por novas atividades altamente qualificadas, como programação de um aplicativo, a probabilidade é que as empresas terceirizem***** a função, em vez de contratar diretamente esse profissional.
[…] Essa ausência do reconhecimento de uma relação de emprego faz a OIT classificar esse tipo de trabalho como “invisível”.
Ainda não está claro se elas serão regulamentadas ou se cairão no trabalho informal, diz a OIT.
[…]
A reforma trabalhista feita no Brasil no final de 2017 tentou abarcar em parte essas mudanças, ao regulamentar o home office, por exemplo. Polêmicas, como a situação dos motoristas de Uber, contudo, persistem.
O NOVO E O VELHO
Um desafio extra para o Brasil é que ele precisa começar a lidar com essas questões novas ao mesmo tempo em que ainda não resolveu problemas antigos, como o alto índice de informalidade, que voltou a subir durante a crise e hoje atinge 44,6% dos trabalhadores, segundo o IBGE.
[…]
Para o sociólogo Ruy Braga, professor da USP e autor dos livros “A Rebeldia do Precariado” (2017) e “A Política do Precariado” (2012), as novas formas de trabalho que surgem mascaram o avanço do velho subemprego.
Para ele, a reforma trabalhista, ao formalizar atividades de tempo parcial ou de curta duração, oficializa essa desestruturação do mercado.
“Do ponto de vista microeconômico, é bastante racional que você elimine cargos intermediários. Mas, do ponto de vista social, a coisa se complica, porque você vai ter menos empregos de qualidade e de maior renda. Consequentemente, uma sociedade mais polarizada, o que significa mais desigual e com dificuldades de se integrar”, avalia.
**Home Office é uma expressão inglesa que significa “escritório em casa”, na tradução literal para a língua portuguesa. Algumas empresas possuem este sistema de trabalho quando os funcionários não precisam ou não podem trabalhar no escritório.
***Pejotização: refere-se à contratação de serviços pessoais, exercidos por pessoas físicas, de modo subordinado, não eventual e oneroso, na tentativa de disfarçar eventuais relações de emprego. O termo tem a ver com a situação do trabalhador no mercado de trabalho. Como ele é autônomo, seu estatuto jurídico e contratual é de uma “pessoa jurídica”. Nas relações de trabalho, ele presta serviços e não se subordina diretamente à empresa.
****Gig Economy – também conhecida como “Freelance Economy”, “economia sob demanda” ou “1099 economy”- é o ambiente ou o mercado de trabalho que compreende, de um lado, trabalhadores temporários e sem vínculo empregatício (freelancers, autônomos) e, de outro, empresas que contratam estes trabalhadores independentes, para serviços pontuais, e ficam isentas de regras como número de horas trabalhadas (o chamado “horário comercial”). O termo não é novo, mas se tornou tendência mundial na era digital, impulsionado por empresas como Uber e Amazon.
*****Terceirização: forma de organização estrutural que permite a uma empresa transferir a outra suas atividades, proporcionando maior disponibilidade de recursos, reduzindo a estrutura operacional, diminuindo os custos, economizando recursos e desburocratizando a administração.
Questão 4
Assinale a alternativa que NÃO SE RELACIONA com as análises e informações do excerto acima (excerto 2).
a) Para além das questões relativas à automação, a pesquisa encomendada pelo Fórum Econômico Mundial constata que boa parte das mudanças verificadas no mercado de trabalho tem a ver com as novas relações estabelecidas entre empregado e empregador.
b) Segundo Ruy Braga, sociólogo e professor da USP, as novas relações de trabalho – terceirização, “pejotização”, home office e gig economy – retratam, na verdade, um avanço do subemprego e, consequentemente, uma nítida precarização do trabalho.
c) Dados recentes do IBGE mostram que a situação de informalidade no trabalho afeta quase a metade dos trabalhadores do Brasil.
d) De acordo com as projeções do excerto acima, as atividades altamente qualificadas não serão afetadas pelas novas relações de trabalho, uma vez que continuarão sob o domínio da estrutura operacional da empresa contratante e seguirão protegidas pelas leis trabalhistas.
e) Os avanços tecnológicos e as novas relações de trabalho tendem a atenuar as desigualdades sociais e a promover o desenvolvimento humano no âmbito das relações laborais.
Respostas:
1 – E.
2 – C.
3 – E.
4 – D.
Autor: Eduardo Gramani Hipolide
Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.
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