Parte I – drogas ilícitas
(texto 1 – Folha de são Paulo, 15 de julho de 2018)
Produção e consumo global de drogas batem recorde, afirma ONU
Pela 1ª vez, sobe número de pessoas com mais de 50 anos que abusam de substâncias psicotrópicas*
O mundo nunca produziu tanta cocaína nem tanto ópio quanto hoje. As pessoas nunca fizeram tanto uso não medicinal de remédios com prescrição, em especial os opioides**, cujo abuso levou à morte de mais de 63 mil pessoas nos EUA em 2016.
E, pela primeira vez, subiu o número de pessoas com mais de 50 anos que usam e abusam de substâncias psicotrópicas.
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Esse quadro, tão grave quanto complexo, foi exposto pelo Relatório Mundial de Drogas 2018 do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc), lançado na mesma semana pelo Monitor de Políticas de Drogas das Américas, plataforma interativa que explora as mudanças do setor nos países do continente, seus mecanismos e impactos.
“As Américas estão liderando as inovações em políticas de drogas em vários sentidos, ainda que muitos países tenham similaridades nas abordagens mais convencionais”, diz Ana Paula Pellegrino, pesquisadora do Instituto Igarapé, responsável pelo projeto.
Para ela, a inovação mais marcante são os mercados legais e regulados de maconha para uso recreativo no Canadá, no Uruguai e em nove estados americanos — que, no entanto, são pouco explorados no documento da ONU.
O relatório se concentra na produção de substâncias psicotrópicas consideradas ilegais, em quantidades apreendidas e no perfil de usuários. Registrou aumento de consumidores de drogas com mais de 50 anos, algo inédito desde que a ONU criou essas métricas e que se deve a dois fatores.
Primeiro, ao fato de as gerações que cresceram num ambiente em que drogas eram populares estarem envelhecendo. Seria esse o caso dos chamados baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, que consumiram mais drogas em sua juventude do que as gerações anteriores, e dos quais muitos podem ter mantido o hábito na maturidade.
O segundo fator é que muitas pessoas mais velhas estariam buscando nessas substâncias ilícitas o alívio para dores e outros problemas. Isso explicaria por que as drogas mais consumidas nesta faixa etária são os opioides, os analgésicos e a maconha.
Nos EUA, por exemplo, o número de consumidores de drogas com mais de 50 anos subiu de 3,6 milhões em 2006 para 10,8 milhões em 2016 —um aumento de 200%.
Com isso, o número de mortes por abuso de drogas nessa faixa etária também cresceu. Em 2000, 27% eram pessoas com mais de 50 anos. Em 2015, 39%.
“Esse crescimento implica em fortes mudanças do ponto de vista da saúde pública e da orientação dos médicos, que muitas vezes prescrevem medicamentos analgésicos que contêm opioides sem se dar conta que seu uso pode gerar dependência”, avalia o psiquiatra Arthur Guerra, especialista em dependência química.
O aumento do uso não medicinal de remédios vendidos sob prescrição estaria ligado a essa prática. Para ter uma ideia, a quantidade de medicamentos opioides apreendidos em 2016 (87 toneladas) foi praticamente a mesma quantidade de heroína confiscada naquele ano (91 toneladas).
Para Guerra, o tráfico dessas substâncias é muito mais fácil porque sua produção é legalizada. É o caso do fentanil – opioide cujo uso explodiu nos EUA e migrou para a Europa – e do tramadol, outro opioide farmacêutico que se alastra pelo Norte da África e pelo Oriente Médio.
Segundo o psiquiatra, as empresas produtoras desses remédios “serão acionadas em algum momento” pelos problemas de saúde pública que eles têm causado.
No extremo oposto da pirâmide etária também há problemas. O consumo de maconha entre adolescentes de 15 e 16 anos também aumentou — 5,6% deles consumiram maconha em 2016, ante 3,9% na população em geral.
“Sabe-se que o dano provocado pela maconha é maior em pessoas cujo cérebro e o sistema nervoso ainda estão em desenvolvimento”, explica Gabriel Elias, coordenador de relações institucionais da Plataforma Brasileira de Política de Drogas.
“A regulação responsável dessa substância poderia diminuir esse uso precoce, já que a proibição torna o acesso igualitário para todas as faixas etárias.”
* Droga psicotrópica ou simplesmente psicotrópico é uma substância química que age principalmente no sistema nervoso central, onde altera a função cerebral e temporariamente muda a percepção, o humor, o comportamento e a consciência. Tais efeitos das drogas, contudo, podem levar ao uso recorrente das mesmas, o que pode desencadear dependência física ou psicológica, promovendo um ciclo progressivamente mais difícil de ser interrompido. As drogas psicotrópicas são classificadas em: estimulantes, depressoras e alucinógenas.
** Os opioides são drogas que atuam no sistema nervoso para aliviar a dor. O uso indevido e contínuo pode levar à dependência física e a sintomas de abstinência. Eles vêm em comprimidos, cápsulas ou na forma líquida. Recebem este nome porque, em alguns casos, são derivados do ópio (assim como a heroína e a morfina), substância proveniente da papoula, cuja produção se concentra principalmente no Afeganistão.
Questão 1
De acordo com as informações e análises presentes no texto acima, é ERRADO afirmar:
a) O aumento ao qual se refere o texto diz respeito ao uso de drogas psicotrópicas ilegais, mas também faz menção à utilização de drogas legais que são vendidas sem prescrição médica, como os opiodes, nos EUA.
b) O relatório publicado pela ONU neste mês aponta para o aumento do consumo de psicotrópicos entre maiores de 50 anos. Tal crescimento em parte ocorre porque a geração nessa faixa etária foi criada numa época em que as drogas eram já utilizadas com mais frequência entre os jovens.
c) A busca pelo alívio de dores também contribui para o aumento do consumo de drogas entre os maiores de 50 anos. De 2000 a 2015, o uso de psicotrópicos nessa faixa etária cresceu 12%.
d) O texto aponta para a necessidade de mudanças nas políticas públicas na área da saúde, visando combater a prescrição e o uso incontrolado de alguns opioides, cujo consumo tem migrado dos EUA para a Europa, o Norte da África e o Oriente Médio.
e) Gabriel Elias mostra-se abertamente contra a descriminalização da maconha, uma vez que o consumo dessa droga vem aumentando entre os mais jovens, segmento mais suscetível aos danos por ela causados.
(MAPA)
Questão 2
Com base nos dados presentes no mapa temático acima, analise as informações abaixo.
I- No Brasil, o uso pessoal de drogas continua criminalizado, mas existe a possibilidade do cumprimento de penas alternativas pelos usuários.
II- Ao contrário do que ocorre em outros países da América, no Brasil o consumo de maconha é proibido – inclusive para uso medicinal.
III- Uruguai, Canadá e alguns estados estadunidenses encontram-se em situação relativamente semelhante no que se refere ao uso de drogas. Isso porque, em tais países, ocorrem a descriminalização da maconha, a possibilidade de seu uso medicinal e a realização de políticas de redução de danos para dependentes e usuários em geral.
IV- Brasil, Argentina e Chile encontram-se em situação semelhante no que se refere às drogas. Nesses países, não apenas se admite a maconha para uso medicinal como também o uso de drogas em geral é legalizado.
V- México, Colômbia, Chile e Argentina encontram-se em situação semelhante no que se refere à situação legal em relação às drogas. Neles, a maconha é admitida para uso medicinal e o consumo de drogas deixou de ser criminalizado.
VI- Entre 2015 e 2016, a produção de cocaína foi maior do que a de ópio, o que preocupa os governos da América, uma vez que a primeira é proveniente sobretudo da Colômbia.
São corretas apenas as afirmações:
a) Todas.
b) I, III e V.
c) I, II e III.
d) II, III, V e VI.
e) III, IV, V e VI.
(texto 2 – o estado de são Paulo, 10 de maio de 2015)
Drogas na adolescência
Um relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA), divulgado há duas semanas, apontou uso elevado de drogas entre adolescentes, associado a uma baixa percepção dos riscos que essas substâncias podem trazer.
Por Jairo Bouer
O Relatório sobre Uso de Drogas nas Américas 2015, divulgado pela agência de notícias AFP, revela ainda a facilidade de acesso às drogas, bem como a ampla variedade delas.
O consumo de maconha pelos jovens de 13 a 17 anos, por exemplo, teria aumentado em todo o continente americano no último ano, com o Chile ocupando o primeiro posto. Para especialistas, o uso da droga combina dois pontos importantes: o jovem não vê riscos na droga e, ainda, percebe que ela é muito acessível. Seis em cada
dez adolescentes disseram que é fácil conseguir maconha. A combinação desses fatores pode explicar a explosão do seu uso entre os mais novos.
O arranjo entre baixa percepção de risco, facilidade de compra, capilaridade da distribuição e ampla variedade de substâncias pode explicar, também, o aumento do consumo pelos jovens de outra categoria de drogas, as novas drogas sintéticas,* em boa parte do mundo, incluindo a América Latina.
De 2008 a 2013, segundo o Escritório de Drogas e Crimes das Nações Unidas (UNODC), foram identificadas mais de 350 novas drogas sintéticas. Elas costumam funcionar como forte atrativo para os jovens, já que são consideradas as “drogas da vez”, com certo apelo de moda e modernidade. Na Europa, muitos jovens já trocam as drogas tradicionais, como maconha e cocaína, pelas novas sintéticas.
[…]
O fenômeno do uso de drogas pelos jovens não é novidade, mas uma série de pesquisas tem reforçado que o início do contato é cada vez mais precoce. Quanto mais cedo começa esse consumo, maiores os riscos de abuso, dependência e problemas de saúde.
Sem poder avaliar o impacto que o uso de substâncias pode ter em sua vida (muitas vezes, sem nem ter noção do que está sendo consumindo), o jovem se torna uma presa fácil dessa nova categoria de drogas.
Os médicos têm visto casos cada vez mais graves de confusão mental, agressividade, delírios, surtos de ansiedade e alucinações em jovens que consomem as novas drogas sintéticas. Sem contar problemas como hipertermia, convulsões, crises de hipertensão, arritmias cardíacas e enfarte, que colocam a vida em risco.
Além de identificar cada vez mais rápido as novas drogas, seria importante trabalhar com os mais jovens (em casa, na escola, na mídia, na internet) a noção de que é difícil prever o impacto que uma substância pode ter no corpo, nas emoções e no comportamento, quando mal se sabe o que está sendo consumido. Além disso, contaminações por outros produtos e problemas de dosagem (já que elas são produzidas, em geral, em laboratórios clandestinos) tornam essa previsão ainda mais incerta e perigosa.
*As drogas sintéticas são aquelas produzidas a partir de uma ou várias substâncias químicas psicoativas que provocam alucinações no homem por estimular ou deprimir o sistema nervoso central. Existem também as drogas semi-sintéticas que são produzidas através de drogas naturais quimicamente alteradas em laboratórios.
Questão 3
Com base no texto acima (texto 2), assinale a alternativa ERRADA.
a) As inúmeras drogas sintéticas que vêm sendo criadas possuem um apelo junto aos jovens por serem consideradas “modernas”, “da moda”. Na Europa, inclusive, nota-se um avanço no consumo de tais entorpecentes, em detrimento de drogas tradicionais.
b) O desconhecimento a respeito dos danos causados pelas drogas e a relativa facilidade de acesso a elas são fatores que contribuem para o aumento do consumo entre os adolescentes.
c) O avanço do consumo de drogas sintéticas entre adolescentes vem preocupando os médicos, uma vez que é nessa faixa etária que elas mais causam danos.
d) O avanço do consumo de drogas sintéticas fez com que o uso da maconha diminuísse na América entre os adolescentes.
e) O texto aponta para a necessidade de conscientizar os jovens sobre os malefícios do consumo das novas drogas sintéticas. Isso porque, justamente por serem muito recentes, é difícil calcular o impacto que elas podem causar no corpo e na mente.
Parte II – drogas lícitas
(Texto 3 – Folha de São Paulo, 26 de agosto de 2017)
Estratégias de redução de danos devem considerar indivíduo e sociedade
Estratégias de redução de danos não podem ser encaradas como instrumentos genéricos e burocráticos aplicáveis em quaisquer casos: para funcionar, precisam ser pensadas não só levando em conta o indivíduo, mas o contexto em que serão aplicadas.
A afirmação vale tanto para drogas ilícitas como as lícitas (tabaco e álcool), concordaram especialistas que integraram as mesas do seminário “Mudança de Hábitos e Redução de Danos à Saúde”, realizado pela Folha na quarta-feira (23), no auditório da Unibes, com o patrocínio da Philip Morris.
Rubens Adorno, da Faculdade de Saúde Pública da USP, citou uma medida simples, mas de ótimo resultado: “Em Diadema, as equipes convenciam os donos de bares a só vender o segundo copo de cachaça após o sujeito beber um copo americano de água. É uma estratégia de redução de danos, voltada para bebedores crônicos.
“Saber a quantidade de álcool consumida por uma população não basta, portanto, para planejar uma política pública. É necessário entender de que forma e em que ambiente se consome a bebida. “Na França, toma-se muito vinho, mas só se considera um problema quando a pessoa começa a beber sozinha”, exemplifica Adorno.
A decisão pela abstinência deve ser tomada pelo paciente, ouvindo o médico. “Não dá para impor, precisa ser acordado”, diz o psiquiatra Arthur Guerra, coordenador do projeto Redenção.
Em relação ao tabaco, os especialistas são unânimes em dizer que a abstinência é a solução. “Fumar é perigoso e hoje está claro para a população que, se você fuma, deve parar; se você não fuma, não deve começar”, diz o britânico Nveed Chaudhary, representante da Philip Morris.
Quem não consegue ou se recusa a abandonar o vício precisa se conformar de que não existe uma quantidade segura de cigarros por dia. “Algumas pessoas poderão fumar sem desenvolver doenças e outras, mais frágeis, não”, alerta Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP.
O cigarro eletrônico ou os dispositivos que aquecem o tabaco podem ser alternativas menos danosas à saúde. “Não há fumaça, então você reduz a exposição a uma série de substâncias tóxicas. Ao eliminar esses compostos, há redução de risco”, explica a toxicologista Alice Chasin, da Faculdade Oswaldo Cruz.
O risco dos dispositivos é o de atrair não fumantes para o vício da nicotina. “A sociedade levou décadas para se convencer de que cigarro faz mal, não podemos perder isso, mudanças culturais são muito lentas”, disse Saldiva.
O ideal é que o poder público ofereça possibilidades que possam atender diferentes necessidades -inclusive as de pessoas que não querem tratamento, declarou Quirino Cordeiro, coordenador nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde.
Segundo Cordeiro, são eficazes medidas como aumento de imposto sobre bebida e cigarro, restrição à publicidade e fiscalização para evitar que os grupos mais suscetíveis, como os jovens, tenham acesso a esses produtos.
A educadora Isabela Tremarin lembrou que só em 2015 tornou-se crime vender álcool para menores de idade. “O Estatuto da Criança e do Adolescente existe desde 1990, mas demorou todo esse tempo para que fosse possível punir quem disponibiliza bebida para adolescentes.”
[…]
Questão 4
Das análises e informações presentes no texto acima (texto 3), depreende-se que:
a) Para o combate ao consumo de drogas é preciso focar nos dados numéricos e traçar políticas públicas de caráter amplo e homogeneizador.
b) Assim como no caso do vinho, a diminuição no consumo do cigarro traz redução de danos, uma vez que já ficou comprovado que existem níveis seguros de exposição à fumaça do cigarro.
c) Medidas como aumento de impostos, restrição de publicidade e fiscalização são ineficazes no combate ao consumo de cigarro e bebida. No caso do cigarro, a solução apontada pelos especialistas é a disseminação do dispositivo eletrônico.
d) As políticas públicas não devem agir sobre indivíduos que se recusam ao tratamento, uma vez que o consumo de drogas é uma questão de foro íntimo e as instituições não podem se imiscuir nas escolhas dos indivíduos.
e) A redução de danos ao usuário de drogas envolve políticas públicas que levem em consideração questões sociais e aspectos individuais específicos – uma vez que os casos são diferentes e cada indivíduo reage de maneira distinta em relação ao vício e seus malefícios.
Autor: Professor Eduardo Gramani Hipolide
Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.