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Atualidades I (2017) – O crescimento de doenças de países industrializados na Africa.

A charge abaixo é do cartunista Carlos Latuff e foi publicada no site Opera Mundi do dia 17 de outubro de 2014. O mapa e o texto que vêm na sequência foram publicados na revista Le Monde Diplomatique em março de 2017. Analise tudo com atenção e responda às questões propostas.

 

 

Carlos Latuff /Opera Mundi

 

TEXTO

DOENÇAS DO NORTE MIGRAM PARA A ÁFRICA

Sinal das transformações em curso na África, as doenças ditas de “países desenvolvidos”, como diabetes e problemas cardiovasculares, se propagam por todo o continente. Se os novos hábitos alimentares estão também em questão, essa degradação da saúde da população origina-se na urbanização acelerada e nas práticas da agroindústria

por: Frédéric Le Marcis

 

(DNTs) – diabetes e doenças cardiovasculares, sobretudo – deverão provocar mais mortes que as transmissíveis, entre elas a aids. Se, no imaginário ocidental, o continente sempre foi visto como uma terra de risco sanitário em razão da malária, da febre amarela, depois da aids e do ebola, hoje ele sofre uma espécie de “dupla punição”: um pesado tributo pago às doenças infecciosas e uma alta das DNTs que onera tanto os sistemas de saúde como as famílias, primeiras provedoras de cuidados.

[…] As DNTs matam a cada ano mais de 36 milhões de pessoas no mundo. Quatro quintos das mortes provocadas pelas DNTs – ou seja, 29 milhões – se produzem em países com renda baixa ou intermediária: Senegal, Camarões, Congo-Brazzaville, Gabão… Seu surgimento está ligado à transformação dos modos de vida, de que a urbanização rápida é um acelerador. Pouco antes de os países se tornarem independentes, apenas 15% da população do continente vivia nas cidades; hoje, a cifra se aproxima de 38%. Essa dinâmica provocou uma mudança dos hábitos alimentares (o consumo de carne tornou-se mais regular, e o óleo, sal e bebidas açucaradas, como refrigerantes, aumentou), ao mesmo tempo que as pessoas se tornaram mais sedentárias. A isso se acrescenta o aumento do consumo de álcool, o tabagismo e a exposição a produtos químicos. A falta, ou mesmo ausência, de programas de prevenção é questionada com frequência, assim como as disposições genéticas de certas populações. No entanto, esses argumentos, que devolvem às pessoas sua responsabilidade (inata ou adquirida), não devem fazer que se esqueça a imensa responsabilidade da agroindústria, que inunda os mercados africanos de produtos baratos, porém de má qualidade. A substituição da sumbala (uma especiaria produzida com sementes de uma árvore chamada Parkia biglobosa) pelo cubo Maggi, cuja venda se apoia em uma grande campanha publicitária, simboliza esses desvios da normalidade. Os governos são os únicos em condições de regular a distribuição dos produtos e difundir as informações necessárias para as populações, a fim de que estas possam cuidar de seu bem-estar.

Coexistência da má nutrição e da obesidade

[…] Nos países africanos mais pobres, estima-se que 75,1% dos indivíduos que convivem com diabetes mellitus não sejam diagnosticados. Naqueles que têm rendas baixas ou intermediárias (Gabão, África do Sul e Quênia, por exemplo), a atenção – justificada – dada às doenças transmissíveis (como HIV/aids, tuberculose e malária) freou o reconhecimento das DNTs.

[…] Entre os fatores de risco, a má alimentação preocupa particularmente por causa de suas consequências no desenvolvimento das crianças. O sobrepeso predispõe às doenças cardiovasculares e à diabetes. Ora, as crianças dos países com rendas baixas e intermediárias são particularmente vulneráveis aos problemas de peso. Elas sofrem de uma alimentação insuficiente no período pré-natal, infantil e juvenil e, na sequência, sentem os efeitos de uma comida medíocre, com frequência muito rica em gordura, açúcar e sal, que apresenta baixa qualidade nutritiva. Consequentemente, a má nutrição e a obesidade coexistem.

Essas transformações vêm sendo apontadas pela OMS desde 1991, sem uma reação adequada dos poderes públicos. Em 2002, a organização reiterou seu apelo para redobrar esforços e enfatizou as consequências sanitárias da transição nutricional. Na época, as desigualdades profundas entre o Norte e o Sul, mas também entre as elites […] e a população sem acesso aos cuidados, já eram conhecidas. No entanto, a irrupção da epidemia de aids no final dos anos 1980 e a introdução de programas maciços de luta contra a síndrome (criação da Onusida*) anunciaram o fim de 25 anos de investimento voltado para a diabetes e outras patologias não transmissíveis. Se os programas verticais – que concentram financiamento e agentes de saúde no tratamento de um única patologia – consagrados ao HIV suscitaram a esperança de erradicação da doença, isso se fez em parte em detrimento do financiamento da luta contra outras patologias. […]

Agora que a luta contra as DNTs volta à ordem do dia, promovida sobretudo pela OMS, o desenvolvimento simultâneo das epidemias ebola e zika lança nova ameaça de ocultação. O engajamento de países mais ricos no financiamento da saúde global obedece mais à percepção de um eventual risco para os países do Norte que a um impulso humanitário baseado na análise de dados epidemiológicos. Se a malária, a diabetes ou a mortalidade materna fossem contagiosas, a cara da saúde global seria sem dúvida diferente.

A diabetes tipo 2, a mais comum na África, é uma doença evolutiva que pode exigir o uso de insulina. Os sistemas de saúde dos países menos desenvolvidos carecem de instrumentos de diagnóstico, vigilância (como os meios de estabelecer a taxa de hemoglobina glicosilada a fim de prevenir uma complicação) e formas de tratar a diabetes que não a amputação em casos graves. Os programas de prevenção e educação do paciente são insuficientes, e os meios financeiros dos mais pobres não lhe permitem seguir um regime alimentar adequado.

[…] Hoje, lutar contra a diabetes e mais amplamente contra as DNTs supõe tornar disponíveis instrumentos de diagnóstico e de tratamento, assim como competências específicas, mas igualmente lutar contra as desigualdades, construir um sistema de saúde justo e eficaz e se opor aos lobbies ** da agroindústria que inundam o continente com refrigerantes e alimentos que favorecem o surgimento da doença. […]

Esperemos que as novas emergências de ebola e zika não venham frear o frágil reconhecimento das doenças não transmissíveis e o chamado para propor uma resposta política global.

*Onusida é o programa das Nações Unidas criado em 1996 e que tem a função de criar

soluções e ajudar nações no combate à AIDS.

** Lobby: atividade de pressão de um grupo organizado (de interesse, de propaganda

etc.) sobre políticos e poderes públicos, que visa exercer sobre estes qualquer influência

 

MAPA

 

1- Analisando exclusivamente as informações do texto, assinale a alternativa que NÃO TEM NADA A VER com as razões do crescimento das DNTs (doenças não transmissíveis) na África.

a) A rápida urbanização verificada no continente, que muda hábitos alimentares e estilos de vida.

b) O crescimento da agroindústria, que leva à fabricação e à oferta de alimentos baratos, mas ricos em gordura e pobres em nutrientes.

c) A concentração das atenções no combate às doenças infecciosas, sobretudo a aids.

d) O descaso das famílias em prover os cuidados necessários aos doentes e os hábitos viciosos da população em geral.

e) A falta de programas de prevenção e, até mesmo, certas disposições genéticas encontradas em algumas populações do continente.

 

2- Segundo o texto, fica evidente a necessidade de se combater as DNTs na África. Mas, para que o combate seja efetivo no continente, o autor só NÃO sugere:

a) uma oposição eficaz contra a influência das corporações da agroindústria, que inundam o mercado africano de refrigerantes e alimentos de má qualidade;

b) a criação de mecanismos que favoreçam o diagnóstico e o tratamento dessas doenças;

c) a criação de incentivos fiscais para atrair as indústrias alimentícias estrangeiras, aumentando a concorrência e, dessa forma, melhorando a qualidade da alimentação das populações africanas;

d) o combate às enormes desigualdades sociais verificadas nos países do continente;

e) a necessidade de impedir que o crescimento de doenças que ameaçam o mundo ocidental venha apagar a preocupação com as DNTs.

 

3- Relacione o conteúdo da charge com as informações do texto e assinale a alternativa correta.

a) A charge, apesar de seu conteúdo crítico, refere-se à possível disseminação das doenças infecciosas (no caso, o ebola) da África para o mundo ocidental; o texto, em sentido quase inverso, enfatiza o crescimento de doenças típicas dos “países industrializados” na África.

b) A charge denota a preocupação efetiva da comunidade internacional em relação às doenças e aos problemas africanos; já o texto deixa claro o descaso generalizado do mundo ocidental frente à ameaça de expansão das epidemias típicas de países pobres.

c) O texto trata exclusivamente das DNTs (doenças não transmissíveis) e nada diz sobre as patologias contagiosas; a charge, por sua vez, enfatiza a necessidade de combate às epidemias africanas (sobretudo o ebola).

d) Em alguns momentos, a charge e o texto estão de acordo. Isso porque, assim como a primeira, o segundo afirma que os países do Norte (sobretudo ocidentais) preocupam-se principalmente com a expansão das doenças contagiosas, devido aos riscos de sua disseminação em âmbito mundial.

e) As letras a e d conjugadas.

 

4- Analisando o mapa que apresenta a porcentagem de mortes ligadas a doenças cardiovasculares em 2016, podemos afirmar que:

a) Quênia, Serra Leoa e Congo apresentam uma incidência de mortes semelhante a de países como África do Sul, Namíbia e Botswana;

b) países como Serra Leoa, Nigéria e Congo apresentam uma porcentagem de mortes maior do que África do Sul, Namíbia e Madagascar;

c) países da África subsaariana (ao sul do Deserto do Saara) apresentam uma incidência de mortes relativamente igual ao dos países do norte;

d) Ilhas Maurício e Cabo Verde apresentam uma porcentagem de mortes idêntica a de países como Argélia e Egito;

e) a incidência de mortes por conta dessas doenças parece ser maior na África saariana.

 

5- Relacionando as informações do texto com as do mapa, podemos concluir que:

a) os países da África subsaariana (ao sul do Saara) possuem um padrão de vida mais elevado e uma parcela maior da população vivendo em grandes cidades;

b) os países do norte da África possuem um padrão alimentar mais saudável porque pobre em açúcares e gorduras, mas rico em nutrientes;

c) os países do norte possuem uma população mais urbana e padrões alimentares mais parecidos com os de países industrializados;

d) os problemas de obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes afetam de maneira homogênea todos os países da África;

e) comparados com os países do norte, os do extremo sul devem apresentar uma alimentação mais rica em gorduras e calorias.

 

Autor: Eduardo Gramani Hipolide

 

 

 

 

 

 

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