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Atualidades L (2018) – Questão da Moradia II – Gentrificação

 (Texto 1 – revista veja, 26 de novembro de 2017) 

Gentrificação, o que é isso? 

Por Sérgio Rodrigues 

A palavra gentrificação, forma aportuguesada do inglês gentrification, tem sido vista no noticiário com frequência ainda pequena, mas crescente, e parece a caminho de se firmar em nosso vocabulário. 

O principal mérito do substantivo gentrificação – ato ou efeito de gentrificar, outro vocábulo emergente, também importado do inglês – é o de nomear de forma sucinta um fenômeno complexo. A tradução “enobrecimento urbano”, favorecida por alguns estudiosos, precisa de duas palavras para dar o mesmo recado. 


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Na definição do Aulete, que largou na frente entre os grandes dicionários brasileiros no registro da palavra, gentrificação é “processo de recuperação do valor imobiliário e de revitalização de região central da cidade após período de degradação; enobrecimento de locais anteriormente populares [Processo criticado por especialistas em planejamento urbano e urbanismo.]” 

A definição é competente, embora a referência às áreas centrais das cidades, onde o fenômeno é mais frequente, possa dar a impressão errônea de que a gentrificação se limita a elas. Chega ao luxo de registrar de passagem o que o processo tem de controverso, com seus prós e seus contras: investimento em infraestrutura, revitalização econômica e redução da criminalidade costumam vir acompanhados de grande valorização dos imóveis, aumento do custo de vida e expulsão de parte dos moradores antigos para vizinhanças distantes. 

O verbo inglês to gentrify é derivado de gentry, “nobreza, fidalguia”, uma velha palavra oriunda, via francês, do latim gentilis, “da mesma família ou raça”. Nosso vocábulo gentil tem a mesma raiz e, antes de se firmar com o sentido de “delicado, elegante, fino”, queria dizer “fidalgo, de boa linhagem”. A pouco usada palavra gentil-homem (do francês gentilhomme), isto é, cavalheiro, guarda vivo tal sentido. 

Informa o dicionário Oxford que desde o século XIX o adjetivo gentrified era usado para se referir a pessoas que, tendo origem humilde, haviam subido na vida, como se diz. Mas foi só nos anos 1960 que a palavra gentrification ganhou, inicialmente no meio acadêmico, a acepção urbanística que importamos. 


(Texto 2- Folha de são Paulo, 6 de dezembro de 2015) 

Os dois lados da gentrificação 

Por Claudio Bernardes 

O termo gentrificação surgiu em 1964, em Londres, para descrever o movimento de mudança das famílias de classe média para regiões menos valorizadas da cidade e primordialmente habitadas por operários. Desde então, esse fenômeno, presente no processo de desenvolvimento urbano de vários locais do mundo, tem sido objeto de debate. 

Esse deslocamento das famílias acontece paralelamente a investimentos, tanto na renovação das moradias quanto em estabelecimentos comerciais e de serviços, 

ocasionando, portanto, mudanças no mercado imobiliário local, sendo a principal delas a valorização das áreas envolvidas no processo. 

A principal crítica ao modelo de gentrificação é que os moradores da região, principalmente aqueles que residem em habitações alugadas, acabam sendo expulsos da vizinhança em função do aumento do custo de vida local, provocado pela valorização advinda do afluxo de famílias de maior renda. 

Por outro lado, ficam claros os benefícios incorporados à região. O processo acaba trazendo uma série de vantagens aos moradores antigos, traduzidas principalmente pela significativa elevação no valor de suas propriedades e a criação, na região, de novos negócios e empregos com melhor remuneração. 

Além disso, a ocupação por famílias de maior renda, a partir de determinado momento, passa a ser feita não só pela mudança de moradores locais, mas dentro de um processo normal de realocação e ocupação de imóveis, num ciclo virtuoso de melhoria da região. 

Em que pesem os argumentos a favor ou contra, a verdade é que devem prevalecer no desenvolvimento urbano os processos que efetivamente melhorem as condições de vida nas cidades, estabelecendo-se mecanismos sociais que possam mitigar os efeitos colaterais negativos, quando existirem. 

Questão 1 

Com base nos dois textos acima, analise as afirmações abaixo. 

I- A gentrificação é um fenômeno caracterizado pela revitalização de bairros ou regiões antes deteriorados e que passam a ser cada vez mais valorizados. 

II- A expressão gentrification foi criada na década de 1960 para designar o processo constante de degradação das áreas centrais por meio do crescimento das cidades rumo às regiões periféricas. 

III- O termo gentrificação pode ser utilizado para descrever o processo de recuperação do valor imobiliário tanto em regiões centrais quanto em bairros periféricos. 

IV- A palavra gentrification pode ser traduzida por “enobrecimento urbano”, uma vez que gentry, em inglês, significa “nobreza, fidalguia”. Sendo assim, a expressão se refere ao processo de transformações por meio das quais um bairro – ou uma região – se revitaliza, levando parte dos moradores pobres a mudar para outras áreas (geralmente mais distantes). 

V- Os críticos do fenômeno da gentrificação questionam, no processo, a expulsão dos antigos moradores que, por conta do aumento do custo de vida, são obrigados a mudar para outras regiões; já os defensores do fenômeno enfatizam as melhorias pelas quais a área gentrificada passa – além da concomitante valorização dos imóveis. 

VI- O mercado imobiliário rechaça as mudanças na paisagem resultantes do processo de gentrificação. Isso porque tais transformações quase sempre acabam deteriorando o lugar e desvalorizando os imóveis. 

São verdadeiras as afirmações: 

a) I, III, IV e V; 

b) II, V e VI; 

c) IV e VI; 

d) I, II, III e V; 

e) I, III e IV. 


(texto 3 – Folha de são Paulo, 6 de novembro de 2018) 

Prédio popular vira uma ‘fortaleza’ na cracolândia e esquece projeto original 

Governo de SP prometeu livre circulação pelo condomínio, mas moradores resistem com muros e arame farpado 

Por Thiago Amâncio 

Um caminho arborizado e com livre circulação de pessoas, além de mercado, creche, escola de música e lojas embaixo dos prédios, no que seria uma espécie de continuação da praça Júlio Prestes, no centro de São Paulo, em frente à estação de trem de mesmo nome. 

Foi o que prometeu o Governo de São Paulo ao construir cinco prédios para habitação popular em plena cracolândia, na capital paulista. 

Hoje, porém, quem passa pelos novos edifícios dá de cara com uma dupla proteção de muros, um de alvenaria e um de ferro, ambos com arame farpado. Tem ainda portaria, grades, polícia e centenas de usuários de crack. 

Uma parceria público-privada que começou na gestão estadual de Geraldo Alckmin (PSDB) construiu 914 apartamentos em plena cracolândia, e vai erguer mais três prédios, com 216 apartamentos. 

Além das moradias, haverá lojas, creche para 200 crianças, mercado e a nova sede da Emesp (Escola de Música de SP – Tom Jobim). 

Como a intenção é revitalizar a região e tirar de lá os dependentes de drogas, o projeto original não prevê muros ao redor dos prédios, em consonância com o que dizem manuais de urbanismo. 

Os moradores dos novos prédios, temerosos com a vizinhança, já se organizam para evitar a retirada das barreiras, o que, dizem eles, traria risco de invasão e assaltos. 

Eles recolhem assinaturas em um abaixo-assinado e fazem reuniões periódicas para definir como articularão a permanência das barreiras. 

[…] 

À reportagem, a gestão de Covas, que foi vice-prefeito de Doria, diz que as obras no local dependem de aceitação dos moradores. Ela afirma que criaram um conselho gestor e debatem as propostas de intervenção –e que o processo está no cronograma previsto. 

A previsão é que a proposta seja aprovada pelo conselho gestor até o fim deste ano e que as obras sejam iniciadas em 2019 —Doria havia prometido que os equipamentos seriam entregues até dezembro do ano que vem. 

No entorno, uma quadra inteira foi demolida para dar lugar à nova sede do hospital Perola Byington, cuja promessa é de que já estivesse funcionando em 2017. Famílias foram retiradas da região e suas casas, demolidas, mas, conforme a Folha mostrou em junho, no entanto, as obras foram paralisadas. 

A Secretaria de Estado de Saúde, que toca a construção, não respondeu qual a nova expectativa de conclusão. Afirmou que a pasta “aguarda a aprovação dos trâmites pelo conselho gestor” dos antigos moradores da quadra “para dar andamento às obras”. 

Charge de Laerte

Questão 2 

Relacione as informações da reportagem (texto 3) com o conteúdo da charge e assinale a alternativa errada. 

a) Podemos afirmar que o projeto encampado pelo governo estadual na região da cracolândia possui traços de gentrificação, uma vez que prevê não só a construção de novas moradias como também a revitalização do lugar por meio da construção de lojas e da oferta de inúmeros serviços aos novos moradores. 

b) Assim como a charge, a reportagem também mostra que existe uma intenção de retirar os usuários de drogas da região da cracolândia. 

c) O conteúdo da charge não estabelece relação com o da reportagem. Isso porque a primeira faz menção explícita ao fenômeno da gentrificação, enquanto que a segunda se refere a um projeto de incorporação dos antigos moradores da região central ao projeto de revitalização encampado pela Prefeitura e pelo governo estadual. 

d) Podemos afirmar que o caso mencionado na reportagem encerra um paradoxo. Isso porque o projeto de revitalização, que seria do interesse dos novos moradores, sofre rejeição deles próprios – que estão temerosos de um contato maior com os usuários de drogas. 

e) Na reportagem, a repulsa aos usuários de drogas da cracolândia fica evidente na própria reação dos moradores; na charge, a mesma repulsa é evidenciada por meio da ação das autoridades e das forças policiais. 


Autor: Professor Eduardo Gramani Hipolide

Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.

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