(texto 1; reportagem publicada em o estado de são Paulo – 5 de dezembro de 2017)
http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20170105-45005-nac-1-pri-a1-not
Morte de ex-ditador do Iêmen deixa Irã e Arábia Saudita perto de conflito
Ali Abdullah Saleh foi morto em ataque de rebeldes houthis, que recebem armas e treinamento do governo iraniano; assassinato do principal líder político iemenita deixa país mais distante de uma resolução de curto prazo para a guerra civil
SANAA – Os rebeldes iemenitas houthis mataram nesta segunda-feira, dia 4, o ex-ditador Ali Abdullah Saleh, de 75 anos, na capital do Iêmen, Sanaa, após um ataque ao complexo de casas que ele vivia com a família. O assassinato deve tornar ainda mais volátil o já tumultuado cenário da guerra no Iêmen e aumentar a tensão entre os dois arquirrivais regionais, Irã e Arábia Saudita, que apoiam lados opostos no conflito.
A morte de Saleh parece ser mais um capítulo na rivalidade crescente entre Arábia Saudita e Irã. O conflito no Iêmen é mais um palco da guerra indireta entre as duas potências do Oriente Médio que disputam a hegemonia regional.
A ferrenha rivalidade entre Riad e Teerã aumentou nos últimos anos. A expansão do regime dos aiatolás no Irã levou a Arábia Saudita a usar seu poder para impedir o domínio regional do rival. Por décadas, essa rivalidade inflamou a violência em regiões já atormentadas pela guerra e criou novas zonas de conflito no Oriente Médio.
Desde a ascensão de Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro do trono saudita, com sua ambição de tornar a Arábia Saudita a potência hegemônica no Oriente Médio, Riad intensificou o patrocínio a Estados sunitas com populações xiitas, caso do Bahrein e do Iêmen, e apoiou milícias sunitas que lutam contra regimes apoiados pelo Irã, como no caso da Síria.
No Iêmen, o Irã apoia com armas e treinamento os houthis. Nos últimos meses, os rebeldes já dispararam dois mísseis balísticos contra a Arábia Saudita – ambos foram interceptados pelo sistema antimíssil saudita. Já a Arábia Saudita apoia os sunitas do Iêmen e usa seu poderio militar e aéreo para bombardear e atacar territórios dominados pelos xiitas.
DITADOR.[…]Saleh era uma das principais figuras políticas do Iêmen e sua morte reduz ainda mais as esperanças de uma resolução do conflito no curto prazo. […]
Saleh mudou de lado algumas vezes nos últimos dois anos […].
Depois de ele deixar o cargo, em 2012, forçado pelos países do Golfo a renunciar depois dos protestos que tomaram conta do Iêmen na esteira da Primavera Árabe, Saleh forjou uma aliança com os houthis para tentar voltar a ter relevância política.
[…]
No sábado, Saleh trocou de lado mais uma vez. Em um discurso televisivo, culpou a “idiotice” dos xiitas houthis pelos anos de guerra no Iêmen. […].
O coordenador da ONU no Iêmen, Jamie McGoldrick, pediu na segunda-feira, dia 4, um cessar-fogo humanitário de um dia no Iêmen para que mulheres e crianças possam buscar comida e água. “Milhares de iemenitas estão trancados em casa para se proteger dos tiroteios, é muito triste, pois não há o que fazer”, afirmou McGoldrick. /AFP, REUTERS e NYT
Questão 1
Relacione as informações da reportagem com as do mapa temático abaixo e assinale a alternativa ERRADA.
a) O Iêmen é palco de um conflito indireto entre Irã (xiita) e Arábia Saudita (sunita), potências que disputam a hegemonia no Oriente Médio.
b) Os rebeldes houthis, que recebem apoio do Irã e dominam a capital do Iêmen (Sanaa), opõem-se frontalmente à coalizão de aliados sob o controle decidido da Arábia Saudita.
c) Além da capital (Sanaa), os rebeldes houthis controlam boa parte da porção leste do Iêmen, muito embora a maior porção territorial do país ainda esteja nas mãos de uma coalizão liderada pela Arábia Saudita.
d) Devido à ausência de grupos terroristas no Iêmen, Arábia Saudita e Irã resolveram assinar um acordo de paz visando o fim do conflito que já causou a morte de milhares de civis.
e) Em parte, o atual conflito se remete aos acontecimentos que marcaram a Primavera Árabe, onda de protestos que varreu o mundo árabe e fez com que muitos governos, incluindo o de Saleh, caíssem – gerando instabilidade institucional e conflitos complexos.
(texto 2; publicado originalmente na revista The economist. versão abaixo publicada em o estado de são Paulo – 5 de dezembro de 2017)
http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20170105-45005-nac-1-pri-a1-not
Para encerrar a guerra no Iêmen
Negociações deveriam envolver uma retirada escalonada dos combatentes houthis e o fim dos bloqueios sauditas
O Iêmen perdeu há muito o título de “Arabia Felix”, ou “Arábia Feliz”. Ele vem sendo castigado com guerras civis, tribalismo, violência jihadista e uma pobreza de apavorar. Mas nada disso se compara à desgraça hoje infligida ao país pela guerra entre uma coalizão liderada pelos sauditas e os houthis, uma milícia xiita apoiada pelo Irã.
A ONU calcula que 75% dos 28 milhões de iemenitas necessitam de algum tipo de ajuda humanitária. Acúmulo de lixo, falta de esgoto e abastecimento precário de água levaram ao pior surto de cólera da história recente. O país está à beira da fome. A desintegração da economia deixou o povo diante de escolhas impossíveis. Todo dia, o hospital Al-Thara, em Hoeida, tem de decidir quais equipamentos essenciais vai usar, pois a escassez de combustível não permite que se usem todos ao mesmo tempo.
O pior é que o mundo parece não se abalar mais com isso, calejado por anos de derramamento de sangue na Síria e em outras partes do Oriente Médio e sentindo-se impotente para tentar reverter a situação. Para usar uma abordagem cínica, o Iêmen fica muito mais longe da Europa do que a Síria e sua castigada população, em geral, não perturba o Ocidente em busca de asilo.
O mundo, porém, se esquece do perigo que poder vir do Iêmen. Vamos esquecer por um momento a obrigação elementar de aliviar o sofrimento da população civil e protegê-la. A crise iemenita é uma questão internacional. O mundo não pode tolerar que mais que um Estado se torne incubadora do terrorismo global. O Iêmen domina o Estreito de Bab al-Mandab, passagem de navios que utilizam o Canal de Suez. E, gostando ou não, o Ocidente já está envolvido com o problema. A coalizão saudita usa aviões e munição ocidentais e satélites do Ocidente orientam seus bombardeios.
Como muito do que acontece hoje no mundo árabe, a agonia do Iêmen tem raízes nos levantes de 2011 conhecidos como Primavera Árabe. Protestos em massa, pressões dos petro-Estados vizinhos e o quase assassinato do então presidente, Ali Abdullah Saleh, o forçaram a renunciar, em 2012, em favor de seu vice, Abd Rabbo Mansour Hadi. Um esboço de Constituição de 2015 propunha um sistema federal de governo e um Parlamento dividido entre moradores do norte e do sul. Os rebeldes houthis, porém, que haviam lutado contra Saleh, rejeitaram a proposta. Seguidores do ramo zaidita do xiismo (como 40% dos iemenitas), os houthis queixavam-se, entre
outras coisas, de que a nova Constituição os deixava confinados numa região de poucos recursos e sem acesso ao mar.
Ex-aliados de Saleh, que viu uma oportunidade de voltar ao poder, os houthis expulsaram Hadi da capital, Sanaa, e o fizeram fugir para Áden. A Arábia Saudita montou uma coalizão de países árabes e milicianos locais – entre eles, islamitas, salafistas e separatistas do sul – e forçou os houthis a recuar parcialmente. Durante o último ano, as frentes de combate quase não se modificaram. Os houthis não são suficientemente fortes para governar todo o Iêmen, mas têm força o bastante para que a Arábia Saudita não consiga derrotá-los.
Como resultado, os iemenitas tornaram-se simples peões na luta regional pelo poder entre Arábia Saudita e Irã. […]
Embora os houthis sejam os responsáveis pelo início das hostilidades e capazes de grande crueldade, os sauditas é que são acusados de crimes de guerra. A acusação geralmente se justifica. Organizações de direitos humanos dizem que os bombardeios sauditas costumam ter como alvo escolas, feiras livres, mesquitas e hospitais. E os bloqueios em terra levantam suspeitas de que os sauditas estejam usando os alimentos como arma de guerra.
Quanto mais a guerra se prolongar, mais os aliados ocidentais dos sauditas serão cúmplices de suas ações. […]
[….]O Iêmen necessita de um governo inclusivo, de eleições e de uma nova estrutura para o Estado. A Arábia Saudita precisa de garantias de que armas iranianas não entrem no Iêmen. Depois, é preciso dinheiro para reconstruir o país.
Nada disso será fácil. Mas uma razoável oferta de paz tem mais probabilidade de desmobilizar os houthis do que mais bombardeios. […]/ TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ
Questão 2
Baseado nas informações e análises do texto acima, assinale a alternativa correta.
a) Os houthis, milícia xiita do ramo zaidita, lutaram contra o regime ditatorial de Saleh e, por isso, recebem apoio irrestrito das potências democráticas do mundo ocidental.
b) Segundo o autor do texto, os próprios iemenitas são protagonistas do conflito em seu país, agindo de forma autônoma e buscando soluções aos problemas inerentes ao processo de consolidação da democracia criada após a Primavera Árabe.
c) Os responsáveis pelo início do conflito no Iêmen, segundo o texto, foram os houthis – muito embora aqueles que perpetram os mais cruéis ataques e impõem barreiras à circulação de mercadorias e à ajuda humanitária sejam os sauditas.
d) Durante os protestos que marcaram a Primavera Árabe no Iêmen, os houthis eram aliados do ex-ditador Saleh. No entanto, quando aquele presidente foi obrigado a renunciar, os houthis encontraram o pretexto para iniciar suas lutas – que duram até hoje.
e) Não obstante a tragédia humanitária vivida pelo Iêmen, o autor do texto defende a ideia segundo a qual o conflito naquele país não diz respeito ao resto do mundo, uma vez que os grupos inimigos já recebem ajuda de potências influentes no Oriente Médio.
Questão 3
Relacione as análises e informações do texto 2 com o conteúdo da charge abaixo e assinale a alternativa ERRADA.
a) Assim como o texto, a charge trabalha com a ideia segundo a qual o “mundo” não se importa com o que, de fato, vem ocorrendo no Iêmen.
b) Texto e charge estão de acordo em mostrar o papel da Arábia Saudita no conflito do Iêmen.
c) Assim como o texto, a charge também denota a participação do mundo ocidental nas operações militares que ocorrem no Iêmen.
d) Charge e texto fazem menção ao sofrimento do povo iemenita em meio a um conflito que causa dor e destruição ao país do Oriente Médio.
e) Assim como o texto, a charge também dá destaque à participação do Irã no conflito iemenita.
Autor: Eduardo Gramani Hipolide
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