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Atualidades XLVI (2018) – Violência na Política

 

 (texto 1) 

Presidência de Trump resume a crise global da democracia 

O mundo vive uma crise global da democracia? A Presidência de Donald Trump, nos Estados Unidos, é um modelo dessa crise, e sua lógica política se assemelha à de líderes latino-americanos históricos como Juan Domingo Perón, na Argentina, ou o venezuelano Hugo Chávez. 

De toda forma, nem todas as crises se explicam a partir do populismo. O contrário parece ser mais o caso na história recente de países como Brasil, Argentina ou Bolívia. 

Em termos de hoje, a crise política do Brasil é muito diferente daquela da Venezuela, e a longa crise de criminalidade e violência no México é diferente da que ocorre nesses casos sul-americanos. 


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Entretanto, é inegável a dificuldade de se pensar a realidade atual sem o conceito de crise. 

A América Latina está passando por uma crise nova e diferente das anteriores? Ou deveríamos considerar a região no quadro de uma crise global que leva os cidadãos de diferentes países a se sentirem cada vez menos representados por seus políticos? 

Viver em crise não é novidade na história política latino-americana. Em ideologias políticas como o fascismo ou em sistemas políticos como as ditaduras das guerras sujas, as crises foram uma parte substancial do edifício totalitário e justificaram a repressão e a opressão. 



Na democracia, a crise tampouco se mostra ausente em nossa história. 

A crise é, sobretudo, uma característica da história global da democracia em geral, mas em nosso continente sempre pareceu apresentar uma agudeza até há pouco desconhecida em outras democracias do pós-guerra. Na Argentina, depois da ditadura e a partir de 1983, a crise unifica períodos de recessão econômica com transições políticas ao populismo (a hiperinflação do final dos anos 1980, a “crise” de 2001); no Brasil, de Fernando Collor de Mello a Michel Temer, a própria Presidência se transforma no centro da crise. 

 

CORRUPÇÃO 

A crise de corrupção no Brasil tem sérias ramificações latino-americanas, não só porque o país é o mais importante da região, mas porque políticos argentinos, peruanos ou colombianos de diferentes bandeiras políticas parecem estar relacionados ao escândalo. 

Esse tipo de crise é típico das democracias nas quais se percebe uma aguda falta de representação sentida por setores importantes da cidadania. Nesse quadro, a corrupção —e a existência de uma forte diferença entre políticos misteriosamente enriquecidos e cidadãos cada vez mais empobrecidos— faz com que o populismo encontre seu fermento e chance de êxito. 

Isso não implica, é claro, que os políticos populistas estejam afastados da corrupção e da crise. O contrário representa melhor a realidade atual. A crise do populismo na Venezuela já tem vários anos, e cada dia parece aproximar o regime de Nicolás Maduro da ditadura pura e simples. 

Mas no populismo essas diferenças não se apresentam como um problema. 

O caso de Recep Tayyip Erdogan na Turquia também é exemplar nesse sentido. As sérias acusações de corrupção ao presidente turco e à sua família não foram um empecilho para levar seu regime a níveis de polarização e agressão que se assemelham aos da Venezuela. 

Em ambos os casos, essa crise populista inclui a eliminação progressiva da principal característica do próprio populismo, a equação populista entre democracia e autoritarismo. 

Quer dizer, se o populismo pode ser definido historicamente como uma forma iliberal de democracia que combina lideranças messiânicas com resultados eleitorais, nos casos da Venezuela e da Turquia os votos são cada vez menos significativos e o presidente se torna cada vez menos populista e se parece mais com um autocrata. 

 

POLARIZAÇÃO 

Esse tipo de resolução quase ditatorial da fórmula populista é excepcional. 

A maior parte dos líderes populistas não escolhe a ditadura, mas todos aguçam o sentido de crise da democracia e a polarização que isso representa. 

Tomemos o caso da potência global mais importante. Donald Trump é o melhor exemplo dessa situação. 

Trump surge como um fenômeno de rejeição, em tom racista e autoritário, da política tradicional. Sua forma de fazer campanha enfatizando que os Estados Unidos e o próprio mundo vivem uma crise terminal que só sua liderança messiânica pode solucionar faz parte de sua prática de governo. 

Cada dia há um novo escândalo e, mais importante, uma nova crise democrática no país do norte, das sérias acusações de conexões russas com a campanha e a família de Trump à demissão do diretor do FBI (polícia federal americana) devido à insistência deste em continuar investigando o presidente por esses assuntos. 

Além disso, e vinculado a essa ruptura dos moldes institucionais tradicionais e aos ataques contra a independência do Poder Judiciário e outras instituições, Trump atacou visceralmente seus adversários, incluindo juízes (chegou a adotar atitudes racistas com um deles), aos mexicanos e à imprensa independente a quem apresentou como “inimigos do povo”. 

Muitos cidadãos americanos, acadêmicos e meios de comunicação incluídos entre eles, se perguntam como a política americana pode ter alcançado níveis tão baixos e como o contexto de crise democrática do país pode parecer tão diferente do passado recente e tão semelhante às crises típicas das democracias latino-americanas. 

Alguns inclusive se perguntam se os Estados Unidos, o lugar fundacional do liberalismo, estão se convertendo hoje ao fascismo ou outras formas de governo ditatorial. 

Mas a lógica política de Trump é mais populista do que fascista. O populismo é uma versão autoritária da democracia que estreita a democracia e a limita sem destruí-la, e que sempre ampliará a crise ao invés de começar a resolvê-la. 

Nesse sentido, de uma perspectiva latino-americana, os Estados Unidos representam cada vez mais um modelo de passado do que uma perspectiva de futuro democrático de igualdade e com ampla participação dos cidadãos nas decisões políticas. 

Trump lidera e amplifica, assim, uma crise global da democracia que é uma verdadeira fábrica de populismos. 

 

Questão 1 

Com relação às informações e análises do texto acima, assinale a alternativa correta. 

a) No que se refere à América Latina, o autor da análise acima cita a corrupção como sendo uma espécie de fermento para a proliferação de discursos autoritários e do distanciamento da população em relação a possíveis soluções provenientes da política tradicional. 

b) No caso da Turquia, o autor avalia que os casos de corrupção em relação ao governo não impediram o avanço da polarização na sociedade. 

c) O autor verifica uma espécie de contradição inerente ao fenômeno do populismo atual na Venezuela e na Turquia. Isso porque, se o populismo histórico ainda dialogava com a democracia, o atual – que se apresenta nesses países – assemelha-se mais ao fenômeno da autocracia. 

d) Assim como outros líderes “salvacionistas” do mundo hoje em dia, Trump também rechaça a política tradicional, liderando e amplificando a crise da democracia. 

e) Para o autor do texto, os líderes emergentes nos países democráticos (incluindo Trump) representam uma clara “solução” fascista diante das angústias vividas pela sociedade numa época de agudas polarizações. 

 

(texto 2) 

Autoritarismo na Polônia desafia regra da União Europeia 

A União Europeia estuda a sua opção nuclear. Não contra a Coreia do Norte, mas contra um de seus próprios países-membros: a Polônia. 

“Opção nuclear” é o apelido do Artigo 7 do Tratado da União Europeia. Chama-se assim porque, além de nunca ter sido ativado, seu efeito é devastador: impõe sanções e retira os poderes de voto de um Estado que for punido. 

É algo que a Comissão Europeia, o poder Executivo do bloco, ameaça fazer para conter o crescente autoritarismo da Polônia, um país que foi o garoto-propaganda da integração regional, depois de deixar o comunismo da União Soviética, e agora serve como um exemplo ruim. 

Essa possibilidade ganhou força nas últimas semanas com os duros discursos do presidente francês, Emmanuel Macron, e da chanceler alemã, Angela Merkel. 

“A Europa foi construída em cima de liberdades públicas que a Polônia está violando”, disse Macron. “Eles estão se colocando nas margens da história europeia.” 

A situação surpreende cientistas sociais, que vinham insistindo na relação entre crise econômica e populismo. Mas a Polônia tem 5,5% de desemprego e o PIB (Produto Interno Bruto) deve subir 3,5% neste ano. 

 

NACIONALISMO 

A disputa atual começou com a vitória do PiS (Partido Lei e Justiça) nas legislativas de 2015, com 235 dos 460 assentos da Câmara Baixa. 

A sigla conservadora de direita, com raízes católicas, baseou sua plataforma em um discurso nacionalista contra a União Europeia. 

“O governo anterior era bastante elogiado na Europa, mas não necessariamente ajudou as pessoas na Polônia”, diz o cientista político Aleks Szczerbiak, da britânica Universidade de Sussex. 

“Há um grupo de poloneses que sentem que, apesar do crescimento, os benefícios foram divididos de maneira bastante desigual. Reconhecem que o país melhorou, mas não sentem”, afirma. 

O PiS adotou programas sociais, por exemplo, entregando 500 szlotys (R$ 440) a cada filho após o primeiro. 

Com a popularidade garantida, o governo propôs uma série de legislações controversas. O controle da mídia, por exemplo, se apertou. 

A Polônia se recusou também a receber sua cota de migrantes no plano de redistribuição de refugiados aprovado pelo governo anterior. A Comissão Europeia estuda aplicar uma multa. 

Os alarmes soaram de vez com as propostas recentes de reformar o Judiciário, que incluem exonerar juízes, nomear substitutos e estabelecer limites à sua atuação. 

Parte delas foram vetadas em julho pelo presidente, ligado ao PiS, após protestos em mais de 280 cidades. Mas devem voltar a ser apresentadas nos próximos meses. 

A União Europeia reagiu dizendo que tais reformas ameaçam o Estado de direito. A Comissão chegou a dar um ultimato em 26 de julho, exigindo uma resposta em até um mês. Expirado o prazo, Varsóvia afirmou não ver problemas com as leis. 

Como a Hungria, outro rebelde europeu, a Polônia diz que o bloco não pode interferir em questões domésticas. 

O governo reforça o discurso de que combate uma burocracia europeia intervencionista —apesar dos protestos, sondagens mostram que o PiS venceria as próximas eleições. “Os setores liberais estão chocados em ver como, depois de 25 anos, um governo conservador foi eleito”, diz Igor Janke, líder do “think tank” conservador Instytut Wolnosci. 

Janke concorda com a crítica de que “algumas das reformas são muito ruins”, mas discorda da conclusão da União Europeia. “Não há uma ameaça à democracia.” 

 

OMBUDSMAN 

O atrito entre o governo polonês e a União Europeia está relacionado a como o bloco econômico foi apresentado pelo PiS, segundo Adam Bodnar, “como uma força externa se impondo”. 

Bodnar é o ombudsman oficial polonês —nomeado pelo Parlamento, chefia 300 funcionários públicos para pressionar o governo a respeitar os direitos humanos. 

Nacionalista, o governista PiS baseia seu discurso na memória dos heróis poloneses e de conflitos históricos. Esse uso da história é uma das chaves do sucesso do governo atual, diz Bodnar. 

“O país foi modernizado, mas faltava algo. E esse algo foi encontrado pelo PiS: “o nacionalismo, a busca por laços patrióticos, diz. “Os governos anteriores não souberam fazer isso.” 

Bodnar foi o único membro do governo que aceitou conversar com a reportagem da Folha —e também o seu personagem mais crítico. Mas seu mandato pode ser abreviado, ele confessa. 

“A qualquer dia podem me demitir. Há garantias, mas podem ser violadas.” 

 

Questão 2 

No que se refere às questões vividas pela Polônia, é correto afirmar. 

a) Segundo o texto acima, o avanço do autoritarismo na Polônia é nitidamente uma consequência dos sérios problemas econômicos (aumento do desemprego e recessão aguda) vividos pelo país nos últimos anos. 

b) Dentre as iniciativas controversas adotadas pelo PiS (partido de origem católica que detém o poder na Polônia) estão o aumento do controle sobre a mídia, a rejeição de imigrantes que chegam na Europa e o projeto de reforma no Judiciário – este vetado pelo presidente, mas possivelmente retomado no futuro. 

c) As reformas levadas adiante pelo governo polonês até agora não foram criticadas pela União Europeia, que adota uma nítida Política de Apaziguamento para evitar o surgimento de um mal-estar que agrave ainda mais a situação potencialmente autoritária dentro do país do Leste Europeu. 

d) Os excessos do governo conservador da Polônia fizeram com que o apoio dado pela população diminuísse de forma significativa, uma vez que pesquisas recentes mostram que, se as eleições fossem realizadas hoje, o PiS sofreria uma grande derrota. 

e) Não obstante as evidentes inclinações nacionalistas do atual governo polonês, ele tende a aceitar a influência crescente da União Europeia nas questões econômicas e políticas do próprio país. 

 

(texto 3) 

Hungria já não é “república” e pede a bênção de Deus 

A Hungria entrou em 2012 com uma nova Constituição em que deixa de ser “república”, restaura o poder do velho nacionalismo e do confessionalismo e silencia a oposição na comunicação social. O IVA subiu para 27 por cento. 

A nova Constituição define o modelo do regime de Viktor Orban e do seu partido de direita e nacionalista Fidesz, que obteve uma maioria de dois terços no Parlamento, onde ainda conta com o apoio da extrema direita fascista, que dispõe de milícias organizadas e autorizadas. 

O preâmbulo da Constituição suprime a palavra “república” da designação do país, que passa a chamar-se simplesmente Hungria, e inclui a fórmula confessional “Deus abençoe os húngaros”. 

A Constituição introduz medidas suscetíveis de deixar por muito tempo na Hungria as marcas dos atuais responsáveis e a tutela autocrática de Orban. As leis definidoras do regime, designadamente de cidadania, do sistema eleitoral e dos fundamentos religiosos do país só poderão ser alteradas por maiorias de dois terços. A lei eleitoral, sobretudo, tem sido criticada tanto interna como externamente, incluindo dirigentes da União Europeia, por permitir a possibilidade de os pais votarem em nome dos filhos menores. 

Além disso, o poder está a nomear os seus comissários políticos para as chefias das forças militares, policiais e de segurança, justiça e comunicação social com mandatos de nove a 12 anos. 

No final de dezembro o regime anunciou que vai calar a última rádio independente, a Klubradio, através de um processo que o proprietário desta qualificou como “totalmente opaco”. O Conselho dos Media, que segundo a oposição funciona como comissão de censura, retirou a licença à Klubradio e pretende entregá-la a uma sociedade “obscura” até agora desconhecida. 

Em paralelo e durante as última semanas o regime tem vindo a despedir centenas de jornalistas e outros trabalhadores da rádio e televisão públicas num processo qualificado como “operação de limpeza” adaptado à entrada em vigor do novo regime. 

O governo húngaro aumentou entretanto o IVA para 27 por cento, o mais elevado nos países da União Europeia, devido à crise económica e aos problemas com a dívida soberana. O FMI e Bruxelas suspenderam entretanto as negociações com Budapeste sobre a perspectiva de um eventual “auxílio” devido ao facto de as novas medidas legislativas no país estabelecerem um estatuto para o Banco Central que não respeita o princípio da independência. 

 

Questão 3 

Das informações acima, depreende-se que: 

a) O governo da Hungria, apesar de autoritário, mantém a garantia do Estado laico no país. 

b) O governo do país está em harmonia com a União Europeia e com as instituições financeiras internacionais. 

c) O governo liderado por Viktor Orban, apesar de autocrático, preserva a liberdade de imprensa na Hungria. 

d) O governo da Hungria garantiu para si o poder de nomear os seus comissários políticos para as chefias das forças militares, policiais e de segurança, justiça e comunicação social. 

e) Nenhuma das alternativas. 

 

 

 (Texto – Folha de são Paulo, 3 de novembro de 2017) 

Tendência para o autoritarismo é alta no Brasil, diz estudo 

Os brasileiros têm alta propensão a apoiar teses autoritárias e essa tendência é reforçada pelo quadro ameaçador da segurança pública do país, que registra cerca de 60 mil mortes intencionais por ano e tem 50 milhões de adultos que declaram ter conhecido ao menos uma pessoa que foi assassinada. 

Esta é uma das conclusões do estudo “Medo da Violência e Autoritarismo no Brasil”, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), uma entidade sem fins lucrativos, que elaborou no país um inédito Índice de Propensão ao Apoio de Posições Autoritárias. 

Com base em pesquisa encomendada ao instituto Datafolha, a medição indica que, numa escala de zero a dez, a sociedade brasileira atinge o elevado índice de 8,1 na propensão a endossar posições autoritárias. 

A constatação mostra-se mais relevante quando os brasileiros começam a se preparar para a corrida eleitoral do próximo ano, num contexto político e social instável, em tese propício a aventuras populistas e autoritárias. 

“Estamos sob ataque de grupos que professam sua fé na violência como forma de governar e de, paradoxalmente, pacificar a sociedade, em uma espécie de vendeta moral e política que parece cada vez mais ganhar adeptos”, diz Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do FBSP, para quem a ideia de que vivemos numa “terra devastada” favorece a exploração de supostas saídas de “cunho salvacionista”. 

Um dos nomes que se apresentam com essas características no cenário da disputa presidencial é o deputado Jair Bolsonaro (PSC), que na pesquisa Datafolha de intenção de voto, publicada no último domingo, oscilou entre 15% e 19% nos diversos cenários propostos pelo instituto. 

As reais possibilidades de Bolsonaro, contudo, precisam ser relativizadas, tratando-se de sondagem realizada a um ano da data do pleito. 

Mauro Paulino, diretor do Datafolha, avalia que o potencial eleitoral do pré-candidato “só poderá ser confirmado no próximo ano, quando as demais candidaturas estiverem definidas, e em especial depois do início da propaganda eleitoral nos veículos de comunicação”. 

 

POBRES E JOVENS 

O índice proposto pelo FBSP foi elaborado com base em tentativas de medição de tendências autoritárias na tradição das ciências sociais e da psicologia social. Tomou-se como referência inicial a escala psicométrica criada pelo sociólogo e filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969), no pós-Guerra, época em que trabalhou com um grupo de psicólogos sociais na Universidade da Califórnia, em Berkeley, com o objetivo de mensurar tendências antidemocráticas implícitas na personalidade de indivíduos. 

Numa versão mais sintética que a do alemão, o FBSP propôs 17 enunciados que foram submetidos a 2.087 entrevistados numa amostra representativa da população com 16 anos ou mais, em 130 municípios, entre os dias 7 e 11 de março deste ano. 

Os enunciados se filiam a três categorias: “submissão à autoridade”, “agressividade autoritária” e “convencionalismo”. A que apresentou médias de propensão ao autoritarismo mais alta foi a primeira —”submissão à autoridade”. O resultado pode ser relacionado a traços reconhecíveis da cultura política do país, como o prestígio de lideranças fortes e personalistas —à direita, mas também à esquerda, como ressalta Fernando Abrucio, professor da FGV. 

Na busca de um “salvador da pátria”, a população poderia vê-lo no ex-presidente Lula (PT), “que tem um histórico de políticas sociais”, ou em Bolsonaro. “Se isso leva à vitória eleitoral, é complicado dizer, porque há outras variáveis em jogo.” 

A pesquisa foi decupada em algumas variáveis, como faixa etária, escolaridade, regiões, cor da pele, população dos municípios e classe social dos entrevistados. 

Verificou-se que a tendência autoritária é mais acentuada entre os menos escolarizados, os de menor renda, os mais velhos, os pardos, aqueles que habitam municípios menos populosos e os que vivem no Nordeste. 

Na curva etária, chama a atenção que a faixa de 16 a 24 anos se mostre mais inclinada ao autoritarismo do que as duas subsequentes (25 a 34 e 35 a 44 anos). 

Para Sérgio de Lima, tal inclinação justificaria o esforço nas redes sociais de grupos de jovens conservadores para exercer influência nas eleições de 2018. Quanto a classes e regiões, a maior adesão entre os de menor renda e no Nordeste sugere “um pedido de socorro”. Os pobres estariam frustrados com recuos sociais e seriam mais reféns do medo da violência. 

[…] 

 

COMO FOI FEITA A PESQUISA O índice foi construído pelo grau de concordância dos entrevistados frente às afirmações: 

Convencionalismo 7,36 ‣ “A maioria de nossos problemas sociais estaria resolvida se pudéssemos nos livrar das pessoas imorais, dos marginais e dos pervertidos” ‣ “Se falássemos menos e trabalhássemos mais, todos estaríamos melhor” ‣ “Deve-se castigar sempre todo insulto à nossa honra” ‣ “Os crimes sexuais tais como o estupro ou ataques a crianças merecem mais que prisão; quem comete esses crimes deveria receber punição física publicamente ou receber um castigo pior” ‣ “Os homossexuais são quase criminosos e deveriam receber um castigo severo” ‣ “Às vezes, os jovens têm ideias rebeldes que, com os anos, deverão superar para acalmar os seus pensamentos” ‣ “Hoje em dia, as pessoas se intrometem cada vez mais em assuntos que deveriam ser somente pessoais e privados” 

Submissão a autoridades 8,08 ‣ “A ciência tem o seu lugar, mas há muitas coisas importantes que a mente humana jamais poderá compreender” 

‣ “Os homens podem ser divididos em duas classes definidas: os fracos e os fortes” ‣ “Um indivíduo de más maneiras, maus costumes e má educação dificilmente pode fazer amizade com pessoas decentes” ‣ “Todos devemos ter fé absoluta em um poder sobrenatural, cujas decisões devemos acatar” ‣ “Pobreza é consequência da falta de vontade de trabalhar” 

Agressividade autoritária 6,50 ‣ “O que este país necessita, principalmente, antes de leis ou planos políticos, é de alguns líderes valentes, incansáveis e dedicados em quem o povo possa depositar a sua fé” ‣ “A obediência e o respeito à autoridade são as principais virtudes que devemos ensinar às nossas crianças” ‣ “Não há nada pior do que uma pessoa que não sente profundo amor, gratidão e respeito por seus pais” ‣ “Nenhuma pessoa decente, normal e em seu são juízo pensaria em ofender um amigo ou parente próximo” ‣ “O policial é um guerreiro de Deus para impor a ordem e proteger as pessoas de bem” 

 

Questão 1 

Relacione as informações do texto com as dos gráficos e assinale a alternativa correta. 

a) O estudo realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) demonstra que o pensamento autoritário no Brasil é atávico e nada tem a ver com os problemas de Segurança Pública e com as possíveis opções eleitorais dos indivíduos. 

b) Fica evidente, pelo estudo, que o pensamento autoritário é maior entre as elites, uma vez que estas possuem um projeto claro de dominação e manipulação das camadas populares. 

c) O posicionamento autoritário da sociedade brasileira é um elemento fundamental de nossa cultura e apresenta um sinal inequívoco de que os candidatos supostamente “populistas” e “aventureiros” conseguirão vencer as eleições. 

d) Das três categorias de enunciados que fundamentaram a pesquisa acima citada, aquela que apresentou maior propensão ao autoritarismo foi “submissão à autoridade” – o que reforça o traço da cultura política do País em prestigiar as lideranças fortes e personalistas. 

e) Depreende-se do estudo acima que as opções políticas autoritárias são um fenômeno típico dos setores conservadores da direita, sendo nitidamente oposto à tendência democrática e progressista das esquerdas em nosso país. 

 

Questão 2 

Com relação às informações dos gráficos acima, é correto afirmar. 

a) A tendência ao pensamento autoritário é maior nos municípios menos populosos do que nos maiores. 

b) A população mais jovem, por ser mais contestadora, é menos inclinada ao pensamento autoritário do que a população dos demais estratos etários. 

c) A região Nordeste, reduto eleitoral das esquerdas, é menos inclinada ao pensamento autoritário do que as demais regiões. 

d) O pensamento autoritário permeia todos os graus de escolaridade da mesma forma, sendo que os mais instruídos são tão autoritários quanto os de menor instrução. 

e) A população com mais de 45 anos possui uma tendência autoritária menor do que a das demais faixas etárias. 

 

 

Questão 3 

Comparando o conteúdo da charge com os dados da pesquisa supracitada, é correto afirmar que: 

a) o personagem da charge que pede a volta da ditadura destoa frontalmente do padrão aferido na pesquisa; 

b) a pesquisa coloca-se contra o posicionamento autoritário da população brasileira, enquanto que a charge defende essa mesma inclinação; 

c) a pesquisa apresenta um padrão identitário e comportamental que, em parte, coaduna-se com a postura do personagem que pede a volta da ditadura. 

d) não existe relação direta entre a crítica da charge e os dados da pesquisa – uma vez que a última se refere a um caso isolado, enquanto que a primeira mensura um padrão hegemônico na sociedade brasileira; 

e) todas as alternativas estão erradas. 

 


Autor: Professor Eduardo Gramani Hipolide

Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.

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