Reflexões Prévias I
A charge abaixo mostra um indiano retirando à força um muçulmano de sua casa, na Índia. O indiano afirma: “Vá para o Paquistão. Nós temos um novo inquilino!”. O muçulmano responde: “Esta é minha casa também!”. No caso, o novo “inquilino,” que chega com suas malas, é o premiê indiano, Narendra Modi. Preste atenção no que dizem as etiquetas nas malas de Modi. O que elas expressam? A que realidade a charge provavelmente se refere? O que ela nos diz sobre a situação atual da Índia?
Reflexões Prévias II
A charge abaixo tem como título “Vaca Sagrada”, uma alusão à crença dos hindus no caráter divino desse animal. Abaixo da imagem está escrito: “Nacionalismo Hindu, Abuso de Minoria e Vigilância da Multidão na Índia de Modi”. Por que a vaca em destaque aparece com um talwar (espada indiana) manchado de sangue na mão? Na sua opinião, o que isso significa?
Reportagem folha de são Paulo, 28 de dezembro de 2017
Aos 70 anos de independência, Índia vê crescer risco nacionalista
No dia 28 de setembro de 2015, um grupo de hindus munidos de paus e tijolos invadiu a casa do muçulmano Muhammad Akhlaq, 50, em um vilarejo no norte da Índia. Akhlaq levou tijoladas até morrer, e seu filho Danish, 22, ficou gravemente ferido.
O crime dos Akhlaq: teriam comido carne de vaca, animal considerado sagrado pelo hinduísmo. (A polícia determinou depois que a carne que eles guardavam no freezer, e que seria a prova do “crime”, era de cordeiro).
Desde que o premiê Narendra Modi e o partido nacionalista hindu BJP assumiram o poder na Índia, em maio de 2014, 60 pessoas foram alvo de linchamento por supostamente terem comido carne de vaca ou vendido gado para abatedouros, segundo o site de dados IndiaSpend —20 vezes o total de linchamentos por causa de vacas registrado entre 2010 e 2014.
Dessas, 28 morreram. Quase todas eram muçulmanas.
Ao completar 70 anos de independência do Reino Unido, a democracia indiana está sob ameaça.
Desde a onda de violência que se seguiu à grande divisão da Índia, que deu origem a um Estado hindu e um muçulmano, o Paquistão, gerações de líderes reconheceram que a tolerância e a secularidade são essenciais para governar um país com tamanha diversidade religiosa, linguística, étnica e cultural.
Com 1,3 bilhão de habitantes, a Índia deve superar a China em 2024 como país mais populoso do mundo. Hindus são a maioria, 80%, mas há 172 milhões de muçulmanos (14,2% da população), além de cristãos, sikhs, parsis, judeus e outras minorias.
O primeiro-ministro Modi abandonou a agenda para uma Índia inclusiva: propõe uma agenda de desenvolvimento econômico aliada a medidas que agradam aos nacionalistas hindus.
Modi se formou nas fileiras da Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS, ou Sociedade Patriótica Nacional), que promove a ideia do Hindutva (Hindusidade) —basicamente, a Índia para os hindus.
Os nacionalistas da RSS, e de seu braço político, o BJP, querem que o país recupere os anos de glória que precedem os colonizadores britânicos e os invasores Mughal (muçulmanos). Apostam que a fórmula Hindutva mais desenvolvimento vai “fazer a Índia grandiosa de novo”.
DISCURSO DÚBIO
Mas quando se elegeu em 2014, Modi minimizou suas credenciais hindus e enfatizou a proposta de espalhar pelo país o chamado “milagre de Gujarat”, Estado com alta taxa de crescimento, que ele governou de 2001 a 2014.
“O nacionalismo hindu moldou a visão de mundo de Modi, mas ele usa a retórica do desenvolvimento para atrair a classe média da Índia, que não dá tanta importância à política identitária”, disse à Folha Irfan Nooruddin, diretor da Iniciativa Índia da Universidade Georgetown (Washington, EUA).
No entanto, duas medidas desastradas sabotaram os indicadores econômicos da gestão Modi, antes impressionantes. A decisão “anticorrupção” de tirar de circulação notas de 500 e 1.000 rúpias (cerca de 85% das notas em circulação) causou caos na economia. A implementação atabalhoada do novo imposto sobre bens e serviços foi mais um golpe contra os pequenos empreendedores.
Como consequência, o crescimento do PIB, que atingiu média de 7,5% entre 2014 e 2017, caiu para 5,7% no segundo trimestre de 2017, em um país que precisa crescer acima de 6% para absorver as 12 milhões de pessoas entram no mercado de trabalho a cada ano.
E os nacionalistas hindus, sob Modi, ficaram cada vez mais ambiciosos. O BJP está reescrevendo livros didáticos em vários Estados —propõe “desocidentalizar” os textos, mas também está extirpando minorias, em nome de um orgulho patriótico hindu.
Em março de 2017, Modi indicou o líder hindu Yogi Adityanath para governar Uttar Pradesh, Estado com a maior população muçulmana da Índia. Adityanath já afirmou que, caso um muçulmano mate um único hindu, cem muçulmanos devem ser mortos em retaliação.
Nem o Taj Mahal escapou de sua fúria. O mausoléu construído pelo imperador muçulmano Shah Jahan foi omitido do catálogo de turismo do Estado e teve seu orçamento cortado. Sangeet Som, integrante do BJP, disse que o Taj Mahal era uma “mancha na cultura Indiana” construída por “traidores”.
ANTINACIONAL
Os extremistas hindus usam indiscriminadamente o epíteto “antinacional” para perseguir intelectuais e jornalistas que criticam o nacionalismo ou o BJP. Um dos alvos foi o ganhador do Nobel Amartya Sen.
Outros têm destino trágico. Em setembro deste ano, a jornalista Gauri Lankesh, que comparou o nacionalismo hindu do RSS ao fascismo, foi morta a tiros na frente de sua casa, em Bangalore.
“A democracia indiana enfrenta muitas ameaças, a maior delas é o crescimento do autoritarismo”, disse à Folha Sumit Ganguly, coordenador de estudos sobre a civilização indiana na Universidade de Indiana em Bloomington.
“O constante ataque contra a liberdade de expressão é alarmante.”
Não se pode culpar diretamente Modi ou a RSS por essa escalada de violência contra a minoria muçulmana e a oposição. Mas a retórica inflamada deles promove esse clima de intolerância, aponta Ganguly.
Mesmo assim, analistas apontam que é precoce decretar a morte da resiliente democracia indiana, onde o contraditório sobrevive na imprensa e no judiciário.
Indianos brincam que democracia só atrapalha, basta ver a rapidez com que as reformas são implementadas na ditadura chinesa. Neste caso, o caos democrático indiano, com inúmeros partidos, níveis de governo, sociedade civil e imprensa, tem impedido que uma doutrina como o Hindutva prevaleça.
Questão 1
De acordo com as informações da reportagem acima, é ERRADO afirmar:
a) A Índia, segundo país mais populoso do mundo, caracteriza-se pelo multiculturalismo, uma vez que apresenta uma grande diversidade étnica. Além dos
hindus, que são a maioria, a população indiana é formada também por muçulmanos, judeus, cristãos, parsis e sikhs.
b) A reportagem afirma que a democracia indiana está ameaçada devido ao crescimento do nacionalismo sob o governo de Modi, premiê indiano que, junto com seu partido, o BJP, promove a ideia do Hindutva (Índia para os hindus).
c) As maiores vítimas de linchamentos promovidos por hindus nos últimos anos são muçulmanos, minoria que perfaz cerca de 14% da população indiana.
d) De acordo com os analistas mencionados pela reportagem, o premiê Modi, com sua retórica inflamada, é diretamente responsável pelo fim da democracia em seu país e pelas perseguições que lá ocorrem.
e) Além das minorias étnicas, quem também sofre diante do avanço nacionalista na Índia são intelectuais e jornalistas, às vezes perseguidos pelas críticas que fazem ao governo e ao partido hegemônico, o BJP.
Questão 2
Relacione as informações da reportagem com os conteúdo das charges 1 e 2 (acima) e escolha a alternativa ERRADA.
a) As duas charges se referem às perseguições que as minorias (sobretudo muçulmanos) vêm sofrendo na Índia sob o governo nacionalista de Modi.
b) Na charge 1, o indiano manda o muçulmano ir para o Paquistão porque, segundo a reportagem, no processo de independência do subcontinente indiano, há 70 anos, a tentativa de solucionar o conflito entre hindus e muçulmanos foi criar para os últimos um país separado ao norte – justamente o Paquistão.
c) A charge 2 faz menção aos linchamentos que os suspeitos (sobretudo muçulmanos) de comerem carne bovina vêm sofrendo na Índia, principalmente durante o governo nacionalista de Modi.
d) A charge 1, que apresenta Modi como novo inquilino, faz menção a um problema atual, enquanto que a charge 2 se reporta ao passado, uma vez que trata da tradição milenar, entre os hindus, da interdição alimentar em relação à carne bovina.
e) Ambas fazem uma crítica às perseguições nacionalistas que, na Índia, apresentam conotações religiosas.
Autor: Eduardo Gramani Hipolide
Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.
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