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Atualidades XIV (2018) – A Questão da Água

 (introdução – Le Monde diplomatique, março de 2018) 

Compartilhar a água 

De 18 a 23 de março, em Brasília, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) participará do 8º. Fórum Mundial da Água, encontro trianual que pretende conscientizar a população sobre a importância desse recurso natural e sobre as razões pelas quais o abastecimento de água deve ser cobrado

[…]

 

(texto 1 – le monde diplomatique, março de 2018) 

A água, “o novo petróleo”, não tem substituto 

José Graziano da Silva

A preocupação em torno da possibilidade de que o desenvolvimento humano e as mudanças climáticas estejam levando os recursos de água a alcançar seus limites faz muitas pessoas se referirem à água como “o novo petróleo”. Esse termo aparece no momento em que empresas e investidores se esforçam cada vez mais para assegurar o acesso a recursos hídricos, diante da perspectiva de aumento dos preços e um auge exponencial da escassez.

Contudo, essa comparação, própria dos mercados, entre o petróleo e a água como matérias-primas ignora uma diferença crucial entre ambos: o petróleo pode ser substituído por outras fontes de energia. Os milhões de pessoas em todo o mundo que hoje enfrentam a escassez sabem bem que a água não tem substituto. Apesar de ser uma fonte renovável cuja quantidade se mantém estável em nível global, sua disponibilidade pode variar segundo o lugar e o momento, fato que tem sido exacerbado pelas consequências do aumento do consumo e da piora da qualidade da água. [….]

A disputa por água se intensificará pouco a pouco conforme o aumento da população mundial, que se aproximará dos 9 bilhões de pessoas em 2050. Soma-se a esse cenário a sombra das mudanças climáticas. Para cada 1º C de aumento na temperatura do planeta, calcula-se que 500 milhões de pessoas sofrerão uma queda de 20% na disponibilidade de recursos de água doce.

Já é hora de todos perceberem que nossa exploração dessa fonte renovável tem um limite e que devemos aprender a usá-la de forma mais sensata. A escassez de água ameaça a segurança alimentar e a nutrição. Se esse problema não for atacado de modo eficaz, pode gerar conflitos e colocar em risco ecossistemas e meios de subsistência. Em 2015, mais de 660 milhões de pessoas no mundo não tinham acesso à água potável tratada.

A escassez hídrica e as secas são uma ameaça para a saúde humana, animal e vegetal, pois desencadeiam fenômenos migratórios. […]

As secas estão se convertendo em um fenômeno cada vez mais comum; é extremamente necessário contar com enfoques proativos que busquem melhorar a gestão dos recursos hídricos. Não podemos evitar que aconteça uma seca, mas podemos evitar que a seca derive para a fome. […]

São muitas as razões para a escassez de água. O desenvolvimento econômico e o aumento da população fizeram o consumo de água crescer duas vezes mais rápido do que a população mundial no século passado. Uma gestão deficiente dos recursos hídricos e a ausência de investimento nesse setor também contribuíram para a situação atual, em que os recursos não estão ao alcance daqueles que dele necessitam.

A agricultura é, ao mesmo tempo, causa e vítima da escassez de água. Representa aproximadamente 70% das extrações de água doce. […] Levando em conta as condições atuais, a agricultura terá de produzir cerca de 50% mais de alimentos em 2050. Como consequência de uma dieta que prioriza carne e laticínios – produtos que requerem grandes quantidades de água para serem produzidos -, a pressão sobre a água aumentará ainda mais. [Para produzir 1 quilo de cereal são necessárias entre 1 e 3 toneladas de água, enquanto para produzir 1 quilo de carne vermelha são necessárias 15 toneladas. Hoje o planeta dispõe de 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos de água, mas apenas 0, 003% – ou seja, em torno de 45 mil quilômetros cúbicos – é considerado recurso de água doce própria para ser ingerida, para a higiene, a agricultura e a indústria].

É necessário que a solução inclua uma reforma da agricultura. […]

As medidas adotadas para produzir mais com menos água e reduzir as perdas do setor agrícola trazem também outros benefícios, incluindo aspectos relacionados à pobreza extrema, fome, desnutrição e mudanças climáticas. Essas medidas e estratégias deverão abordar o uso da água, a produção agrícola, a segurança alimentar e as mudanças climáticas de forma integrada. […]

Também resultará de grande ajuda que se adotem medidas relacionadas à perda e ao desperdício de alimentos. Uma pesquisa realizada pela FAO demonstrou que a quantidade de alimentos produzidos e não consumidos chega a 1,3 bilhão de toneladas anuais – e que a quantidade de água desperdiçada nesse processo equivale ao Lago Léman. Se queremos economizar água, devemos abordar o desperdício de

alimentos ao longo de toda a cadeia de valor, desde a granja até o prato, e desde a nascente até o mar. Se a isso somarmos um consumo responsável e dietas mais sustentáveis, os recursos hídricos, os terrenos e a terra serão beneficiados (sem mencionar que, além disso, conseguiremos reduzir as emissões de gases de efeito estufa).

O setor privado é peça-chave nesse quebra-cabeça. As empresas já conhecem os possíveis impactos em seus resultados (em 2016, as maiores empresas do mundo reportaram perdas de US$14 bilhões por problemas relacionados à água). É preciso atraí-las para essa missão se quisermos garantir uma colaboração de todos os setores.

[…]

Agora que a comunidade internacional, por intermédio da FAO, se propõe a participar do Fórum Mundial da Água que acontece em Brasília em março, a mensagem não pode ser outra: devemos atuar unidos e com precisão para utilizar a água de forma sensata, garantindo assim a possibilidade de erradicar a fome.

 

Questão 1 

De acordo com as informações do texto acima (texto 1), assinale a alternativa correta.

a) O autor do texto afirma que a agricultura é a principal responsável pelo consumo excessivo da água em nosso planeta. Por isso, ele sugere um maior investimento na atividade da pecuária, uma vez que a produção de carne consome menos água do que as plantações.

b) José Graziano parte do princípio de que a água é um bem de todos e que, portanto, precisa ser gerida exclusivamente pelo Estado – reforçando a tese segundo a qual a iniciativa privada não deve se envolver na questão do uso sustentável desse recurso renovável.

c) Além de apontar para a necessidade de mudanças nos hábitos alimentares e da redução no desperdício de alimentos, o autor do texto afirma que é preciso lidar com a água de forma sensata e sustentável, por meio de uma gestão racional de seu consumo na produção agrícola.

d) O autor do texto acima concorda integralmente com a noção segundo a qual a água é “o novo petróleo”, uma vez que – assim como essa fonte de energia – a água é um recurso não renovável e imprescindível à sobrevivências dos seres humanos.

e) Por se tratar de uma fonte renovável, as mudanças climáticas e o aumento de população não afetarão de maneira significativa o consumo e a oferta de água no planeta.

 

(Texto 2 – le monde diplomatique, março de 2018) 

A agricultura utiliza 70% da água doce 

[…]

A escassez de água que enfrentamos é causada principalmente pela deterioração de sua qualidade. Mas, para entender o que significa essa redução, é preciso saber em que atividades e demandas consumimos água. Estamos tomando água? Há desperdício nas torneiras? Plantas e animais a consomem?

Todos os seres humanos bebem, limpam-se e cozinham cotidianamente. Contudo, o uso doméstico de água corresponde a 10% do consumo total desse recurso. Outros 20% são usados pela indústria e pela geração de energia.

A maior parcela do consumo de água doce, no entanto, é na agricultura (que inclui pecuária, cultivos, silvicultura), com 70%. Em alguns casos, de países menos desenvolvidos, esse uso pode chegar a 90%.

De fato, o uso da água sem restrições cresceu globalmente em um ritmo vertiginoso: duas vezes mais rápido que o aumento da população no século XX. Às vésperas da terceira década do século XXI, a pressão demográfica, o ritmo de desenvolvimento econômico, a urbanização, a poluição e a perda indiscriminada de qualidade por má gestão estão exercendo uma pressão sem precedentes sobre a principal fonte de vida do planeta. Se somarmos o forte impacto das mudanças climáticas e a transformação das dietas – do consumo majoritário de cereais e tubérculos, passamos ao de proteína animal, que requer dez vezes mais água para sua produção, além da pecuária intensiva -, o resultado é que em muitas regiões já não é possível a administração de um serviço de abastecimento confiável e de boa qualidade.

A DIVISÃO DESIGUAL 

Todos esses problemas, gerados pelo Homem, agravam outro que sempre existiu: a distribuição natural desigual dos recursos de água doce na superfície do planeta. […]

Enquanto todos os continentes possuem recursos hídricos suficientes, a realidade é que há grandes diferenças entre as regiões, entre os países e entre zonas dentro de um mesmo país. [Ver, no mapa temático 1, abaixo, o caso do Brasil] […] Em algumas regiões da Etiópia [por exemplo], não choveu durante três anos consecutivos, o que deixou mais de 8 milhões de pessoas dependentes de ajuda humanitária para alimentarem-se.

 

Mapa 1

 

Mapa 2

 

Questão 2 

Relacione as informações do texto com as dos gráficos nos mapas temáticos acima – e dos mapas entre si – e assinale a alternativa ERRADA.

a) O texto utiliza dados numéricos relacionados ao uso da água em âmbito mundial, enquanto que o mapa 2 apresenta informações relativas ao mesmo uso em diferentes porções de nosso planeta.

b) Os gráficos do mapa do Brasil (mapa1) apresentam a relação entre a quantidade de pessoas e a disponibilidade de água doce em cada região de nosso país. Já o mapa 2 mostra os diferentes usos da água em porções distintas de nosso planeta.

c) Os números dos gráficos do mapa 2 confirmam a afirmação do texto com relação ao uso desigual da água nas diferentes porções de nosso planeta. Estabelecendo paralelismo com o texto, os números do mapa 2 mostram que, nas regiões menos

desenvolvidas, a utilização desse recurso na agricultura tende a ser proporcionalmente maior.

d) O mapa temático do Brasil (1) está de acordo com a informação do texto segundo a qual a distribuição natural de água é desigual. No Brasil, segundo o mapa temático 1, tal desigualdade apresenta um problema adicional, uma vez que nas regiões mais populosas (Sudeste e Nordeste), a quantidade de água disponível é menor do que nas regiões com menos população (Norte e Centro-Oeste).

e) Tanto o mapa 1 quanto o mapa 2 preocupam-se não apenas com a distribuição desigual dos recursos hídricos quanto também com as perdas verificadas no consumo diário de água – respectivamente, nas diferentes regiões do Brasil (mapa 1) e do planeta (mapa 2).

 

(Texto 3 – Le monde diplomatique, março de 2018) 

Os desafios pendentes 

A agricultura necessita de grandes quantidades de água para produzir alimento, mas é indispensável que haja um uso sustentável desse recurso […]

 

Há uma boa notícia: existem recursos suficientes de água doce no planeta para assegurar as atividades agrícolas e industriais. Mas há também uma notícia ruim: a sustentabilidade a longo prazo está ameaçada, pois uma coisa é a disponibilidade e outra é sua qualidade.

[…] A agricultura é um ator principal, por meio da questão da segurança alimentar, da nutrição, da saúde, do desenvolvimento rural e do meio ambiente; porém, ela também tem seus próprios desafios.

PRODUZIR MAIS 

É preciso aumentar a produção de alimento nutritivo e seguro para suprir a crescente demanda originada pelo aumento da população.

GESTÃO SUSTENTÁVEL 

Por último, é preciso cuidar do importantíssimo papel da gestão sustentável dos recursos naturais e da adaptação e mitigação das mudanças climáticas, que estão afetando os meios de vida de muitas pessoas, principalmente entre as populações mais vulneráveis.

A agricultura ainda tem um custo adicional sobre a água: ela polui os recursos hídricos. Como? Com o uso de pesticidas, herbicidas, fungicidas e similares, que contaminam os recursos e reservas de água. [Tal atividade é tanto a causa como a vítima de sua própria poluição. A poluição reduz a quantidade de água disponível para uso benéfico e aumenta o custo do tratamento da água. A água contaminada tem um alto risco para a saúde humana, além do custo de limpeza e tratamento adicional e do prejuízo para a pesca, os ecossistemas e a recreação. A poluição também reduz as oportunidades para lutar contra a escassez de água, já que os aquíferos * poluídos são difíceis de restaurar].

Sendo assim, é necessário ser mais sustentável, e nesse sentido é decisivo o papel dos pequenos agricultores, que estão no centro do processo e precisam de apoio e informação para conservar seus ecossistemas naturais e sua biodiversidade.

[…] Os Acordos de Paris reconhecem a particular vulnerabilidade dos sistemas alimentares e a importância da segurança alimentar como parte indispensável da resposta global às mudanças climáticas. A água e a agricultura são caminhos transversais que devem ser prioritários.

*Aquífero é uma formação geológica subterrânea que funciona como reservatório de água, sendo alimentado pelas chuvas que se infiltram no subsolo. São rochas com características porosas e permeáveis capazes de reter e ceder água. Fornece água para poços e nascentes em proporções suficientes, servindo como proveitosas fontes de abastecimento.

 

Questão 3

De acordo com as afirmações do texto acima (texto 3), é correto afirmar:

a) o autor do texto entende que, além da gestão sustentável dos recursos hídricos, é preciso atuar na diminuição dos impactos das mudanças climáticas e incentivar os pequenos agricultores a conservarem os ecossistemas e a biodiversidade;

b) o autor do texto atribui a poluição dos recursos hídricos única e exclusivamente à ocupação desordenada dos grandes centros urbanos, sugerindo que a resolução de tal problema reside na ruralização da sociedade e na intensificação da produção agrícola nos moldes predominantes atualmente;

c) assumindo uma perspectiva absolutamente otimista, o autor do texto afirma que a gestão atual dos recursos hídricos na produção de alimentos garantirá a segurança alimentar das próximas gerações;

d) o texto assume uma visão pessimista em relação à disponibilidade de recursos hídricos para a sustentação das sociedades humanas, uma vez que enfatiza a insuficiência absoluta da disponibilidade atual de água para atender às demandas da agricultura e da indústria.

e) o autor do texto despreza a importância dos acordos climáticos internacionais e põe em destaque uma visão particularista das questões ambientais, refutando, de maneira

inequívoca, as ingerências das cúpulas mundiais que impõem restrições às gestões ambientais dos países em desenvolvimento.

 

(Texto 4 – site mundo estranho, https://mundoestranho.abril.com.br/ambiente/o-que-sao-mananciais/

O que são mananciais? 

Mananciais são todas as fontes de água, superficiais ou subterrâneas, que podem ser usadas para o abastecimento público. Isso inclui, por exemplo, rios, lagos, represas e lençóis freáticos. Para cumprir sua função, um manancial precisa de cuidados especiais, garantidos nas chamadas leis estaduais de proteção a mananciais. Nessas regras, o ponto principal é evitar a poluição das águas, coisa muito difícil de se conseguir em um país como o Brasil. Por aqui, a expansão das grandes cidades aconteceu de forma caótica, comprometendo as fontes de água próximas às metrópoles. O exemplo mais conhecido – e triste – é o do rio Tietê, que corta a capital de São Paulo e boa parte do interior. Em tese, o mais famoso rio paulista poderia ser um manancial para milhões de habitantes; mas quase 100 anos de poluição acabaram transformando o rio em um enorme esgoto a céu aberto. Para piorar as coisas para os paulistanos, outras importantes reservas de água estão ficando comprometidas. A partir da década de 1970, a cidade começou a se expandir em direção à represa de Guarapiranga, com milhares de ocupações clandestinas que despejam esgoto no manancial sem nenhum tratamento. “Hoje, não é viável remover as pessoas de lá. A melhor saída é coletar o esgoto e tratá-lo para diminuir a poluição”, afirma o sociólogo Ricardo Araújo, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). […]

 

Charge

Questão 4 

Relacione as informações do texto 4 com o conteúdo da charge acima e assinale a alternativa ERRADA.

a) Texto e charge enfatizam o problema da ocupação desordenada de centros urbanos no que se refere à proteção dos recursos hídricos e, por extensão, à preservação de áreas de mananciais.

b) O texto se refere ao problema das ocupações irregulares das áreas de mananciais para o abastecimento das populações humanas – sobretudo em São Paulo; a charge, por sua vez, não despreza o mesmo problema, mas enfatiza os riscos que tais ocupações acarretam à vida aquática.

c) Texto e charge explicitam a importância de organismos internacionais na preservação de áreas de mananciais e na conscientização de populações que vivem nas proximidades de rios e lagos.

d) Tanto o texto quanto a charge fazem alusão à poluição dos recursos hídricos – por meio do despejamento de esgoto – que compromete a vida aquática (no caso da charge) e dos seres humanos (no caso do texto).

e) O texto dá destaque ao problema da poluição dos recursos hídrico no caso de São Paulo; a charge, por sua vez, se refere ao mesmo problema de maneira mais ampla e generalizada.


Respostas

1. – C.

2. – E.

3. – A.

4. – C.


Autor: Eduardo Gramani Hipolide

Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.

 

 

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