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Atualidades XXVI (2018) – Ponte 1968-2018 (50 Anos de Mudanças e Impasses)

(texto 1, excerto 1 – Folha de são Paulo, 30 de abril de 2008)

Maio de 68 foi auge da década em que jovens “aceleraram” a história

 

O mês de maio de 1968 representou o auge de um momento histórico de intensas transformações políticas, culturais e comportamentais que marcaram a segunda metade do século 20.

Em Maio de 68, a partir de manifestações estudantis ocorridas nas universidades francesas de Nanterre e Sorbonne, irromperam sucessivos movimentos de protestos em diversas universidades de países da Europa e das Américas, que ganharam uma dimensão ainda maior com a ampliação das revoltas para a classe trabalhadora.

Entretanto, o mês histórico não pode ser compreendido sem levar em conta os fatos que eclodiram no mundo nos anos 60, uma década de mudanças na história do Ocidente.

Claude-Jean Bertrand, professor do instituto francês de imprensa, escreve no artigo “Um novo nascimento na França” que em seu país, como em outros do mundo, o ano de 1968 marcou o “início do fim” do mundo pós-guerra.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos emergiram como potência mundial e, ajudando na reconstrução da devastada Europa, passaram a difundir as novidades e os valores da nova sociedade que surgia.

Após a próspera década de 1950, a partir de protestos estudantis, mudanças políticas e comportamentais, o Ocidente entra nos anos 60 em um momento de “aceleração da história”.

 

Educação e estudantes 

Eric Hobsbawm – Historiador 

O historiador Eric Hobsbawm afirma, no livro “A Era dos Extremos”, que “a Idade Média acabou de repente” em meados da década de 1950. Para ele, o crescimento repentino dos números da educação, especialmente do ensino superior, são um dos motivos que explicam as mudanças da década.

“No fim da Segunda Guerra, havia menos de 100 mil estudantes na França. Em 1960 eram mais de 200 mil e, nos dez anos seguintes, esse número triplicou para 651 mil”, escreve.

Para o historiador a consequência mais imediata foi uma “inevitável tensão entre essa massa de estudantes (…) despejadas nas universidades e instituições que não estavam” de nenhuma forma, “preparadas para tal influxo”.

Frequentemente associa-se aos anos 60 termos como “subversão”, “revolução continuada” e “sociedade do espetáculo”, mas sobretudo com “rebeliões estudantis”. “Não surpreende que a década de 60 tenha se tornado a década da agitação estudantil”, escreve o historiador.

Curiosamente, não era uma época de escassez material, e talvez por isso mesmo os universitários acharam que tudo poderia ser diferente. Para Hobsbawm, eles “podiam pedir mais” da nova sociedade que tinham imaginado.

Embalados pelas novidades dos jovens, os trabalhadores aproveitaram o momento de mudanças para colocar em pauta suas reivindicações.

“O efeito mais imediato da rebelião estudantil foi uma onda de greves operárias por maiores salários e melhores condições de trabalho”, diz o professor.

 

Questão 1

Da análise atenta do excerto acima, depreende-se que:

a) A ebulição contestatória que começou em Maio de 1968 foi um fenômeno estritamente estudantil – nada teve a ver com lutas trabalhistas e reivindicações da esquerda tradicional.

b) Superando a realidade do pós-guerra, os movimentos contestatórios da década de 1960 – organizados pela juventude (em grande parte, universitária) – teriam cumprido com o papel de “acelerar a história”, impulsionando mudanças comportamentais não desprezíveis.

c) Segundo o historiador Eric Hobsbawm, os movimentos estudantis refletem a situação de penúria e escassez que reinava na França e na Europa durante a década de 1960.

d) As agitações estudantis de Maio de 1968 ensejaram uma onda de greves que se espalharam pela França, mostrando que, no âmbito das contestações daquele ano, não havia disjunção entre contestações comportamentais e reivindicações trabalhistas.

e) Alternativas B e D conjugadas.

 

(texto 1, excerto 2 – folha de são Paulo, 30 de abril de 2008)

Rebeliões pelo mundo 

As rebeliões dos anos 60, embora pareçam um conjunto se olhadas em perspectiva, tiveram motivações diversas nos diversos países em que se manifestaram.

Na França, protestos eclodiram nas universidades em Maio de 68 contra a rigidez do sistema educacional. Na verdade, estes foram parte de uma expressão mais ampla de contracultura dos anos 60, que contestou valores morais julgados “incompatíveis” com os novos tempos.

Entre os símbolos das transformações tecnológicas, sociais e comportamentais na França estavam o automóvel –pessoas eram atropeladas nas ruas por não conseguirem calcular a velocidade dos carros–; a minissaia e a calça jeans –que representavam a emancipação feminina e a modernidade; a valorização das crianças –que até então “não existiam”, pois não havia a compreensão da infância, e elas eram tratadas como “adultos em miniatura”.

Nas artes, o cinema da nouvelle vague de François Truffaut e Jean-Luc Godard buscava expressar na tela as transformações, em filmes como “Acossado” e “Os Incompreendidos”.

 

Brasil 

No Brasil, que também viveu grandes transformações nas artes — com o Cinema Novo, a Tropicália, e peças de teatro como “Roda Viva” e “O Rei da Vela”– as rebeliões da década de 60 foram mais ligadas a questões políticas, em virtude do golpe militar (1964-1989).

O auge das rebeliões ocorreu com a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, em 26 de junho, quando foi realizado o mais importante protesto contra a ditadura militar até então.

A manifestação, iniciada a partir de um ato político na Cinelândia, pretendia cobrar uma atitude do governo frente aos problemas estudantis e, ao mesmo tempo, refletia o descontentamento crescente com o governo militar. Dela, participaram também intelectuais, artistas, padres e um grande número de mães.

 

Estados Unidos 

Nos Estados Unidos, movimentos civis de minorias –negros e mulheres– eclodiram ao mesmo tempo em que John F. Kennedy (1961-1963) assumia a Presidência com um discurso considerado bastante progressista.

Os fatos mais marcantes em 1968 nos EUA foram o assassinado, em 4 de abril, do líder negro Martin Luther King, e o protesto de cerca de 60 mil manifestantes no Central Park, em Nova York, exigindo o fim da guerra do Vietnã, em 28 de abril.

 

Europa 

As manifestações também foram intensas em outros países da Europa Ocidental, e também no Leste Europeu. Na Espanha, Alemanha Ocidental e Bélgica, universidades foram ocupadas e estudantes entraram em confronto com a polícia.

Em 1º de março, na Itália, cerca de 3.000 estudantes tomam a sede em Milão do jornal “Corriere della Serra” e em 5 de dezembro cerca de 1 milhão de trabalhadores entram em greve. No Reino Unido, 3 milhões de trabalhadores entram em greve em 15 de março.

Na Tchecoslováquia, em 5 de abril, é lançado no país o programa de reformas políticas conhecido como “Primavera de Praga”, que pretendeu “humanizar” o Partido Comunista, o que desagradou a ex-União Soviética (URSS) do [ex-ditador] Josef Stálin. Em 6 de novembro os estudantes queimam a bandeiras da ex-União Soviética nas ruas de Bratislava.

Na Polônia, em 8 de março, estudantes protestam contra o regime socialista. Três dias depois a universidade de Varsóvia foi fechada.

 

América Latina 

Na América Latina, os confrontos também são motivados por questões ligadas à educação, e por conta das ditaduras militares.

No México, confrontos em universidades e nas ruas da cidade do México deixam 38 mortos. O governo, que se organizava para receber os Jogos Olímpicos em 12 de outubro, ordenou que as autoridades disparassem contra os manifestantes na praça das Três Culturas (Tlatelolco), matando cerca de 200 a 300 pessoas.

Durante as Olimpíadas, dois atletas americanos negros levantam os punhos para reivindicar o poder para os negros, na primeira manifestação política durante os Jogos Olímpicos.

No Uruguai, violentos confrontos levam o governo a decretar estado de sítio. Na Argentina, Colômbia e Venezuela, estudantes ocupam universidades, decretam greves, e se envolvem em intensos confrontos com policiais e forças do Exército.

 

Questão 2

Analisando as informações e apreciações presentes no excerto acima (excerto 2, texto 1), NÃO podemos afirmar.

a) As manifestações de 1968, na França, não se restringiram àquele país. Reivindicações mais ou menos semelhantes ocorreram em outras regiões do mundo, assumindo características próprias em razão da situação específica de cada país.

b) Não obstante as manifestações culturais inovadoras que ocorreram no Brasil durante os anos 1960, as mobilizações em nosso país, em 1968, assumiram um inequívoco caráter político – uma vez que, aqui, vivia-se em plena ditadura.

c) A onda de protestos que marcou o ano de 1968 não foi exclusividade do mundo capitalista. Naquele mesmo ano, na Tchecoslováquia, ocorreu a importante “Primavera de Praga”, movimento de renovação que atingiu as fileiras do Partido Comunista naquele país e, ao mesmo tempo, questionou o poder da antiga União Soviética.

d) Na América Latina em geral, os confrontos estabeleceram relações com a opressão de alguns governos ditatoriais e com as questões educacionais. Particularmente no México, ocorreu naquele ano a primeira manifestação política na história das Olimpíadas, quando dois atletas negros levantaram os punhos cerrados em pleno pódio.

e) As manifestações de Maio de 1968, na França, são consideradas um fenômeno isolado. Isso porque, diante da opressão institucional e da intolerância então reinantes, o clima de apatia e condescendência foi predominante em todo o mundo ocidental.

 

 

(texto 2 – folha de são Paulo, 2 de maio de 2018)

Presidente francês evita fantasmas de Maio de 1968 

Macron enfrenta manifestações contra reformas enquanto país relembra os 50 anos de movimento

 

 

Estudantes franceses fecham ruas no Quartier Latin, em Paris, e ocupam importantes universidades, como a Sorbonne, em protesto contra o governo. Funcionários da estatal de transportes ferroviários SNCF fazem meses de greve contra reformas e privatizações. Trabalhadores da Air France param para exigir aumento e aposentados se mobilizam cada vez mais contra o governo.

O clima lembra as icônicas manifestações de Maio de 68, mas é a França de Emmanuel Macron, 40, cinco décadas mais tarde, na entrada de maio de 2018.

Pela primeira vez, o presidente que governa a França ainda não era nascido quando uma manifestação de estudantes de seu país abriu espaço para um dos maiores movimentos socioculturais do século 20, se espalhando por várias partes do mundo.

Ao completar um ano no poder, Macron, neófito político, enfrenta a crescente mobilização em torno de reformas que tenta aprovar. A disputa cria um debate nacional sobre o projeto político para a França e o significado da manifestação de 50 anos antes.

[…]

Segundo analistas, Macron enfrenta sua primeira crise séria e sabe que, se perder essa batalha, sua agenda de reformas poderá ser derrotada.

E no cenário de disputas, Maio de 68 continua sendo um dos eventos políticos que mais marcaram os franceses, o que torna a lembrança um momento para novos protestos importante.

Pesquisa recente da New Literary Magazine revela ainda que 79% dos entrevistados acham positivo o legado do movimento.

[…]

Mesmo assim, o contexto de 2018 é diferente – e Macron não está totalmente isolado.

Segundo pesquisa publicada em abril, a maioria dos franceses apoia os projetos de reforma do presidente como meio de combater o desemprego, que passa de 9%.

Em resposta aos protestos, Macron assumiu tom firme e rejeitou recuos. “Os profissionais da desordem devem entender que existe lei e ordem neste país.”

[…]

Para historiadores debruçados sobre a análise do significado e do legado dos movimentos de então, tanto os críticos do presidente que associam o momento ao de 1968 quanto Macron estão certos.

“Os jovens em 2018 têm demandas muito limitadas na França”, avalia o historiador Eric Alary em entrevista à Folha. Professor da Sciences Po, ele diz que os movimentos sociais não são poderosos o suficiente para atrair mais jovens e idosos para as ruas hoje, como cinco décadas atrás.

“No entanto, o descontentamento social vem acontecendo há muito tempo e pode ser contagiante, tornando-se algo maior”, disse.

 

Questão 3

Da análise atenta do texto acima (texto 2), depreende-se que:

a) Emmanuel Macron, presidente da França, resolveu incentivar as comemorações do Maio de 1968, apoiando as manifestações da juventude e dos trabalhadores franceses que se colocam contra as reformas liberalizantes e a onda de privatizações no país.

b) Apesar da rejeição majoritária dos franceses em relação ao legado de Maio de 1968, mais da metade da população francesa coloca-se contra as reformas liberalizantes do presidente Macron.

c) Não obstante o contexto ser distinto daquele de 50 anos atrás – com o apoio majoritário às reformas de Macron -, na sociedade francesa de hoje existe um descontentamento social latente. Sendo assim, segundo Eric Alary, ecos de 1968 eventualmente podem contribuir para o desencadeamento de um movimento mais amplo.

d) Assim como em 1968, na França de hoje em dia não há insatisfação por parte da classe trabalhadora. Na Era Macron, notamos apenas alguns sinais isolados de descontentamento cultural que não correm o risco de se alastrar.

e) Segundo o historiador Eric Alary, as predisposições da juventude francesa atualmente são iguais às dos jovens de 50 anos atrás. Por isso, os movimentos de 1968 não apenas assombram Macron como também desestruturam de maneira efetiva seus projetos de reformas.

 

 

(texto 3 – O Globo, 5 de maio de 2018)

[…]

No fim da remontagem de “O Rei da Vela”*, que acaba de passar pelo Rio e agora roda o país, o diretor José Celso Martinez Corrêa discursa:

– Dois mil e dezoito não pode acabar como 1968. Este tem que ser um ano de reconquista da democracia.

Zé Celso está emocionado, mas o cenário atual é, obviamente, muito diferente. Na época, seguindo a onda que se formava em maio na França e se espalhara por várias partes do mundo, a classe artística brasileira foi às ruas clamar por liberdade e combater o conservadorismo. Meses depois, terminou amordaçada pelo Ato Institucional nº.5, experimentando a pior fase da ditadura militar. Passados 50 anos, a cultura volta a debater, sim, a liberdade de expressão. Mas agora sob o crivo da própria sociedade, sobretudo na arena das redes sociais.

Em 1968, o diretor de “O Rei da Vela” experimentou o centro da turbulência. O Comando de Caça aos Comunistas (CCC) – grupo paramilitar formado por militares, policiais e jovens militantes da direita – espancou o elenco da peça “Roda Viva”**, que ele dirigia, e depredou o Teatro Galpão, em São Paulo, onde o espetáculo estava em cartaz. Em Porto Alegre, o mesmo grupo sequestrou e humilhou atores e pichou na porta do Teatro Leopoldina frases como “fora comunistas”, “chega de pornografia” e “abaixo a imoralidade”. A peça acabou censurada de vez.

Hoje, frases parecidas surgem em redes sociais em resposta indignada a acontecimentos como a exposição “Queermuseu” e a performance “La Bête”, na qual o coreógrafo Wagner Schwartz encarna uma escultura “Bicho”, de Lygia Clark, e se apresenta nu, tendo o corpo manipulado pela plateia. Schwartz recebeu mais de 150 ameaças de morte devido a um vídeo no qual uma criança aparecia tocando em seu pé durante a performance, no ano passado.

[…]

– Hoje, com o ressurgimento do autoritarismo na sociedade, todos os clamores de 1968 são novamente fundamentais – diz o escritor Milton Hatoun, que possuía 15 anos em 1968.

Hatoun lembra que o movimento tropicalista de Caetano, Gil e Cia foi o que mais assimilou as mensagens libertárias de Maio de 68, unindo “o poético e o político” – algo que a esquerda mais dogmática, segundo ele, não entendeu na época. Ao cantar o emblemático “É Proibido Proibir” – um dos lemas centrais da revolta das ruas de Paris, Caetano Veloso foi vaiado estrondosamente no Festival Internacional da Canção pela juventude de esquerda que compunha a plateia […]

 

“PATRULHAS IDEOLÓGICAS” 

O episódio em torno de “É Proibido Proibir” prova que 1968 não viu apenas repressão violenta do Estado. Também abriu divisões dentro dos próprios movimentos de oposição. Hoje, os descompassos entre grupos considerados progressistas se dão sobretudo nas questões que envolvem pautas identitárias (feministas, transexuais, militantes negros). Nesse sentido, o cineasta Cacá Diegues – que cunhou no fim dos anos 1970 o termo “patrulhas ideológicas” para se referir a quem cobrava engajamento político e criticava artistas com “posturas alienadas” -, afirma:

– Hoje a patrulha não se dá mais no nível da grande ideologia, mas dos pequenos costumes – diz Cacá. –A patrulha está nas culturas identitárias. Eu vou dizer uma coisa perigosa, espero não ser mal interpretado. Há certos movimentos minoritários, de

revolta e contestação, que são às vezes extremamente castradores. E isso é uma espécie de negação de Maio de 1968. A frase “É Proibido Proibir” não existe mais.

 

ÓDIO E INSULTOS 

Um dos principais expoentes do tropicalismo, Gilberto Gil, parte da mesma marcação de diferença para levantar uma ponderação noutro sentido:

– Algum paralelo [entre 1968 e hoje] conseguimos traçar, vários episódios mostram isso. Mas as causas e o sentido geral de pressão que a ditadura exercia, acuando um conjunto enorme de pessoas, provocava uma situação diferente. Hoje não há censura oficial, não há expectativas por parte do sistema de controle, não há repressão institucional. Portanto, tudo que se vê agora são escolhas espontâneas da sociedade. Nesse sentido, a situação é mais grave. Todas essas erupções de ódio, a proliferação de insultos… É mais grave isso acontecer numa situação de democracia do que numa ditadura.

Uma das últimas vítimas dessa erupção foi a editora Ivana Jinkings, fundadora da Boitempo. Ela recebeu ameaças via Messenger por ter publicado um livro infantil, “O Capital Para Crianças”, que apresenta as ideias de Marx para os mais novos.

– Foram ameaças leves, mas que mostram um clima de ódio e intolerância na sociedade brasileira, que redunda em violência política – diz Ivana. – Nessa senda estão o brutal e covarde assassinato da vereadora Marielle Franco e os tiros à caravana do ex-presidente Lula. [….] Há um preocupante avanço do conservadorismo nos últimos anos, expresso de formas diversas – na política, na economia, na cultura, moral e até religião -, todas elas em favor de posições retrógradas, repressão policial, machismo, homofobia, e quase sempre em nome da família, contra a corrupção e afins.

[…]

 

MENOS CULTURA E COSTUMES 

Olhando para trás, como testemunha dos protestos tanto na França quanto no Brasil, o escritor, filósofo e crítico Eduardo Jardim pode comparar o clima entre os dois países na época. Para ele, o que se viu por aqui foi uma revolta muito mais política, sem o caráter cultural e de costumes das bandeiras levantadas por estudantes franceses. […]

Ao falar de 1968, Cacá Diegues gosta de separar o ano em duas perspectivas: “pensamento” e “ação”. Ele diz viver o pensamento até hoje – mas lamenta a permanência de problemas que não foram vencidos, como “racismo, intolerância religiosa e censura”.

– Quando, em 1968, eu iria imaginar que passaria o século XXI sob uma revoada de guerras religiosas? Acho que Maio de 1968 é um pensamento vitorioso, mas que não aconteceu na prática política. Ao contrário, o mundo está cada vez mais distante daquilo que se esperava. Tanto que estamos novamente contra a censura, que era algo que imaginávamos excluído da sociedade. E não é só no Brasil.

 

* A obra O Rei da Vela foi escrita por Oswald de Andrade, em 1933, mas sua estreia ocorreu somente em 1967, numa encenação dirigida por José Celso Martinez Corrêa. Ela é uma fábula sobre um fabricante de velas que vive sob pressão constante de seu credor. A peça é uma metáfora da dependência econômica do Brasil em relação à economia estadunidense. Faz também uma crítica à mentalidade autoritária da época, construída com base em superficialidades. Não por acaso, está sendo reencenada (no aniversário de seus 50 anos).

** A peça Roda Viva foi escrita por Chico Buarque no final de 1967 e estreou no Rio de Janeiro, no início de 1968. O espetáculo conta a história de um ídolo da canção que decide mudar de nome para agradar ao público, em um contexto de uma indústria cultural e televisiva nascente no Brasil dos anos 60. O personagem é a representação de uma figura manipulada – pela imprensa e/ou pela indústria fonográfica – que promove uma reflexão acerca da sociedade de consumo.

 

Questão 4

Com base no texto acima, é ERRADO afirmar:

a) Segundo Gilberto Gil, a situação de censura existente hoje é pior do que a do final dos anos 1960. Isso porque, na época, havia um governo autoritário exercendo pressão sobre as manifestações em geral. Hoje, por outro lado, a censura parte da própria sociedade e assume um caráter espontâneo.

b) De acordo com o cineasta Cacá Diegues, que cunhou a expressão “patrulhas ideológicas”, atualmente a censura que parte dos movimentos sociais chamados de “progressistas” diz respeito, em grande medida, às questões identitárias.

c) O autor da reportagem acima estabelece uma comparação entre os ataques à peça Roda Viva, em 1968, e aqueles promovidos recentemente por conservadores contra a exposição Queermuseu e a performance La Bête.

d) As personalidades citadas no texto acima são unânimes em afirmar que os ideais de 1968 são desnecessários atualmente, uma vez que, em razão do fim da ditadura, o clima de intolerância, censura e violência dos anos 1960 foi praticamente superado nos dias de hoje.

e) Tanto a editora Ivana Jinkings como o cineasta Cacá Diegues ressaltam a força do conservadorismo na sociedade atual, pontuando a permanência (e/ou a ressurgência) da censura, do racismo e da intolerância. Por isso, Diegues mostra-se reticente em relação ao legado de 1968.

 

(vídeo com a música é proibido proibir + discurso proferido por Caetano veloso durante sua apresentação no III Festival internacional da canção)

 

Questão 5

Relacione os conteúdos da letra e do discurso veiculados no vídeo acima com as informações que você adquiriu até aqui e analise com atenção as afirmações abaixo.

I- “É Proibido Proibir”, título e refrão da música de Caetano Veloso, remete diretamente ao lema de Maio de 1968, pichado ou afixado insistentemente nas paredes da cidade de Paris durante aquele ano.

II- Pode-se afirmar que, devido ao clima de intolerância dos dias de hoje, o lema que intitulou a música de Caetano continua atual.

III- As vaias que Caetano e Os Mutantes receberam no festival explicitam as divisões nas fileiras do campo oposicionista da época, uma vez que a esquerda dogmática se recusava a aceitar a proposta estética e política do cantor e do movimento tropicalista em geral.

IV- O caráter “anárquico” e contestatório das manifestações de Maio de 68, na França, pode ser identificado em versos como “Me dê um beijo, meu amor/Eles estão nos esperando/Os automóveis ardem em chamas/Derrubar as prateleiras/As estantes, as estátuas/As vidraças, louças, livros, sim”.

V- Em seu discurso no festival, Caetano Veloso comparou a esquerda dogmática que o vaiava aos conservadores do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), grupo paramilitar que, naquele mesmo ano, havia espancado os atores da peça Roda Viva. Para o cantor, ambos seriam igualmente censores.

VI- Num determinado momento de seu discurso, dirigindo-se ao júri do festival e à plateia em geral, Caetano afirmou: “Se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos!”. Na frase, provavelmente, o cantor fez uma crítica àquilo que ele considerava estreiteza no campo das artes e estendeu a crítica às posições ideológicas daqueles que o vaiavam.

As afirmações corretas são:

a) Todas.

b) II, IV e VI.

c) I, II, III e V.

d) I, III, IV, V e VI.

e) III e VI.


Autor: Eduardo Gramani Hipolide

Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.

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