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Atualidades XXXIX (2018) – Tensões na Nicarágua

 

 (texto 1 – site brasil escola; https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/revolucao-sandinista.htm) 

Revolução Sandinista 

 

No início do século XIX, passado o processo de independência mexicana, as regiões pertencentes à América Central experimentaram diversas transformações políticas em favor da formação de várias nações independentes. Na maioria dos casos, as elites locais obtinham o apoio estadunidense e britânico na formação de nações frágeis e incapazes de fazer frente aos interesses das potências capitalistas. Foi nesse contexto que notamos o surgimento da Nicarágua.


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Por volta da década de 1920, o camponês Augusto César Sandino iniciou a formação de um grupo revolucionário determinado a dar fim à intervenção imperialista em seu país. Entre outros pontos, Sandino defendia a realização de um projeto de distribuição de terras e saída dos militares americanos que ocupavam o território nicaraguense. Dessa maneira, os partidários de Sandino participaram de movimentos de guerrilha que atuaram no país entre 1926 e 1933.

 

Augusto César Sandino

 

Após conseguir a saída das tropas estadunidense do país, Sandino aceitou assinar um acordo em que concordava em depor as armas mediante a preservação da soberania de seu país. A opção pela pacificação política permitiu que militares liderados por Anastásio Somoza Garcia empreendessem o assassinato do líder revolucionário e instalassem um governo ditatorial alinhado aos interesses norte-americanos. Entre as décadas de 1930 e 1970, a família Somoza controlou os ditames da vida política nicaraguense.

Contudo, em 1961, um novo movimento guerrilheiro foi formado com o objetivo de acabar com a ingerência estrangeira e a opressão ditatorial. A partir da reunião de líderes, como Tomás Borge, Carlos Fonseca e Carlos Mayorga, fundou-se a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Seus partidários passaram a formar sindicatos, abrir escolas de alfabetização e organizar focos em favor do seu projeto de natureza socialista.

No início de 1978, uma guerra civil tomou conta do país após a morte do jornalista Pedro Joaquín Chamorro, que participava ativamente contra a ditadura da família Somoza. Por meio de batalhas contra as forças governistas, a FSLN conseguiu dominar o Palácio Nacional de Manágua, na capital do país. Chegando ao poder por meio da formação da Direção Nacional da Frente Sandinista de Libertação Nacional, o novo governo representado por Daniel Ortega prometeu dar fim às mazelas que tomavam o país.

No plano político interno, os sandinistas promoveram uma aproximação com as nações do bloco socialista. Além disso, prometiam um amplo processo de desapropriação em que o Estado controlaria as terras e as demais forças produtivas do país. O projeto radical oferecido pelos sandinistas acabou não só incomodando os interesses do bloco capitalista, bem como de porções heterogêneas da população

nicaraguense. Dessa maneira, a partir de 1981, formou-se uma ação contrarrevolucionária no país.

Os oponentes do governo sandinista, popularmente conhecidos como “Contras”, tiveram o apoio financeiro dos Estados Unidos e de membros da alta cúpula católica do país. Durante toda a década de 1980, o governo sandinista enfrentou uma grave crise econômica que ampliou as forças oposicionistas e colocou a Nicarágua à beira do caos. Em 1990, a crise acabou configurando uma derrota eleitoral dos sandinistas e a eleição de Violeta Chamorro.

Somente após uma sequência de governos de tendência neoliberal e conservadora, os sandinistas se fortaleceram politicamente com as permanências dos problemas que afligiam a população. Em 2007, Daniel Ortega voltou à presidência com um discurso político moderado e com o apoio declarado dos norte-americanos. Hoje, o histórico líder da revolução de 1979 tem de enfrentar o atraso tecnológico, a inflação, o desemprego e a dívida externa que corroem a Nicarágua.

Por Rainer Sousa 

 

Questão 1 

Analise com atenção as afirmações abaixo.

I- As elites das nações emergentes da América Central receberam apoio dos Estados Unidos e, dessa forma, ficaram sob sua influência direta entre os séculos XIX e XX.

II- Sandino, líder camponês nicaraguense na década de 1920, recebeu apoio estadunidense para derrubar a ditadura da família Somoza, então sob influência direta da Revolução Russa.

III- Os movimentos guerrilheiros organizados por Sandino, entre as décadas de 1920 e 1930, conseguiram expulsar as tropas norte-americanas da Nicarágua. No entanto, com a pacificação, Sandino foi assassinado e a família Somoza ascendeu ao poder e a Nicarágua voltou a ficar sob influência dos Estados Unidos.

IV- A Frente Sandinista de Libertação Nacional, movimento guerrilheiro que surgiu no início da década de 1960, lutou contra a ditadura de Somoza – assim como contra a influência estadunidense na Nicarágua – e teve como base um projeto socialista.

V- No final da década de 1970, a FSLN conseguiu derrubar a família Somoza do poder e constituiu um governo que passou a ter como representante o sandinista Daniel Ortega.

VI- Durante a década de 1980, o governo chefiado por Ortega aproximou a Nicarágua dos países socialistas e criou o movimento dos “contras”, que foram assim chamados por se colocarem contra a reação do governo norte-americano ao novo regime.

VII- Em 1990, os sandinistas foram derrotados numa eleição para presidente e Daniel Ortega deixou o poder. No entanto, 17 anos depois, uma nova eleição ocorreu e Ortega voltou à Presidência da Nicarágua – mantendo-se no poder até hoje.

 

(texto 2, excerto 1 El País, 14 de julho de 2018) 

351 mortos: o que está acontecendo na Nicarágua do esquerdista Daniel Ortega 

País vive o pior banho de sangue desde a guerra civil. Protestos contra o Governo já deixaram um saldo de 351 mortos

 

 

A Nicarágua terminou a semana mergulhada em uma nova onda de protestos contra o governo de Daniel Ortega. Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para pedir a destituição do ex-guerrilheiro sandinista, que décadas atrás lutou para acabar com a ditadura da família Somoza, apoiada pelos Estados Unidos, e agora é acusado de querer se perpetuar no poder. O país está mergulhado em sua pior crise política desde o final da guerra civil, em 1990. A repressão praticada pelo Governo de esquerda a manifestações contra seu mandato já deixou, desde 19 de abril deste ano, um saldo de 351 mortos – sendo 306 civis e 22 menores de 17 anos. Os dados da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPHD) também apontam que 261 pessoas estão, neste momento, desaparecidas ou sequestradas. Ortega nega as acusações e afirma que os protestos são uma cortina de fumaça para as intenções da direita, que quer tirá-lo do poder.

A onda de protestos começou no final de abril, quando multidões começaram a tomar as ruas contra as reformas impostas por decreto pelo sandinista para a Previdência Social. Eles se opunham à mudança que reduzia as aposentadorias em 5% e aumentava as contribuições das empresas e dos trabalhadores para resgatar o Instituto Nicaraguense de Seguridade Social (INSS). Após três dias de dura repressão aos atos, dez pessoas já haviam sido mortas pelas forças militares, policiais e paramilitares (grupos irregulares armados que defendem o Governo).

Ao longo dos dias, os protestos não davam sinais de que iriam recuar. E se juntavam ao descontentamento de nicaraguenses da região do Caribe, onde milhares de camponeses se opõem ao Governo por conta da entrega da concessão, ao empresário chinês Wang Jing, da construção um Canal Interoceânico* – um projeto visto como ameaça a milhares de famílias da região. Igreja e empresários se juntaram aos pedidos da população e exigiam a revogação da reforma.

 

*A construção na Nicarágua de um polêmico novo canal como o do Panamá, entre os oceanos Pacífico e Atlântico, deve fortalecer economicamente e geopoliticamente a China. 

Estima-se que o projeto, o maior da história da Nicarágua e um dos maiores da América Latina, terá um custo de US40 bilhões (cerca de R 85 bilhões), aproximadamente quatro vezes o PIB nicaraguense. 

O projeto, porém, vinha enfrentando críticas de deputados da oposição nicaraguense, que temem os efeitos que ele terá sobre a população indígena do país e também sobre o Lago Nicarágua. 

Embora o governo chinês não esteja participando oficialmente da obra, a expectativa é de que não só o país seja beneficiado por ela como também seus parceiros comerciais. 

Analistas acreditam que um canal deste tipo poderia beneficiar a China da mesma forma que o Canal do Panamá beneficiou os Estados Unidos no início do século 20. 

(fonte: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/06/130614_canal_nicaragua_fl) 

 

(Mapa do projeto de construção do Canal Interoceânico) 

 

Questão 2 

Relacione as informações do excerto acima (excerto 1, texto 2) com as do mapa e assinale a alternativa ERRADA.

a) Daniel Ortega, que participou da FSLN e contribuiu para destituir a ditadura de Somoza, agora é acusado de querer se perpetuar no poder.

b) Os protestos contra o governo da Nicarágua começaram em abril e eram contra o projeto de reforma no sistema previdenciário daquele país.

c) Ao longo do tempo, juntaram-se aos manifestantes os camponeses da região do Caribe, que se sentem ameaçados pelo projeto de construção de um canal ligando o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico.

d) A construção do Canal Interoceânico, encampada por um empresário da China, pode beneficiar aquele país – assim como o Canal do Panamá beneficiou os Estados Unidos no começo do século XX.

e) Daniel Ortega acusa a esquerda e seus antigos aliados sandinistas de tentarem um golpe de Estado para instaurar na Nicarágua um governo populista de tipo bolivariano.

 

(texto 2, excerto 2 – El País, 14 de julho de 2018) 

 

Presidente Daniel Ortega

 

Em 22 de abril, após cinco dias de intensos atos, Ortega finalmente voltou atrás e cancelou a Reforma da Previdência. Ao menos 41 pessoas haviam morrido, segundo os dados da época do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos. Mas os protestos não recuaram. A forte repressão gerou um imenso mal-estar e desencadeou novas ações, que exigiam a paz no país e o fim do regime sandinista. Em 29 de abril, centenas de milhares de pessoas foram às ruas convocados pela Igreja. Ao lado dos bispos, marcharam feministas, homossexuais, familiares dos assassinados na repressão contra os manifestantes e milhares de camponeses.

Em 13 de maio, confrontos na cidade de Masaya, que começaram no bairro indígena de Monimbó, voltaram a levantar o terror da repressão. Moradores relatavam que os grupos paramilitares estavam armados com fuzis Kalashnikov e disparavam impunemente, apesar da presença da polícia. Em Manágua, capital do país, estudantes se entrincheiravam na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua e na Universidade Politécnica, mesmo depois de terem sido atacados por forças do Governo, num saldo de 2 mortos e pelo menos 16 feridos. A cifra de mortos já passava de 50.

Mais dispersos, os protestos continuaram. Até esta nova onda de protestos mais recente, em 10 de julho, Ortega intensificou a repressão e ao menos 17 pessoas morreram em 24 horas no país. Dois dias depois, o país mergulhou em novos protestos de grande magnitude. E a conta de mortos já atingia 365 pessoas, segundo Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPHD).

Ortega afirma que não deixará o poder e acusa os políticos de direita de orquestrarem os protestos para retirá-lo do poder. Para ele, os protestos contra seu Governo são um sinal de que “o demônio está mostrando as unhas”. O esquerdista, por sua vez, é acusado pelos seus opositores de querer se perpetuar no poder a qualquer custo. Ele está há 11 anos à frente do país, ao lado de sua mulher, que é vice-presidente. Sua última vitória, em 2016, foi contestada pela oposição, que a acusou de fraudulenta. Mas Ortega soube se segurar ao poder por meio de alianças pragmáticas. Aproximou-se da Igreja ao encampar políticas “pró-família”, como leis rigorosas contra o aborto. E organizou uma agenda pró-mercado, para aproximar o empresariado. “Uma sofisticada estratégia — alimentada até recentemente pela farta ajuda econômica da Venezuela — que deixou a oposição dividida e desorganizada”, analisa Oliver Stuenkel, professor adjunto de Relações Internacionais na FGV em São Paulo.

Com o aumento da repressão, as forças que se aglutinaram a seu favor foram se rompendo ao longo do caminho. Ele recebeu sinais claros da Igreja de que deveria deixar o poder. Mesmo sinal que recebeu do empresariado. A Organização dos Estados Americanos (OEA) apoiou nesta semana um documento crítico à repressão no país em que se afirma que estão sendo cometidas “práticas de terror, com detenções em massa e assassinatos”, conforme adiantou o jornal Folha de S.Paulo. A ação se soma a um pedido feito no início deste mês pelo alto-comissário das Nações Unidas para os direitos humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, para que o país ponha fim à violência e desmobilize os indivíduos armados pró-Governo. E também a sanções unilaterais já impostas pelos Estados Unidos. Novas sanções poderiam ser um peso muito grande para o país, de economia frágil e altamente dependente de uma Venezuela em crise.

Em razão da repressão brutal que seu governo vem realizando, os manifestantes vêm comparando Ortega com os ditadores da família Somoza.

(Dados a respeito da repressão na Nicarágua) 

 

 

Questão 3 

Relacione as informações dos dois excertos acima (excertos 1 e 2, do texto 2) com as dos gráficos e analise as afirmações abaixo.

I- Daniel Ortega está no poder há 11 anos e a oposição questionou a lisura das eleições de 2016 – em que ele foi reeleito presidente. De lá para cá, no entanto, ele se

sustentou no poder graças a alianças pragmáticas que lhe deram o apoio do empresariado e de setores da Igreja.

II- A onda de protestos que tem varrido a Nicarágua nos últimos meses já deixou 350 mortos e mais de 260 pessoas desaparecidas ou sequestradas. Por isso, os manifestantes vêm comparando o governo de Ortega com os da família Somoza – antes da Revolução Sandinista.

III- Ao invés de conter os protestos, a onda de repressões promovida pelo governo da Nicarágua desencadeou novas manifestações, que foram engrossadas por feministas, membros do clero, homossexuais e camponeses.

IV- As repressões do governo obrigaram os manifestantes a criar grupos paramilitares que atuam na luta contra as forças legalistas, sobretudo na cidade de Masaya (reduto de governistas que apoiam Ortega e querem acabar com os protestos na Nicarágua).

V- A onda de protestos na Nicarágua fez com que os aliados ocasionais de Daniel Ortega cerrassem fileiras em seu favor. Eles temem o avanço de pautas progressistas e, em apoio ao governo, contam com a aprovação da OEA.


Autor: Professor Eduardo Gramani Hipolide

Neste blog, o Professor Eduardo traz à baila assuntos com alta probabilidade de cair nos ENEM, principais vestibulares e concursos públicos, sendo que, desde 2014, vem esmiuçando as tendências dos principais meios de notícia impressa para trazer, “de mão beijada” as questões de atualidades dos próximos certames, bem como possíveis temas de redação.

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